Quando Andy Warhol afirmou que todos teriam direito a quinze minutos de fama, a tecnologia ainda nem arranhava o que temos hoje. Em Polaroids, as pessoas faziam seus instantâneos, que depois evoluíram para vídeos caseiros compartilhados pela família de ''artistas''. Ao fazer esta afirmação, Warhol, de certa forma, ampliava as relações da pop art da qual é um símbolo. Ao mesmo tempo em que colocava celebridades em latas de sopa, imaginava anônimos em outdoors, porque o mundo já andava acelerado no compasso midiático que expõe a tudo e a todos.
Mais de 40 anos depois da frase de Warhol, nos deparamos com nova realidade que chega a chocar pela transposição do real para o virtual, do privado para o público. Hoje todos os anônimos podem estar em rede, uma rede de rostos que nunca vimos cara a cara mas que conhecemos como se fossem velhos amigos, aqueles mesmos com quem batemos papo todas as manhãs, pregados na telinha. Às vezes nem sei se abro os olhos ou ligo primeiro o computador, me confundo com os ''botões'' de abrir e fechar, meu hábito se reproduz igualzinho em milhares de amigos virtuais que também se ligam ou se desligam do dia via internet.
O lado bom da tecnologia é este acesso fácil ao contato, à comunicação, ao compartilhamento de nossas ideias. Acho uma maravilha e estou longe de demonizar a internet como o ''mal do século''. Pensem: o diabo já foi o pai do rock, o diabo já foi o pai da televisão, agora é pai dos computadores que, na verdade, apenas repercutem nosso bem e nosso mal eternos.
O que não gosto em rede é o excesso de exposição, um mundo de celebridades espontâneas que, acreditam, têm que te informar sobre tudo o que fazem, se comeram, o que comeram, se estão fazendo regime. Mais, você tem que saber se o cachorrinho delas tomou banho, se o periquito morreu, se o marido arranjou outra, se o filho quer enviá-la a um spa para mantê-la à distância. Ah! Quantos enredos paralelos. Mais que isso, quanta exposição de intimidades, como um reality show que entra na sua casa num clique e, mesmo que você não queira, está no seu mural se você não tomar o cuidado de informar: ''Epa! Este é o meu quintal, por favor, não pule a cerca com sua cesta de piquenique!'' A invasão da privacidade é hoje um escândalo e todo mundo se acomodou a ela, como personagens de um Watergate onde somos todos cúmplices do réu. Sem que você queira, o voyeur entra na sua casa, entra a polícia, entra o ladrão, entra o político corrupto, entra a Mulher-Melancia, a Xuxa de cabelos castanhos e a filha da Xuxa ensinando à sua filha como ser periguete num curso à distância.
Nem Andy Wahrol poderia imaginar que nossos quinze minutos de fama chegariam tão longe, se estenderiam por 365 dias por ano, até chegar o Natal quando todos nós, celebridades, vamos desejar votos de alegria e paz nos lares onde antigamente só Papai Noel entrava pela chaminé e mesmo assim sabíamos que era uma ficção. Hoje não, não se sabe mais o que é real e o que é virtual. As coisas se confundem de um jeito que acabamos achando que somos um fake de nós mesmos. E vou até ali e já volto para gozar de, pelo menos, uns vinte minutos de fama.

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