Imagem ilustrativa da imagem Circo Funcart se desmancha com dança
| Foto: Fotos: Ricardo Chicarelli
Circo Funcart , parcialmente desmontado, foi o cenário perfeito para um espetáculo de despedida que aborda o "fim do mundo" a partir de embates contemporâneos: buyilling, homofobia e intolerância religiosa



Após construir uma história de amor e cumplicidade com a cultura londrinense que já dura 20 anos, o Circo Funcart está se despedindo da cidade. Palco de espetáculos memoráveis que recebeu artistas locais das mais variadas vertentes e algumas das companhias de dança e teatro mais importantes do mundo, o circo sairá de cena em breve, mas não abandonará seu legado. A velha e danificada lona será desmontada para dar lugar a um novo e inovador teatro de contêineres.

"No ano passado, a gente iniciou uma campanha coletiva para revitalizar o circo. No entanto, chegamos à conclusão de que a reforma teria um prazo de vida útil muito curta, já que uma lona nova dura uma média de apenas cinco anos e continuaríamos enfrentando problemas em relação a técnicas de segurança, como o risco de incêndio. Então resolvemos dar uma repaginada geral e investir nesse novo projeto", explica o diretor de Dança da Funcart, Leonardo Ramos.

Novo espetáculo do Ballet de Londrina, ainda em fase de gestação, é impactante como outros trabalhos de Leonardo Ramos
Novo espetáculo do Ballet de Londrina, ainda em fase de gestação, é impactante como outros trabalhos de Leonardo Ramos



Segundo ele, a nova proposta traz um conceito de arquitetura sustentável e moderna. "A ideia é construir uma sala de espetáculos com capacidade para até 300 lugares na plateia, cem a mais do que temos hoje. E do lado de fora criar um jardim que funcione como uma área de convivência e possa ser aproveitado pelas pessoas que desejam circular por aqui, ler um livro ou apenas passar o tempo. E do lado de dentro teremos um espaço mais amplo, seguro, confortável e acessível", enfatiza.

Ramos relata que a ideia do teatro de contêineres surgiu de forma inusitada. "Durante reuniões com representantes da secretaria municipal de Cultura e de Obras da Prefeitura e do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Ocas) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), alguém deu essa sugestão que na hora passou batida, mas acabou sendo reavaliada. Engraçado isso porque a proposta do Circo Funcart também teve surgiu de forma parecida. Em 1997, o Teatro Ouro Verde teve problemas no teto e teve que ficar fechado por um período de aproximadamente três anos. Diante da falta de palcos na cidade, acabei brincando que gostaria de ter um circo para me apresentar e essa piada acabou sendo levada adiante", diverte-se.

Imagem ilustrativa da imagem Circo Funcart se desmancha com dança



RENOVAÇÃO
A construção do teatro de contêineres está orçada em cerca de R$ 200 mil. Até o momento, a Funcart conseguiu levantar um montante de R$ 73 mil para a realização do projeto. "No final do ano passado promovemos uma ação entre amigos na qual seria sorteada uma moto Honda CG 125iFAN. A ganhadora da promoção acabou doando o prêmio para que a gente conseguisse aumentar a arrecadação. Agendamos um novo sorteio para o dia primeiro de julho e as pessoas que colaborarem com R$ 10 estarão concorrendo à moto. Interessados podem aderir à campanha por meio do telefone da Funcart (43) 3342-2362. As pessoas físicas também colaborar cedendo para a gente notas fiscais sem a inclusão de CPF. Além disso vamos buscar patrocínio junto ao patronato local", informa Ramos.

A demolição do circo foi iniciada no mês de janeiro deste ano e deve ser concluída dentro de algumas semanas. A direção da Funcart estima que até o mês de outubro o teatro de contêineres esteja pronto.

Leonardo Ramos despede-se do Circo Funcart com dança e planeja um teatro de contêineres promovendo a sustentabilidade com arte
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NOVO ESPETÁCULO É UMA ORAÇÃO
A história de encenações do Circo Funcart teve seu episódio final na manhã da última quinta-feira (25). O cenário caótico da demolição do espaço cultural foi usada como cenário para um ensaio aberto à imprensa e convidados do mais novo espetáculo do Balé de Londrina. "Uma Oração pelo Fim do Mundo", é o título da 26ª montagem do premiado grupo londrinense. "Esse é o espetáculo mais pessoal e denso que já criei. É um recorte de várias fases da minha vida e um retrato da minha descrença na humanidade, que tem comprovado ser o único animal irracional do planeta. Estou levando para o palco temas atuais que reforçam essa minha visão como guerras, bullying, homofobia, feminicídio e intolerância religiosa", salienta Leonardo Ramos, diretor do Ballet de Londrina.

Ainda em fase de "gestação", o novo espetáculo marca o rompimento de Ramos com o estilo que se tornou sua marca registrada. "Acabei desenvolvendo uma técnica de dança horizontalizada, mas desta vez coloquei os bailarinos para dançar mais em pé. Acho que o artista não pode se acomodar. A gente tem que correr riscos o tempo todo", diz o diretor.

Segundo ele o espetáculo deve estar pronto dentro algumas semanas. "Ainda estou fazendo alguns ajustes. Estou naquela fase em que consegui passar a emoção para a pele dos bailarinos, mas ainda vamos alcançar o osso. É um trabalho intenso em que determinados momentos os bailarinos se portam como atores. São 14 bailarinos em cena e respeitar as diferenças de idade, crenças e técnicas é um grande desafio", conclui Ramos ao informar que ainda não há data prevista para a estreia do espetáculo.