Gloria Perez: "Tratar de um personagem transgênero exigiu muito de todos nós, o segredo foi primeiro criar a empatia dele com o público"
Gloria Perez: "Tratar de um personagem transgênero exigiu muito de todos nós, o segredo foi primeiro criar a empatia dele com o público" | Foto: Globo/ Divulgação



Em entrevista, Gloria Perez sai em defesa de sua Bibi Poderosa (Juliana Paes), inspirada numa personagem real, e rebate as críticas à interpretação de Fiuk. "A Força do Querer" elevou os índices de audiência no horário das 9, coisa que não acontecia desde "Avenida Brasil".

Personagens femininas são sempre importantes na sua obra, mas houve, em "A Força do Querer", um rol grande de mulheres em destaque. Foi intencional?

Essa novela foi pensada para ter três protagonistas (Bibi, Jeiza e Ritinha), então elas tinham de ser muito fortes.

E o restante do elenco feminino foi crescendo pela interpretação das atrizes ou as personagens foram se desenvolvendo?

Com certeza. Quero dizer que a trama girou em torno de três personagens. E a Ritinha (Isis Valverde) era o eixo da história, é em torno dela que todas as outras histórias se formam. Quando começa a trama, tudo o que se desenrola é porque ela provoca essa cisão entre o Ruy (Fiuk) e o Zeca (Marco Pigossi). Geralmente, minhas novelas são protagonizadas por mulheres, é uma coisa minha mesmo.


Ao tratar de um personagem transgênero como Ivana/Ivan (Carol Duarte), a ideia era promover o debate. Como você viu a reação do público em geral?

O resultado foi surpreendente e maravilhoso, porque as pessoas realmente acolheram Ivana/Ivan. Óbvio que era uma personagem que exigia muitos cuidados. Não dependia apenas de eu construir muito bem a história, mas também de uma atriz que contasse para o público essa história, de uma direção, um figurino, uma caracterização. Exigiu muito de todos nós que isso fosse passado com verdade. E o segredo foi criar primeiro uma empatia dela com o público. Não é que ela chegou e disse 'sou trans, mamãe, sou um menino'. Não, busquei um ponto de partida que fosse comum a todas as pessoas, algo que todo mundo já tenha vivido em algum momento da vida.

Houve quem reclamasse que a personagem Bibi coloca em evidência uma ex-mulher de traficante que existiu na vida real.

Comprei o livro dela, queria fazer uma minissérie com esse livro. Não acho que seja dar cartaz a uma pessoa, até porque é um livro de uma pessoa que faz uma autocrítica. Achei interessante mostrar esse ponto de vista, que ainda não tinha sido mostrado. O deslumbramento que o tráfico, que esse universo exerce sobre pessoas, existem milhares de Bibis. Então, isso não me incomoda em nada, acho uma maneira pequena de enxergar as coisas. E acho que tem um pouco de machismo embutido nisso, porque vejo que as mesmas pessoas que querem a guilhotina para a Bibi me escreveram também pedindo para soltar o Sabiá (Jonathan Azevedo). O Sabiá é o chefe do tráfico, a Bibi não matou ninguém. E todos querem o Sabiá na rua e a Bibi presa?


Então, não existe assunto que não pode ser tratado, mas como ele vai ser tratado.

Acredito que sim, mas hoje estamos vivendo uma época em que tudo se polemiza. Você vê que até essa história da Bibi é polemizada. Amanhã, se você for fazer Lampião e Maria Bonita, vai aparecer quem diga que está fazendo elogio do cangaço. A gente vive essa época, todo mundo tem uma opinião e quer impor a opinião. Então, vão tentar criar polêmicas sempre.