Samantha Abreu e Beatriz Bajo: poetas que integram o coletivo Versa buscam mais visibilidade para as mulheres na literatura
Samantha Abreu e Beatriz Bajo: poetas que integram o coletivo Versa buscam mais visibilidade para as mulheres na literatura | Foto: Marcos Zanutto



O sarau literário Versa e ConVersa é parte da programação da 36ªSemana Literária Sesc & Feira do Livro de Londrina e celebra a chegada da primavera. Ele acontece neste sábado (23), uma data importante para as mulheres escritoras que compõem o coletivo Versa. Dia 23 de abril de 2016, foi a data de nascimento do grupo. "A ideia surgiu com a Manuela Pérgola, escritora que hoje vive em São Paulo, a partir de algumas reuniões que a gente começou a fazer, primeiramente nomeadas como Café com Poesia", conta Samantha Abreu, escritora e uma das fundadoras do coletivo.
Segundo ela, a coisa surgiu mesmo "sem querer", por pura coincidência. "No início não era restrito a mulheres, mas acabou sendo pelas afinidades. Por a gente escrever, ser mulher, e termos uma visão da condição feminina, de autoria com 'voz' feminina. Quando nos demos conta, era um coletivo. Foi aí que decidimos nos reunir com mais frequência", relembra Abreu. Outro detalhe faz o dia ter ainda mais brilho para as mulheres que participam do grupo: na primavera de 2016, participaram pela primeira vez – como coletivo – de um evento literário de grande importância na cidade, o Londrix. "Foi um sucesso de público que a gente, sinceramente, não esperava. Lotou a sala e aí, no Londrix deste ano, edição de fevereiro, nos inscrevemos e novamente foi um sucesso."

Autoria feminina
Beatriz Bajo, escritora e integrante do grupo, diz que o coletivo traz à tona questões pertinentes, como o debate acerca da "Literatura Feminina X Literatura de Autoria Feminina". Além, é claro, da luta por mais visibilidade para as mulheres escritoras. "Quando eu chamo de literatura feminina eu estou dando gênero para um produto literário. Isso ninguém quer, a gente não quer. Literatura é literatura, tem que estar tudo misturado, sem rótulo." Abreu reforça a importância da discussão e explica: "É inegável que eu seja mulher e que, apesar disso, a minha experiência de vida vai ser diferente da Beatriz como mulher, e vai ser ainda mais diferente, em muitos aspectos, de um homem escrevendo. Mas, é importante dizer, que a nossa pretensão não é escrever como mulher para mulher, é simplesmente escrever."
A preocupação do grupo tem uma explicação social. A autoria feminina no Brasil passou pelos séculos XIX e XX sem conseguir alcançar reconhecimento e participar da história literária. Nas últimas décadas, no entanto, vêm crescendo os debates sociais, políticos e artísticos, acerca das lutas feministas. Os estudos têm buscado, por diversos meios, entender e encontrar as escritoras ausentes da historiografia literária. Projetos de pesquisa recuperam e reúnem obras. Como exemplo, pode-se citar o livro "Blasfêmeas: mulheres de palavra" (editora Casa Verde/ 2016). Organizado pela jornalista e poeta paranaense Marilia Kubota e pela professora de literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rita Lenira de Freitas Bittencourt, o livro reúne poemas de 64 mulheres que vêm publicando seus escritos a partir dos anos 1990 em livros, periódicos literários, sites e blogs. Importante citar a presença de duas autoras londrinenses na antologia: Karen Debértolis e Célia Musilli. "Mulher raramente deixa de escrever como mulher." É uma das frases que aparecem no livro como parte de um ensaio de Ana Cristina César. A maior parte dos poemas presentes são discursos de afirmação e denúncia social.

Poética de resistência
"As mulheres não estarem tão presentes em festivais e eventos relacionados à literatura, não significa que elas escrevam mal. Essa é a questão. A gente quer ser ajuizada com igualdade e deixar claro: 'Vocês não sabem que existe mulher escrevendo? Então vamos mostrar para vocês!'", levanta Beatriz Bajo. "É só vermos o reconhecimento do Leminski, que é considerado um gênio, e da Alice Ruiz, que apenas atualmente passou a ser vista e respeitada. Ela era poeta tanto quando ele, escrevia haicais da mesma forma. Mas, era conhecida como esposa do Leminski. Queremos apenas que o mesmo juízo de valor atribuído a uma obra literária X seja atribuído a Y", completa Abreu.
Além disso, Bajo ressalta que elas sentiram a necessidade de união por um segundo motivo: as dificuldades encontradas em produzir literatura em Londrina. "Eu acho que a música é muito mais forte aqui na cidade do que do que as outras manifestações culturais. No festival de literatura a gente nota que o público é sempre o mesmo. O evento é sempre o mesmo, coordenado pelas mesmas pessoas. Claro que vem um ou outro de fora, mas na maioria das vezes, permanece o mesmo círculo. A ideia é fazermos alguma coisa que movimente esse cenário", explica. "Começa pelo fato da cidade estar fora do eixo dos grandes centros e também por não ter realmente uma vida cultural literária efervescente."
Idealizadora da primeira editora do Paraná a seguir os caminhos literários do cartoneirismo – produção de livros de autores independentes com material reaproveitado e preço acessível - a Rubra Cartoneira, Bajo lançou, na quinta-feira (21), o livro "Sobre nossas línguas as carnes das palavras", uma das atrações que fizeram parte da 36ªSemana Literária Sesc & Feira do Livro.
Já o sarau que acontece neste sábado (23) vai reunir poemas produzidos pelas integrantes do Versa - Manuela Pérgola, Samantha Abreu, Vivian Campos, Beatriz Bajo, Flávia Verceze, Vivian Karina, Letícia Sanchez, Lua Lobo e Camila Sousa – e de quem mais quiser participar. Durante o encontro, o público é convidado a compartilhar seus textos e versos, seja fazendo a própria leitura ou anonimamente, deixando sua obra na instalação montada no Sesc Cadeião. A 36ªSemana Literária Sesc termina neste domingo (24), confira programação completa em www.sescpr.com.br/semanaliteraria/programacao/londrina/

SERVIÇO:
Sarau literário Versa e ConVersa
Data: Sábado (23)
Horário: 19h30
LOCAL: Sesc Cadeião Cultural (Rua Sergipe, nº52)