Quando estamos escrevendo um texto, tentamos sempre passar as ideias com clareza e expressividade, ou seja, transmitir as informações de forma a não deixar dúvidas sobre o que queremos dizer, da maneira mais completa possível.
A clareza vem da correta organização das informações, a fim de evitar ambiguidades ou qualquer tipo de confusão. Já com relação à expressividade, que é a capacidade de expressarmos realmente tudo o que queremos passar em um texto, depende, principalmente, da escolha das palavras utilizadas.
Por exemplo: se você diz que "tal pessoa é linda", está sendo claro na informação que quer passar, mas se disser que ela é "linda como uma flor", a qualidade da pessoa (ser linda) é intensificada, ou seja, você conseguiu uma maior expressividade. Da mesma forma, dizer que "a sala está um forno" é uma frase muito mais expressiva que simplesmente "a sala está quente", ainda que as duas tragam a mesma informação.
Nos dois casos, utilizamos um recurso muito comum em língua portuguesa: figuras de linguagem. Especificamente, duas delas: a comparação e a metáfora. Ambas consistem no uso de uma palavra ou expressão fora de seu conceito habitual. Não estamos nos referindo a uma flor nem a um forno propriamente dito, mas sim a algumas características desses objetos, que relacionamos à pessoa e à sala, respectivamente.
Na comparação, essa relação é estabelecida através do uso de um conectivo: "como", "tal qual", "igual a", etc. Já a metáfora não utiliza esses conectivos. É um tipo de comparação mais direta, implícita, ou, como dizem certos professores, uma comparação abreviada.
Na prática, é fácil diferenciar uma da outra:
"Meu primo é forte como um touro!" – Trata-se de uma comparação, evidenciada pela presença do conectivo "como".
"Meu primo é um touro!" – É uma metáfora, já que não usa nenhum conectivo para demonstrar a semelhança entre o primo e o touro.
As figuras de linguagem, de um modo geral, são muito frequentes em textos literários, como poesias e letras de música. Na hora de interpretar o que o autor quis dizer ao utilizar uma delas, é necessário atentar para qual relação ele pretendeu estabelecer entre os elementos citados.
Por exemplo, quando Vinícius de Moraes, em seu Soneto de Fidelidade, afirma que o amor é uma "chama", num claro exemplo de metáfora, temos que pensar nas possíveis características de uma chama que poderiam ser associadas ao amor. No caso do poema citado, o próprio Vinícius nos ajuda a entender:
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Como ele mesmo afirma, o amor não é imortal (como qualquer chama uma hora se apaga), mas é "infinito" (intenso), enquanto dura, também como o fogo é forte, intenso.
Em alguns casos, a mesma metáfora (ou comparação) pode ser usada por vários autores, em contextos distintos, devido a sua grande expressividade. No caso do exemplo citado acima, Vinícius de Moraes comparou o amor a uma chama, como já havia feito o poeta português Luís Vaz de Camões quatro séculos antes, ao afirmar que o "amor é fogo que arde sem se ver".
É bastante provável que você conheça muitos outros exemplos de comparação e de metáfora, inclusive no seu dia a dia, como quando diz que um problema "é um abacaxi" (metáfora) ou que Fulano é "burro como uma porta" (comparação). Sendo assim, vamos propor um pequeno exercício: comece a prestar atenção e, quando notar a ocorrência de uma dessas figuras, tente interpretá-la, identificar qual a semelhança entre os elementos associados. No caso do abacaxi, por exemplo, é provável que os espinhos da fruta sejam os responsáveis pela relação com um problema. Você também pode fazer esse exercício com um poema de que goste ou com as letras de suas músicas favoritas.
Se tiver alguma dúvida, mande um e-mail.
Até a próxima Terça!

FLAVIANO LOPES - PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL

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