"Eu falei que ele seria o astro da festa", recorda o zagueiro Diego, que mostrou o álbum do seu casamento com a presença do amigo Danilo
"Eu falei que ele seria o astro da festa", recorda o zagueiro Diego, que mostrou o álbum do seu casamento com a presença do amigo Danilo | Foto: Gina Mardones



Cianorte – Quase 600 quilômetros separam as cidades de Cianorte, no Noroeste do Paraná, e Chapecó, no Oeste catarinense. Mas, a tragédia com o avião da Chapecoense com 71 mortes aproximou os municípios no momento da dor. Enquanto os torcedores choram na Arena Condá, amigos e familiares das vítimas que passaram pelo time do Cianorte, também derramam as lágrimas com as lembranças que ficam na hora da despedida.

Entre os jogadores que vestiram a camisa do Leão do Vale estão Danilo, Tiaguinho e o zagueiro Neto, um dos sobreviventes da tragédia. Além disso, o clube foi dirigido pelo técnico Caio Júnior, quando a equipe venceu o Corinthians pela Copa do Brasil em 2005 com um histórico 3 a 0, em Maringá, placar revertido pelo Timão no jogo de volta. Futuro ídolo do Londrina e da Chapecoense, o jovem goleiro Danilo fazia parte daquele elenco e era reserva do titular Adir Kist.

O atual zagueiro do Cianorte, Diego Moura Cabral, 32 anos, relata que trabalhou com Caio Júnior entre 2004 e 2005, com Danilo entre 2001 e 2009 e com Neto entre 2008 e 2009 e jogaria o Campeonato Paranaense com Aílton Canela, outra vítima da queda do avião, que iria reforçar o Leão do Vale no Estadual."No Cianorte, a gente trabalha com uma estrutura de boa qualidade e sempre teve união. Acredito que esse clima também estava presente na Chapecoense", comentou.

Diego mostrou o seu álbum de casamento em que Danilo e o técnico do LEC, Cláudio Tencati, aparecem como convidados. "Eu falei que ele seria o astro da festa, pois o Danilo já estava famoso. Todo mundo queria tirar fotos com ele", relembra.
Cabral relata que ficou sabendo do acidente pelo WhatsApp. "Eu acordei e tinha várias mensagens. No começo, achei que fosse alguma brincadeira, mas depois vi que era sério. Fiquei aliviado quando falaram que o Danilo tinha sido resgatado com vida e fui treinar, mas depois falaram que ele não tinha sobrevivido", lamenta.



Além de perder o amigo, ele ainda viveu a agonia das notícias desencontradas que chegavam da Colômbia. "Quando veio a resposta definitiva de que ele tinha morrido eu estava na casa dos pais dele. Foi às 14h45", ressaltando que a notícia foi dada à mãe do goleiro na sua frente. "O Danilo era um amigo e irmão. A gente estava até organizando um churrasco para o dia 10, data em que ele viria para a cidade, com o pessoal que conviveu junto na equipe de base".
Sobre Neto, ele afirma que está na torcida pela sua recuperação. Quando a reportagem chegou à casa de Diego, o televisor estava ligado para acompanhar as notícias do acidente. A memória mais forte da convivência de Diego com Caio Júnior foi justamente a partida entre Cianorte e Corinthians. "Eu me recordo que o treinador dizia que aquele seria o jogo de nossa vida e que era para darmos tudo da gente. Ele dizia que a vitória garantiria a todos nós um lugar ao sol", conta. De acordo com ele, aquela equipe ainda ficaria entre os primeiros colocados no campeonato estadual. "Na concentração, eu dividia o quarto com o goleiro Adir e com o Danilo".

A cozinheira Luzinete de Oliveira Santos, 52 anos, era responsável pela alimentação das equipes da base e sentiu bastante quando soube da queda do avião com a equipe da Chapecoense. "Eu e meu marido assistimos a partida da Chapecoense contra o San Lorenzo e ficamos felizes com a classificação para a final da Copa Sul-Americana. Mas, a gente não podia imaginar que iria acontecer uma coisa dessas", afirma. Ela lembra que quando a cozinha do clube estava fechada, técnicos e atletas buscavam a comida na casa dela. "O Caio Júnior era uma boa pessoa. O Danilo é um filho que a gente perdeu. A gente convivia com ele todos os dias: café da manhã, almoço e janta", recorda.