Imagem ilustrativa da imagem PF prende Nuzman por suspeita de fraude na escolha do Rio para sediar Olimpíadas
| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil



A Polícia Federal prendeu hoje (5) o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o diretor-geral do Comitê Organizador Rio 2016, Leonardo Gryner. Os dois são investigados por envolvimento num suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

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De acordo com o Ministério Público Federal, a prisão temporária de Nuzman e Gryner é importante para permitir que o patrimônio seja bloqueado e para impedir que ambos continuem atuando, seja criminosamente, seja na interferência da produção probatória. Nuzman foi preso em casa, no Alto Leblon, zona sul do Rio.

Além dos mandados de prisão, foram cumpridos mandatos de busca e apreensão nas casas e empresas de Nuzman e Gryner e a quebra de sigilo telemático.

Segundo o MPF, nos últimos 10 dos 22 anos de presidência do COB, Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, sem indicação clara de seus rendimentos, além de manter parte de seu patrimônio oculto na Suíça.

Em razão das proporções mundiais do fato, o MPF requer, ainda, pelos danos morais causados, o bloqueio do patrimônio de Nuzman e Gryner em até R$ 1 bilhão.

A Operação Unfair Play foi resultado do trabalho conjunto de cooperação internacional entre os órgãos do Brasil, da França, da Antígua e Barbuda, dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Segundo o MPF, documentos e provas revelam que uma organização criminosa comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral comprou o voto do presidente da Federação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack, por US$ 2 milhões.

O pagamento pelos votos veio da empresa Matlock Capital Group, do empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, que teria repassado a propina que pagaria a Sérgio Cabral diretamente para o senegalês, em troca dos votos pela escolha da cidade-sede das Olimpíadas de 2016.

Nuzman e Gryner, considerado braço direito do presidente do COB, foram, segundo o MPF, figuras centrais no esquema, já que teriam sido os agentes responsáveis por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI. Eles serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Crescimento de 457% do patrimônio de Nuzman

O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, teve crescimento "exponencial" de seu patrimônio entre 2006 a 2016: 457%, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Só em 2014, o patrimônio de Nuzman dobrou, com um acréscimo de R$ 4,2 milhões. Os bens de Nuzman incluem 16 barras de ouro, depositadas em um cofre na Suíça, segundo denúncia dos procuradores federais à Justiça. O cartola foi preso nesta quinta-feira, pela Polícia Federal, na Operação Unfair Play - Segundo Tempo.

De acordo com o MPF, "chama a atenção o fato de que, desse valor, R$ 3.851.490,00 são decorrentes de ações de companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal." As informações foram obtidas com a quebra do sigilo fiscal do presidente do COB. O MPF destaca ainda que as declarações de Imposto de Renda de Nuzman não registram a sua remuneração recebida do COB ou do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016.

"Por outro lado, Nuzman justifica a origem de seu patrimônio a partir do recebimento de valores de pessoas físicas e do exterior. Contudo não há explicações sobre quem efetivamente lhe remunerou. Não há indicação de empresas ou de CPFs que permitiriam a real constatação da origem (e legitimidade) dos recursos que formam seu patrimônio", afirma o MPF.

Os procuradores alertam que a situação é agravada com a retificação da declaração do Imposto de Renda realizada poucos dias após a deflagração da Operação Unfair Play. Na ocasião, Nuzman foi intimado a comparecer na Polícia Federal. Também foram realizadas buscas e apreensões em sua residência e empresas.

"Com efeito, Carlos Nuzman mantinha recursos ocultos no exterior e somente os declarou à Receita Federal por meio de retificação da DIRPF na data de 20/09/2017, ou seja, após a deflagração da Operação Unfair Play. Ciente das apreensões realizadas em sua residência, inclusive de informações e elementos que levariam ao conhecimento de tais bens no exterior, Carlos Nuzman tentou regularizar sua situação", disse a denúncia.

Um dos objetos apreendidos pela equipe da Lava Jato foi uma chave que os procuradores desconfiam que pode corresponder a um cofre do presidente do COB na Suíça. Ela estava guardada junto a cartões de visita de agentes que trabalham com "serviço de locação". "Sabendo dessa apreensão, Nuzman tentou adiantar-se para evitar que as barras de ouro possivelmente depositadas no aludido cofre fossem descobertas pelas investigações. Segundo o MPF, Nuzman teria feito retificações em sua declaração para incluir valores em dinheiro vivo, bem como as barras de ouro de 1kg cada.

O jornal O Estado de S. Paulo ainda não conseguiu contato com a defesa do ex-presidente do COB, para que comente a denúncia.