Quem vê de fora, imagina que Londrina virou a capital brasileira do blues - afinal de contas, não é qualquer cidade que sedia dois festivais do gênero na mesma época do ano.
Um mês depois do bar Valentino cativar o público durante uma semana com shows de artistas nacionais e até internacionais - como Donny Nichilo e Deitra Farr (ambos de Chicago-EUA) - agora é a vez do Menina Bar abrir seu palco para o velho ritmo empoeirado americano.
De hoje a sábado, a casa promove a segunda edição do ''B.B. King Blues Festival'', que contará com a participação de nomes como os paulistanos Val Tomato, Duca Belintani e Dadá Cyrino, além do gaúcho Gambona.
O nome do festival foi criado em homenagem ao legendário guitarrista B.B. King (que, aliás, inicia no dia 29 deste mês uma nova turnê no Brasil). As próprias datas do festival não foram definidas ao acaso, mas escolhidas para coincidir com a semana em que o músico comemora seu 87º aniversário (ele nasceu em 16 de setembro de 1925).
''O evento tomou uma grande proporção. No ano passado, na primeira edição, tivemos dois dias de festival. Agora escalamos 12 atrações para quatro noites de shows'', diz o proprietário Márcio Lobo. O cantor londrinense Ivo Pessoa abre a programação hoje, às 22h30, acompanhado pela banda Mescalha. O show será um tributo ao cantor, compositor e guitarrista carioca Celso Blues Boy, pioneiro do blues nacional que morreu no mês passado, aos 56 anos, vítima de câncer na garganta.
''A gente se conheceu há uns cinco anos em Canela (RS) e nos tornamos amigos'', conta o londrinense. ''Eu morava no Rio de Janeiro e ele em Joinville (SC), mas sempre nos comunicávamos. Participei de shows dele no Canecão e no Circo Voador (ambas casas de shows cariocas). Tínhamos a intenção de gravar um disco de inéditas juntos e outro de releituras de artistas como Nat King Cole, Freddie King e Beatles. Eu também queria fazer um show-tributo a ele, um tributo com a pessoa presente. Quando lhe contei sobre minha ideia, ele brincou e disse: 'Esse negócio de tributo dá azar'. Depois tomamos rumos diferentes: eu voltei para Londrina e ele gravou com a banda Detonautas.''
O repertório do show traz um pouco desse universo musical apreciado pelos dois músicos. O empresário e produtor de Celso Blues Boy, Marcello Penedo, faz uma participação especial contando algumas histórias sobre o amigo. O festival prossegue amanhã com shows das bandas locais Honey Bee Blues, Gangue do Ganso, Luke De Held Trio, além da banda Vinil Vintage, de Apucarana (PR).
Na sexta-feira, será a vez de Duca Belintani (São Paulo), Gambona (Porto Alegre-RS) e Brownsound Vintage Rock Co. (local). Belintani é guitarrista e produtor musical. Com 25 anos de carreira, possui vários CDs instrumentais gravados. Realiza workshops em todo o Brasil demonstrando seu trabalho, seus métodos, produtos e marcas que representa. Foi colunista das revistas Acústico e Cover Guitarra, além de professor do Sesc e da Secretaria de Cultura de São Paulo.
O gaúcho Gambona esteve na primeira edição do festival. Guitarrista, violonista, cantor e compositor, atua na cena musical de Porto Alegre desde anos 80 integrando bandas de blues, rock, folk, pop e instrumental. Morou nos Estados Unidos, Portugal e Espanha. Possui dois CDs gravados, ambos com músicas próprias. Influenciado por bandas dos anos 60 e 70, vem a Londrina para lançar seu terceiro CD solo, intitulado ''Longe de qualquer lugar''.
No sábado, último dia do evento, o palco recebe quatro atrações de fora: Dadá Cyrino (São Paulo), Val Tomato (São Paulo), Retrovisor (Apucarana-PR) e Luciano Blues (Maringá-PR). A cantora Dadá Cyrino é uma das raras vozes femininas do blues nacional. Dona de voz rouca, quente e suave, é uma das mais aguardadas pelo público.
Val Tomato, por sua vez, é bem conhecido dos londrinenses. Fez shows na cidade em 2008 e 2009, além de ter participado da primeira edição do festival. Considerado um dos maiores gaitistas da atualidade, tocou em Recife (PE) num show do lendário Willi ''Big Eyes'' Smith, que foi baterista de Muddy Waters durante 18 anos.
Outro destaque de seu currículo foi a participação no festival ''Sesc'n' Blues'', ocorrido em Ribeirão Preto (SP), em 2005, quando deu uma canja no show de Billy Branch, um bluesman de Chicago (EUA). Nascido nas margens lamacentas do rio Mississipi, o blues vai estabelecendo raízes na terra vermelha do Norte do Paraná.