Martinho Roberto de Souza Junior atua como cuidador em domicílio: "Muitas empresas de home care estão surgindo porque as pessoas não têm mais tempo de cuidar dos idosos"
Martinho Roberto de Souza Junior atua como cuidador em domicílio: "Muitas empresas de home care estão surgindo porque as pessoas não têm mais tempo de cuidar dos idosos" | Foto: Ricardo Chicarelli


O envelhecimento da população é uma das poucas certezas que a sociedade tem hoje a respeito do futuro. Já está acontecendo e deve se intensificar ao longo das próximas décadas. Um estudo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que o número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil deve triplicar até 2050, chegando a representar 30% da população. Boa parte dessa população idosa vai precisar de pequenos cuidados domésticos e isso faz da profissão de cuidador uma grande promessa.
Ligado ao aumento da expectativa de vida dos brasileiros, existe ainda outra mudança social que alavanca o serviço de cuidados aos idosos. Se antes cada casal tinha vários filhos que se revezavam nos cuidados com os pais, hoje, além de menos filhos, os herdeiros trabalham fora e mantêm suas atividades até uma idade mais avançada do que era costume em décadas passadas. "Eu cuidei por muito tempo do meu pai, que teve derrame, depois do meu marido, que ficou 11 meses acamado. Acabei pegando amor por isso. Hoje, cuido de uma senhora viúva de 78 anos porque a filha dela precisa trabalhar", conta a cuidadora Maria Vidotto.
Como em qualquer serviço prestado, também do cuidador de idosos é exigido cada vez mais profissionalismo. Na Londrilife, empresa especializada em cuidados a domicílio, é preciso ter o curso de cuidador ou, pelo menos, experiência comprovada em carteira para ser contratado. "Quando é um idoso que precisa só de ajuda para levantar, tomar banho, basta ter o curso de cuidador ou experiência prática. Para casos que envolvem pós-operatório ou sonda, aspiração, medicamento, temos técnicos e auxiliares de enfermagem", explica um dos proprietários da empresa, Martinho Roberto de Souza Junior.
Segundo ele, o serviço tem tido muita procura e é um segmento do mercado que tem crescido em Londrina. "Muitas empresas de home care estão surgindo na cidade porque as pessoas não têm mais tempo de cuidar dos idosos. Até alguns planos de saúde têm fechado convênio com esse tipo de empresa porque os clientes cobram a cobertura desse serviço", conta.

Curso
Em Londrina, atualmente, o único curso encontrado pela reportagem da FOLHA é do centro de educação profissional Mater Ter Admirabilis, da Santa Casa. Uma opção gratuita que era oferecida pelo governo do Estado no Colégio de Aplicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) foi encerrada há dois anos. Apenas em colégios de São Sebastião da Amoreira, Toledo e Umuarama o curso continua sendo oferecido pelo Estado. O Senac Londrina tem a opção em seu rol de cursos, mas não tem turmas programadas no momento.
"A procura pelo curso tem crescido muito. De oito ou dez alunos que tínhamos nas primeiras turmas, passamos para 36, 42 alunos nas últimas turmas que formamos", compara a supervisora administrativa do Mater Ter Admirabilis, Cristina Ghelardi. Nesse caso, o curso tem carga horária de 56 horas, distribuídas em 14 dias, e tem novas turmas a cada três meses. "Para a próxima turma, já temos fila de espera", conta.
O curso, de acordo com Cristina, prepara o aluno para prestar assistência ao idoso com uma visão ampla das necessidades deles. "Trabalhamos desde a questão de medicamentos, higiene, primeiros socorros, prevenção de acidentes até a legislação, o Estatuto do Idoso, a questão dos maus tratos, da violência contra o idoso", explica. O público que tem buscado por esse tipo de formação é bastante diversificado, segundo ela. "São pessoas de 18 a 60 anos, homens e mulheres, alguns com Ensino Médio, outros com cursos técnicos na área da saúde", conta a supervisora.

Remuneração
Os cuidadores de idosos não possuem piso profissional, porque, apesar de reconhecida pelo Ministério do Trabalho, a atividade ainda não foi regulamentada. A regulamentação foi aprovada pela Câmara Federal há um ano, mas ainda aguarda a apreciação do Senado. Enquanto isso, a atividade é enquadrada na classe de trabalhadores domésticos, com o valor inicial de um salário mínimo.
Segundo levantamento da empresa de recrutamento e seleção Catho, o salário médio de um cuidador de idosos no Brasil é de R$ 1.231,00. A pesquisa salarial do Sistema Nacional de Empregos (Sine) indica que o salário pode chegar a R$ 2,5 mil para profissionais experientes em grandes empresas do ramo.