O personagem Elis Regina, a eterna pimentinha, é tão forte quanto à obra deixada pela cantora tecnicamente perfeita e emocionalmente conturbada. Retratar com precisão uma persona tão intensa e perturbadora não é tarefa fácil. Após anos pesquisando a vida da intérprete para escrever a biografia da gaúcha que estremeceu o País, o jornalista e crítico musical Julio Maria acabou se apaixonando por sua biografa. E não a reconheceu no filme "Elis" dirigido pelo cineasta Hugo Prata.

"A Elis era muito intensa em tudo e estava sempre no céu ou no inferno. Ela desconhecia a linearidade presente na personagem vivida pela atriz Andréia Horta. E isso nem é culpa da atriz, mas faltou mais dramaticidade em cena", critica Julio Maria, que lançou "Elis Regina – Nada Será Como Antes" no ano passado e esteve em Londrina, cidade onde seu pai reside, para divulgar o livro.

Após ter entrevistado 120 pessoas que conviveram com a cantora para produzir sua biografia, Julio admite que seria impossível resumir uma trajetória tão marcante. "Seria impossível contar tantos fatos em apenas duas horas de filme. Mas o que incomoda não é a falta de dados biográficos, mas realmente mostrar os altos e baixos de Elis, suas inseguranças, sua força, seus antagonismos", argumenta.

Apesar das críticas em relação à falta de dramaticidade da personagem principal do filme, Julio destaca a importância de mostrar a um público mais jovem a história daquela que continua sendo uma das cantoras mais importantes do Brasil mesmo tendo saído de cena há mais de três décadas. "É sensacional que se fale de Elis a essas novas gerações. O filme ajuda a dar um fôlego novo à rica história da vida dela, assim como um musical sobre a vida de Elis que rodou o País com grande sucesso recentemente", afirma.

Julio teve a oportunidade de testar o poder de Elis após tornar-se um dos biógrafos da cantora. "Mesmo havendo outras biografias dela no mercado, 'Elis Regina - Nada Será Como Antes' já vendeu mais de 40 mil exemplares e está na sua quarta reimpressão. Mesmo tendo lançado o livro há quase dois anos, ainda hoje sou convidado frequentemente para falar sobre ele. É nítido que existe um interessante muito grande do público pela vida e obra da cantora", enfatiza.