No ano passado, foram registrados 349 mil óbitos no Brasil decorrentes de doenças cardiovasculares. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que, a cada ano, 17,3 milhões de pessoas morrem em todo o mundo de problemas do coração.

De acordo com a cardiologista Fátima Dumas Cintra, doutora em ciências pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a principal causa de morte súbita em atletas de alto rendimento é a doença da artéria coronária – infarto agudo do miocárdio – e, em atletas mais jovens, abaixo dos 30 anos, a maioria está relacionada a problemas congênitos, como a cardiomiopatia hipertrófica.

"Por isso é fundamental a avaliação de pré participação médica, com o objetivo de verificar se o indivíduo apresenta alguma condição de risco na prática da atividade física. A Itália é líder mundial neste tipo de normativa e por isso não registra casos de cardiomiopatia. No Brasil, hoje, também é bastante difundido."

Ascensão
Para uma grande parcela da população brasileira, o futebol continua sendo uma grande oportunidade de ascensão social e de mudança de padrão de vida não só para o futuro jogador, mas para a família toda. E esta necessidade de vencer na vida se torna um empecilho até mesmo quando está em jogo viver ou morrer. "Para alguns atletas, é um divisor de águas e eles acabam insistindo na prática competitiva mesmo com restrições. A morte de um atleta é sempre muito traumática, já que trata-se de um jovem, em plena atividade física e em uma fase produtiva muito alta", aponta Cintra.

A morte de atletas muito jovens ou ainda adolescentes também choca. Para Ivan Pacheco, especialista em medicina do esporte e diretor da SBMEE, há uma exigência muito maior hoje na prática esportiva e isso pode levar a problemas. Mas o médico reconhece que a maioria dos casos é decorrente de anomalias hereditárias ou congênitas e que poderia ser evitada.

"Um simples questionário, sobre se ele já teve falta de ar quando corre, casos de infarto na família, palpitação quando corre, poderia ser o pontapé inicial para uma investigação mais aprofundada", aponta. "Uma arritmia, por exemplo, pode não se manisfestar em um esporte lúdico, mas quando aumenta a exigência, sim. O coração pode estar bom para uma caminhada a seis, sete quilômetros (por hora), mas não para uma corrida a 20 quilômetros, e isso pode acabar em morte súbita." (L.F.C.)