"Ganhar ou perder, mas sempre com democracia", dizia a faixa do bicampeão paulista, que tinha em campo os craques Sócrates, Casagrande e Wladimir
"Ganhar ou perder, mas sempre com democracia", dizia a faixa do bicampeão paulista, que tinha em campo os craques Sócrates, Casagrande e Wladimir | Foto: Antonio Lúcio/Agência Estado/14-12-1983



O Brasil ainda vivia sob a ditadura do regime militar, mas o País já dava sinais da abertura política e o iminente processo democrático atingiu o futebol, em 1981. O surgimento da "Democracia Corintiana" foi um movimento ideológico único entre os clubes do Brasil e marcou uma das gerações mais vitoriosas e carismáticas do Corinthians.
Liderada por nomes como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, o movimento tinha no seu cerne a autogestão do futebol do Timão, algo inédito até então. Todas as decisões importantes como contratações, regras de concentração, direito ao consumo de bebidas alcoólicas em público e liberdade para expressar opiniões políticas eram feitas através do voto igualitário de jogadores, membros da comissão técnica, funcionários e dirigentes.
O movimento tinha o aval da direção alvinegra e um dos grandes entusiastas da "Democracia Corintiana" era o sociólogo Adilson Monteiro Alves, escolhido pelo presidente Waldemar Pires como diretor de futebol. A Democracia levou o Corinthians a ser o primeiro clube brasileiro a utilizar publicidade nas camisas e o clube não hesitou em estampar frases de cunho político como "Diretas Já" e "Eu quero votar para presidente".
A Democracia trouxe também grandes resultados dentro de campo. Após uma péssima campanha no Brasileiro e no Paulista de 1981, o Timão foi semifinalista brasileiro em 1982 e bicampeão estadual (1982 e 1983). A autogestão conseguiu zerar as dívidas do clube e deixou dinheiro em caixa para a próxima administração.
O movimento, como qualquer democracia, não era unânime entre os próprios jogadores. Nomes como os goleiros Emerson Leão e Rafael Cammarota criticavam a nova administração alegando que a Democracia era boa apenas para os líderes, enquanto os demais apenas batiam palmas e não tinham poder de decisão.
O movimento perdeu força a partir de 1984, quando começou a articulação para a criação do Clube dos 13, onde a figura do presidente era essencial. Dentro de campo, o time teve desempenhos ruins em 1984 e 1985. O golpe final na Democracia foi a saída do seu principal articulador. Sócrates trocava o Parque São Jorge pela Fiorentina, da Itália, onde jogaria apenas uma temporada. (L.F.C.)