Imagem ilustrativa da imagem Capita eterno
| Foto: Estadão Conteúdo
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| Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo



O beijo na taça foi apenas um dos legados deixados por Carlos Alberto Torres. O gesto inédito ao levantar a Jules Rimet após a conquista do tricampeonato mundial com a seleção no México, em 1970, seria copiado por todos os demais capitães do mundo inteiro a partir dali. Mas Torres foi mais do que um líder dentro de campo. Foi "capita" por inteiro. O respeito que impôs entre os companheiros de time e seus adversários não veio pela braçadeira, que lhe caía muito bem, mas pela bola que jogava.
Jogava tanto o Carlos Alberto Torres que foi eleito o melhor lateral-direito da história. Além de ajudar o escrete de 70 a levar o tri, marcando um gol antológico na final contra a Itália, foi campeão também pelo Santos (Taça Brasil de 1965, Rio-São Paulo de 1966, Roberto Gomes Pedrosa de 1968, Paulistas de 65, 67, 68, 69 e 73, entre outros títulos), Fluminense (Estaduais de 1964, 75 e 76) e Cosmos de Nova York (campeonato nacional de 1977, 78, 80 e 82).
Incrível imaginar que o cara que foi tão coração nos times que defendeu, incluindo também Botafogo, Flamengo e California Surf, partiu por causa de um coração em ataque. Torres sofreu um infarto fulminante na manhã de ontem, em sua casa, no Rio, aos 72 anos, enquanto fazia palavras cruzadas. Chegou a ser levado por familiares a um hospital na zona oeste, mas não resistiu. No céu, certamente o "Capita" reencontrará, se é que já não reencontrou, Félix e Everaldo, companheiros de tri.
A notícia da morte do ex-lateral correu o mundo. Choraram os amigos daqui, choraram os amigos de lá. Pelé e Franz Beckenbauer, por exemplo. O maior de todos os tempos e o maior entre os alemães sentiram o baque. Ambos colegas de Torres no estelar time do Cosmos. "Fico triste com a morte do meu amigo irmão Carlos Alberto, nosso querido 'Capita', lembrando dos tempos que estivemos juntos no Santos, na seleção brasileira e no New York Cosmos (EUA), formando uma parceria vencedora", disse o Rei. "Estamos profundamente chocados. Carlos Alberto era como um irmão para mim, um dos meus melhores amigos", afirmou o Kaiser.

Histórias do Tri
A morte do ex-lateral trouxe à tona histórias saborosas dos bastidores do Tri. Clodoaldo, que tinha em Torres quase que um "padrinho" no futebol, conta que o Capita teve papel fundamental no jogo contra o Uruguai, pela semifinal da Copa do Mundo do México. Após o primeiro gol dos uruguaios, pediu que Gérson, que sofria uma marcação individual, ficasse mais recuado e liberasse Clodoaldo para atacar.
No final do primeiro tempo, Clodoaldo recebeu dentro da grande área e finalizou cruzado para empatar o jogo. No segundo tempo, Jairzinho e Rivelino marcaram os outros gols. "Ele conversou com o Gérson e com o Zagallo, e decidiram por essa mudança, que foi essencial para vencermos o Uruguai", relembra Clodoaldo.
Anos mais tarde, Torres elegeu o jogo contra a Inglaterra o mais difícil daquela Copa. A então campeã mundial tinha gente do quilate de Bobby Charlton, Bobby Moore, Geoff Hurst e Gordon Banks. No primeiro tempo, a disputa era intensa e, em uma jogada na área do Brasil, o goleiro Félix fez uma ótima defesa e, na sequência, foi atingido no rosto, não intencionalmente, por Francis Lee. "Eu chamei o Pelé e falei: 'Pelé, tem que dar uma nesse cara aí pra ele sossegar'. E o Pelé: 'Deixa comigo, deixa comigo'."
Mas o capitão do Brasil se antecipou e tratou de dar o troco no inglês. Deu forte, cometendo uma falta escandalosa, mas o árbitro israelense Abraham Klein relevou e não mostrou nem o cartão amarelo. Para o Brasil, lembrava Torres, o lance foi um divisor na partida, a segunda do time na Copa. "A partir dali eles sossegaram." A seleção ganhou de 1 a 0, gol de Jairzinho. A CBF decretou luto oficial de três dias pela morte do Capita, que teve o corpo velado na sede da entidade, no Rio. O corpo será sepultado hoje. (Com Folhapress)