O estudante universitário Gabriel Miatto fez curso de oratória: "Ficava bem nervoso em situações de teste, como apresentações de trabalho e entrevista de emprego"
O estudante universitário Gabriel Miatto fez curso de oratória: "Ficava bem nervoso em situações de teste, como apresentações de trabalho e entrevista de emprego" | Foto: Ricardo Chicarelli



Diante de um grande público, o discursador não conseguiu prosseguir com a fala e o texto então teve que ser lido por outra pessoa. Essa cena poderia ilustrar uma experiência vivida por muitas pessoas, mas ela diz respeito a um dos maiores líderes pacifistas, Mahatma Gandhi.

Abraham Lincoln também não era afeito a falar em público, embora tenha sido presidente dos Estados Unidos. O político, segundo algumas publicações, chegou até a recusar oportunidades de palestrar para multidões, antes de ocupar a presidência.

Se a ideia fosse elencar todas as celebridades que teme ou temia falar em público, a lista seria imensa, passando pelo Rei George VI, que foi representado pelo ator Colin Firth no filme "O Discurso do Rei" (2010), até o príncipe Harry.

Mas o objetivo é lembrar que a glossofobia, nome técnico para o medo de falar em público, pode ser de fato um complicador para o crescimento profissional e os relacionamentos interpessoais. E a boa notícia é que há soluções para este problema.

O professor de Oratória e Expressão Verbal em São Paulo, Reinaldo Passadori, diz que a estrutura da comunicação pode ser aprendida e desenvolvida por qualquer pessoa e que quanto mais cedo ela aprender isso, mais chances abre para si mesma.

Ele, que é CEO do Instituto Passadori, trabalha com o tema há mais de 30 anos e afirma que a oratória, definida no dicionário como "conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer", é hoje uma das principais ferramentas que o profissional moderno precisa ter e desenvolver.

"O ser humano é valorizado por aquilo que comunica e as pessoas realmente têm essa dificuldade. Trabalhamos muito com organizações, que nos procuram em situações pontuais, isto é, quando os colaboradores vão assumir novas funções, precisam compartilhar conhecimentos diante de um público, entre outros", comenta.

Segundo ele, o medo de falar em público pode provocar ansiedade, pânico, fobia social e comumente, tremedeira, gagueira, sudorese, dor de barriga, taquicardia, rigidez corporal, esquecimento e até a sensação de pré-desmaio.

Uma pesquisa do jornal inglês Sunday Times revelou que a glossofobia supera o medo da morte, de altura, de problemas financeiros, de doenças e de águas profundas.

As origens desse pavor podem ser as mais variadas, como por exemplo, tipo de educação recebida, falta de experiência, tentativas anteriores sem sucesso, falta de confiança etc.

Imagem ilustrativa da imagem Sem medo de falar em público



Construção
A jornalista Alloyse Boberg, diretora da DNA Comunicativo, em Londrina, estuda e trabalha com oratória há sete anos e revela que há um mito entre as pessoas de que o importante é apenas falar bem.

"Eu digo que se a pessoa tiver persuasão, não importa muito a maneira que ela fala. O que vale muito é a forma com que ela transmite a informação", sustenta. Até a década de 80 e início dos anos 90, Alloyse lembra que o falar corretamente, de maneira formal, criava uma boa impressão entre os receptores.

"Hoje, há os TED Talks (apresentações de especialistas de curta duração), que é uma ideia que ainda está chegando no Brasil, mas que ilustra uma mudança de paradigmas, onde o conteúdo é exposto de maneira simples, mas com um raciocínio muito bem construído", completa.

Para Alloyse, a oratória passa por a pessoa entender como ela pode criar um perfil comunicativo, em qualquer instância. "Para isso, é preciso se autoconhecer. Todo mundo passa nervoso, tem medo do público e o importante é se conhecer para poder administrar essa situação, nem que seja para dizer 'não estou confortável com essa situação'", conclui.

Alloyse promove cursos de oratória para profissionais, mas vem observando também uma demanda de universitários. Pensando nesse público, ela já está na segunda turma do ano. Quem passou por essa experiência foi Gabriel Strass Miatto, 22.

"Não sou tímido, mas ficava bem nervoso em situações de teste, como apresentações de trabalho e entrevista de emprego", conta o estudante de Relações Públicas e Recursos Humanos. Entre as duas graduações, Miatto ainda faz estágio em uma empresa de eventos.

Ele afirma que participar do curso teve uma motivação profissional. "Sei que para as duas áreas em que irei me formar, será imprescindível saber me comunicar. Uma questão levantada no curso e que fez todo o sentido para mim foi aprender a fazer um roteiro para me apresentar. Isso facilitou muito, além de ter praticado em frente às câmeras, o que ajudou a perder um pouco do medo", declara.

Habilidades em sala de aula
O professor de Oratória e Expressão Verbal, Reinaldo Passadori, está preparando um projeto para apoiar os jovens do Ensino Médio a desenvolverem habilidades de comunicação verbal.

A ideia, segundo ele, é fornecer às escolas um material impresso para os professores se apropriarem de conteúdos e atividades, para que os futuros profissionais aprendam a se comunicar melhor e falar com assertividade.

Em Londrina, essa prática já é uma realidade entre os alunos do Ensino Médio do Colégio Sesi Internacional. O diretor João Paulo Alves Silva explica que a metodologia é aplicada há 12 anos porque o foco da instituição é formar novos líderes para o mercado de trabalho.

"Por mais que a liderança seja inata, o aluno precisa ser lapidado. O colégio proporciona isso a cada trimestre, quando os estudantes trabalham em equipe, desempenhando diferentes papéis", aponta.

De acordo com o diretor, os alunos se revezam entre as funções de liderança, apresentação, escrita, pesquisa e cronograma. "Esse modelo está em evidência devido às necessidades atuais. Nós vemos o resultado, mas o próprio mercado de trabalho reconhece esses alunos com um diferencial, pois eles apresentam determinadas habilidades", cita. (E.G.)