O futebol pragmático, burocrático, de resultados invadiu o futebol brasileiro. Não são só os jogos da seleção nacional ou os do Brasileirão que refletem essa nova realidade da terra das jogadas plásticas, dos dribles e dos gols. A prioridade é não tomar gols, depois, se der, fazer. A ordem vem desde as categorias de base. Mas um dos clubes formadores de atletas do Paraná pensa diferente. Também pudera. A inspiração no treinamento vem de uma seleção que apesar de não ter conquistado títulos, marcou época. É inspirado no futebol holandês da geração de Johan Cruyff e Cia. que o Laranja Mecânica tenta lançar novos atletas com uma mentalidade de épocas passadas, onde o futebol não era ''business''.
Desde 2007, três investidores holandeses fundaram o Esporte Clube Laranja Mecânica, um clube de futebol que conta com as categorias mirim, infantil e juvenil, sediado em Arapongas: Ari Tresffeus, Wim Jansen Jr. - cujo pai participou das duas seleções holandesas vice-campeãs mundiais - e Marco Plomp, ex-centroavante do Sparta Rotterdam.
Este último é quem toma conta da ''embaixada holandesa'' e explica o principal ponto de diferença entre o método praticado no Laranja, e o dos concorrentes. ''Em nosso clube, o resultado das partidas não é o mais importante, o fundamental é que o jogador atinja a categoria profissional. É assim que se trabalha na Holanda'', observou. ''O treinador trabalha para revelar atletas para a categoria acima da sua até chegar ao nível profissional. Só um time vai ser campeão e isso não pode atrapalhar o trabalho. Então, o nosso título é revelar o jogador''.
Amante do futebol bem jogado e ofensivo, Plomp reprova o atual método brasileiro. ''Aqui, o treinador não escolhe os melhores, escolhe os mais fortes para conseguir ganhar. Na Holanda, não dá para treinar duas vezes ao dia por causa do clima. Aqui treina, só que a base aqui é ruim e, às vezes, com 14 anos já se perdeu o jogador. Lá, os treinadores são didaticamente avançados e os clubes tem paciência'', analisou o dirigente, que sonha em descobrir um novo Ronaldinho Gaúcho.
Com esta filosofia, os treinadores tiveram que se adaptar ao estilo de trabalhar e não se queixam. As equipes do Laranja Mecânica são todas dirigidas por brasileiros, que são obrigados a escalarem seus times no 4-3-3, marca registrada das seleções holandesas. ''Essa filosofia me agrada muito'', contou o técnico Fabinho, do time infantil, que fez recentemente um estágio no Braga, de Portugal, e no Feyenoord, da Holanda. ''É muito diferente, pois privilegiam a parte técnica, valorizam a técnica do menino. Trabalhamos com um campo reduzido, para que eles tenham mais contato com a bola em menor espaço, obrigando-os à raciocinar mais rápido'', descreveu.
Zé Roberto, que já comandou equipes da base de Portuguesa, Londrina e Junior Team, resume bem essa diferença de trabalho. ''Nós (brasileiros) perdemos a essência da formação do jogador. Estamos tentando resgatar isso com uma pitada europeia'', disse.