Seo Nelson: "Continuo tocando meu violão melhor que antes"
Seo Nelson: "Continuo tocando meu violão melhor que antes" | Foto: Anderson Coelho



Com o talento lapidado ao longos dos anos, artistas das mais variadas vertentes têm provado que, em muitos casos, a plenitude é o maior saldo trazido pela idade avançada. Apontada como a dama das artes plásticas brasileiras, Tomie Ohtake (1913-2015) continuou produzindo suas premiadas pinturas, gravuras e esculturas mesmo após completar um século de vida. Em 2014, quando se apresentou em Londrina, o sambista Nelson Sargento deixou a plateia boquiaberta com o poder de sua voz e vitalidade aos 90. A atriz Fernanda Montenegro continua reinando soberana nos palcos e nas telas onde dá shows de interpretação aos 87.

No mês em que se comemora o Dia do Idoso, celebrado no último dia 1º, Londrina também tem representantes de peso quando o assunto é vitalidade. Quem tem o prazer de ouvir Nelson José da Silva, o Seo Nelson, dedilhando seu violão com maestria e interpretando por horas clássicos do samba fica surpreso com seu entusiasmo. "Normalmente, toco por três horas seguidas. Meus filhos costumam brincar comigo dizendo que sou o único artista que anuncia a saideira e ainda toca umas sete músicas antes de encerrar a apresentação. Faço isso porque amo cantar e tocar, não sinto o peso do tempo", argumenta.

Até o que poderia ser um empecilho, Seo Nelson tira de letra, ou melhor, de ouvido. "Perdi a visão do olho esquerdo ainda na adolescência e estou quase cego do olho direito. Já passei por duas cirurgias de glaucoma e uma de catarata, por conta desse problema não consigo mais ler. Se tivesse aprendido música lendo partitura, provavelmente não poderia mais tocar, mas como aprendi a tocar de ouvido, continuo tocando meu violão melhor que antes", brinca.
Mineiro que veio morar em Londrina após passar alguns anos em São Paulo, o músico afirma não ter percebido o efeito da idade sobre sua voz. "Continuo cantando nos mesmos tons. Acho que a principal mudança que ouve foi em relação ao público. Já cheguei a tocar em grandes casas de São Paulo, como no hotel Maksoud Plaza, onde fui surpreendido por Djavan quando acabava de tocar uma música dele, Flor de Lis. Ele disse ter gostado muito da minha interpretação. Mas esse foi um caso à parte, pois muitas plateias ignoram o artista que está tocando. Já aqui em Londrina tenho um grande público formado por universitários, que ficam sempre muito atentos ao show, cantam junto comigo e pedem músicas antigas que nem imagino que eles conheçam. Isso tudo é muito bom", afirma Seo Nelson que tem agendado para o próximo dia 30, às 16 horas, na Vila Cultural Alma Brasil (R. Mar Del Plata, 93) .

Carmen Mattos começou a fazer teatro aos 68 anos e não parou mais: "Deixei o medo de lado e embarquei feliz na vida"
Carmen Mattos começou a fazer teatro aos 68 anos e não parou mais: "Deixei o medo de lado e embarquei feliz na vida" | Foto: Gustavo Carneiro



VOANDO ALTO
Quando se aposentou como secretária no final dos anos 1990, a paulista Maria do Carmo Lopes de Mattos, imaginava levar uma vida pacata ao lado da filha jornalista que morava em Londrina. No entanto, seus planos mudaram quando ela recebeu um convite para participar do grupo de teatro Casa das Fases. "Era um grupo formado por idosos e o diretor da companhia me convidou para ensaiar uma peça. Eu nunca havia pensado em ser atriz, mas acabei aceitando o desafio e me apaixonei pelo teatro aos 68 anos de idade", lembra.

Ao subir no palco para dar vida a uma das personagens de uma adaptação londrinense a tragédia grega "Antígona", dona Carmem, como é conhecida no meio artístico, descobriu um novo mundo. "O teatro abre a cabeça da gente e nos faz ver a vida de uma forma completamente diferente, mais ampla. Descobri que cada novo dia é um presente de Deus e merece ser encarado como uma maravilha", enfatiza.

A carreira tardia de atriz apresentou, literalmente, outros mundos à dona Carmem. "Nosso grupo de teatro foi convidado para se apresentar em Londres, Noruega, Suécia e Dinamarca. Sempre tive muito medo de viajar de avião, mas o amor ao teatro é tão grande que resolvei deixar o medo de lado e embarquei feliz da vida", relata.

Depois de se apresentar no Festival de Dança deste ano, dona Carmem atualmente se prepara para encenar um novo desafio. "O grupo Casa das Fases acabou, mas continuo estudando teatro na escola Primeiros Passos e estamos nos preparando para uma nova peça que ainda não tem nome definido e vai estrear em novembro. O teatro é como o ar que respiro, não consigo mais viver longe da arte", enfatiza.