Complete a frase: "Antes de morrer eu quero...". Essa foi a proposta escrita no muro da escola por alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Vicente Rijo de Londrina (região Central), integrantes do projeto "Arte e Intervenção Urbana", realizado em conjunto com nove estagiários do curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Londrina (UEL), dentro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).
A ação criativa chamou à atenção dos demais alunos da escola, bem como de quem passa pelo local, que fica numa das esquinas mais movimentadas e visadas da cidade. Com um giz, o objetivo é que as pessoas reflitam e escrevam o que vem à mente. O resultado foram frases de todos os tipos, desde "mais respeito pela educação", "ver minha mãe curada do câncer", "ter um filho" e "viajar pelo mundo".
A intervenção artística partiu de uma ideia já realizada no ano passado em outro colégio de Londrina, mas com algumas modificações. Segundo a supervisora do projeto e professora de Artes do colégio, Camila Fujita Abrahão, a ação é uma releitura do projeto "Before I die I want to", da artista Candy Chang, que depois de perder um amigo próximo por uma doença, começou a pensar como gostaria de viver seus dias. Para difundir sua inquietação, decidiu convidar outras pessoas para também dividirem seus pensamentos em um muro de uma casa abandonada em Nova Orleans, Estados Unidos. "O que começou como um experimento em espaço público se tornou um projeto em todo o mundo", conta Camila. Estima-se que mais de 400 paredes tenham sido pintadas desde então em cerca de 60 países.
Todo o material foi disponibilizado pelos recursos vindos do programa que, de acordo com a professora, permite que os alunos possam sair da sala de aula e ir além do papel e formato bidimensional. "No dia a dia da aula, é mais difícil realizarmos ações como estruturas, maquetes, tridimensional, instalações, seja pela questão da falta de espaço e material. Essa experiência possibilitou que eles participassem de todo o processo, da escolha coletiva do tema da ação a colocar a mão na massa. Eles rasparam e pintaram todo o muro", relata.
Apesar de promover um interessante intercâmbio entre estagiários e alunos, levando até a sala de aula novas metodologias, ela atenta que o Pibid pode ser extinto, já que o Governo Federal pretende cortar o repasse de recursos.

Conscientização

Todo o processo, obviamente, além de trabalhoso, foi divertido. Mas e o resultado, que, dentre vários fatores, era o de promover a reflexão? Para a professora, inicialmente, muitos alunos – principalmente aqueles que não participaram da ação – não entenderam ao certo o objetivo da intervenção, mas, em conversas de sensibilização com algumas turmas, acredita que tenha sido alcançado. "Sabíamos que muitas frases com palavrões e besteiras iriam surgir. E realmente aconteceu. Porém, depois de conversar com eles, acredito que houve conscientização, pois eles identificaram o que, realmente, era uma forma de expressão ou somente chamar a atenção e, então, apagaram do muro. Motivei-os para que fossem disseminadores da ideia."
A participação foi maciça e surpreendente; logo depois de pintado, o muro já recebia inúmeras frases. "As pessoas querem se expressar, seja como for. Faltam oportunidades", atesta.
Para a professora, talvez o mais importante tenha sido as pessoas pararem um minuto, gerando um momento de cumplicidade consigo mesmo. "Quando você registra uma vontade, um pensamento, se compromete com aquilo, como numa espécie de documento. Se for um sonho, começa a ver como possível e, a partir de então, pensar em como viabilizá-lo."
Ações do tipo, para ela, são importantes não só por extrapolar os limites da sala de aula, mas, sobretudo, para que os alunos e a comunidade em geral se apropriem do patrimônio público. "Isso aqui é de todos; a escola é de todos. Assim, não deixam que seja depredada", diz.
E de tão certo que deu, os alunos do programa vão, agora, realizar outra atividade nas paredes do ginásio da escola. "A Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) vai doar material para mais essa intervenção. Dessa vez, faremos uma releitura dos livros "Jardim Secreto" e "Floresta Encantada", que viraram febre este ano", adianta Camila.
Além disso, o pessoal começa a se preparar para a exposição com todos os trabalhos desenvolvidos ao longo do Pibid que serão expostos junto com os trabalhos do Centro Municipal Infantil Valéria Veronesi e Instituto de Educação de Londrina (Ieel), também participantes do programa.