O guitarrista Larry Carlton ouviu Abraham Laboriel tocando e setenciou: ‘‘Esse baixista nunca vai tocar comigo porque ele não tem nenhuma disciplina’’ - Carlton se referia à liberdade com que o músico manuseava o instrumento. Após algumas conversas ambos chegaram a um consenso, e desde então gravaram oito discos.
A carreira de Laboriel está cercada de episódios surpreendentes. Considerado um dos grandes expoentes do jazz e da música de louvor, o baixista atribui seu talento e criatividade a um dom divino. Abraham Laboriel está em Londrina ministrando um workshop no 2º Salmus - Seminário de Adoração, Louvor e Música - evento da Associação de Músicos Cristãos do Brasil que se encerra hoje no Espaço Esperança, na Avenida Celso Garcia Cid, 747.
Nascido no México, Laboriel começou a aprender violão com o pai. Mas, devido a um acidente ocorrido na infância, ele perdeu a ponta do indicador da mão esquerda. ‘‘Comecei com o violão, meu pai era cantor, ator e compositor, e me ensinou a tocar usando apenas três dedos da mão esquerda. Meu irmão se tornou um cantor de rock conhecido no México, passei a ouvir muita música e comecei a trabalhar linhas de baixo e acordes’’, comenta.
Aos 10 anos, o músico já se dedicava exclusivamente ao baixo. Com o tempo, passou a tocar com os quatro dedos. Após o colegial, Laboriel ganhou uma bolsa de estudos no conservatório de Boston, e depois mudou para o Berklee College, para estudar composição. ‘‘Comecei a ser convidado por muita gente para fazer gravações’’, explica.
Abraham Laboriel acompanhou astros do jazz e da música pop como Larry Carlton, George Benson, Ella Fitzgerald, Herbie Hancock, Al Jarreau, Joe Pass, Sara Vaughan, Michael Jackson, Madonna e Elton John, entre outros. O músico já gravou mais de 3.500 faixas e foi premiado pela Academia Nacional de Artes e Ciências dos Estados Unidos quatro vezes como o melhor baixista do mundo.
A religiosidade do músico vem de longa data. ‘‘Eu era um católico muito sério, mas minha vida era confusa. Por volta de 1976 entreguei minha vida a Jesus’’, ressalta. A fé também está presente na profissão: ‘‘Honestamente, quando tenho oportunidade de fazer música estou consciente de que isso é um dom de Deus. Quando sinto que Deus não é bem-vindo é muito difícil mostrar habilidade’’. Por volta de 1991, Laboriel passou a trabalhar com a gravadora Integrity’s Hosana Music, considerada uma das maiores gravadoras de música gospel.
Com a experiência acumulada em cerca de 30 anos de carreira, Abraham Laboriel evita elogiar compositores, ex-companheiros ou estilos musicais: ‘‘Música é um conceito muito subjetivo, acredito que a música acontece e, de vez em quando ela fica. Tenho uma sensibilidade muito pessoal. Mas, para citar um compositor, indico Johann Sebastian Bach’’.
Para o baixista, a cooperação é a base para o trabalho do músico profissional. ‘‘O compromisso é de ajudar e não de demonstrar as preferências pessoais de cada um. A isso se chama música profissional. Uma vez que encontramos a idéia, acho que podemos fazer algo muito melhor se todos os músicos estiverem de acordo. É a liberdade de ser generoso com o talento e o trabalho, eu não sou dono da criatividade’’, argumenta.
Abraham Laboriel se dedica também ao ensino do baixo, protagonizando vídeos com técnicas para principiantes e alunos avançados. ‘‘Venho fazendo seminários e sempre estou em contato com acadêmicos, mas não tenho nenhum método escrito’’, afirma.
Há quatro anos o instrumentista começou a ter um problema na mão esquerda, que estava perdendo a sensibilidade. Acostumado a usar baixos de braços largos, Laboriel se viu obrigado a encomendar instrumentos com braços finos, para facilitar a movimentação dos dedos. O recurso deu certo, e o baixista segue em uma carreira repleta de grandes momentos, sem se afastar das convicções religiosas. O 2º Salmus será realizado também em Fortaleza, entre os dias 16 e 18.