No filme, Riddley Scott presta um tributo ao artista suíço Hans Ruedi Giger que deu formas tenebrosas ao Alien e morreu em 2014
No filme, Riddley Scott presta um tributo ao artista suíço Hans Ruedi Giger que deu formas tenebrosas ao Alien e morreu em 2014 | Foto: Reprodução



Aqueles que há cinco anos torceram o nariz e/ou ficaram à deriva em busca de explicações diante de "Prometheus", o recado agora do diretor Ridley Scott: "Alien: Covenant", em lançamento mundial, rebaixou o tom metafísico e aumentou a carga física do filme anterior. Durante esses cinco anos, foi tomando corpo e sentido uma das decisões mais arriscadas na carreira de Scott (80 anos em novembro). Voltar à ficção-científica depois de uma eternidade fazendo filmes nos quais a presença de Russell Crowe era sintoma de repetição? Competir na indústria somente na condição de sólido veterano num mercado de blockbusters que apenas respeita os milhões da bilheteria do primeiro fim de semana? Ou indagar sobre as origens de sua criatura mais querida e mais temida? Tudo isso ele tinha sob controle, mas o que foi mesmo muito complicado para explicar foi por que não apareceu a palavra "Alien" no título do filme anunciado como "a prequela de Alien".

Coerência, a palavra chave. "Prometheus" era parte de uma cronologia definida, estava situado 30 anos antes do encontro entre a tenente Ripley e seu primeiro monstro.

Foi como se Scott quisesse construir ali uma espécie de Antigo Testamento da saga, com Gênesis e Êxodo e Revelações e tudo mais que "divinizasse" as origens. Feito isso, e tendo como efeito a confusão maior dos fãs da franquia, Scott se viu desimpedido para reaproximar-se no tempo e no espaço do Alien primitivo. O resultado é o filme mais esteticista e gótico da história da série, este que estreia agora. Menos alienante e mais alien que "Prometheus", em "Covenant" o discurso divino sobre a criação continua tendo muito peso. Mas o mais árduo e pesado já foi dito, e assim seria natural que a via da ação fosse agora recuperada, embora ainda encontremos frases solenes – praticamente todas as que Michael Fassbender pronuncia – que servem como embalagens sofisticadas para o grafismo da violência espacial. Os diálogos entre Walter e David (Fassbender fazendo ambos) parecem gravados em pedra e não saídos de um computador.

Riddley Scott: ‘Alien’ é o filme mais esteticista e gótico da história da série
Riddley Scott: ‘Alien’ é o filme mais esteticista e gótico da história da série



Por isso mesmo, o melhor deste filme se encontra em seu castelo tenebroso e em suas catacumbas, ali onde aguardam a necrofilia romântica, a obsessão personificada neste Fassbender que se converte na alma de "Covenant". Extremamente perturbado, a vilania do androide (que poderia migrar sem problemas para o cenário igualmente futurista de "Blade Runner") o transforma em anjo e demônio que aspira a converter-se, como diria Mary Shelley, no moderno Prometeu.
Não é, obviamente, um grande filme. A debilidade de seu elenco-astronauta é flagrante: incompreensível a escolha de Katherine Waterson para compor a antecessora de Ripley, de antemão medíocre em "Animais Fantásticos e Onde se Escondem". E os demais a seguem. Neste sentido, a encarnação da epopeia observada em "Prometheus" está distante. Mas ainda assim o brio de Scott, seu sentido soberbo de filmar o belo e inocular na plateia o vírus do medo deixa as coisas num patamar de aceitação. É evidente também o tributo que o diretor presta ao suíço Hans Ruedi Giger (seus desenhos e croquis aparecem rapidamente em cena do filme) morto em 2014, o artista plástico que deu formas tenebrosas à criatura Alien.