"Concordo que o telemarketing, como é hoje, pode acabar, mas outras formas de atendimento estão surgindo", ressalta Ayla Ramos
"Concordo que o telemarketing, como é hoje, pode acabar, mas outras formas de atendimento estão surgindo", ressalta Ayla Ramos | Foto: Celso Pacheco



O avanço tecnológico tem levado o mercado de trabalho para mudanças cada vez mais drásticas e transformadoras. Depois de assumirem o trabalho braçal, na Revolução Industrial, as máquinas estão cada vez mais próximas de substituir o trabalho intelectual. Nos últimos anos, universidades, consultorias e especialistas lançaram previsões que apontam para a extinção de algumas profissões em uma ou duas décadas. Dentre elas, algumas que hoje representam importantes segmentos do mercado de trabalho, como operador de telemarketing e corretor de imóveis. Por outro lado, há quem acredite apenas na necessidade de adaptações dessas atividades às novas tecnologias.
Apesar de ter crescido mais de 200% nos últimos anos, segundo a Associação Brasileira de Telesserviços, e ter se tornado um dos maiores empregadores do Brasil, o serviço de telemarketing é uma das apostas mais frequentes nas listas de futuras extinções. Pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, analisaram estatisticamente 702 profissões dos Estados Unidos e concluíram que é de 99% as chances de que operadores de telemarketing deixem de ser úteis até 2034. O estudo levou em conta o quanto cada atividade exige de criatividade, interação social, percepção espacial e atividades manuais complexas, que seriam os pontos fracos das máquinas.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (Sinttel), João Henrique Schmidt, lamenta não encontrar muitos argumentos para duvidar das previsões de automação da atividade. "As empresas estão automatizando tudo. Na África, já existem sistemas substituindo os operadores de telemarketing. Temos muita preocupação com o futuro da profissão porque as previsões soam como possíveis", afirma.
Já a coordenadora de desenvolvimento e qualidade da Ask – empresa de call center da Sercomtel –, Ayla Ramos, vê as previsões com mais otimismo. "Concordo que o telemarketing, como é hoje, pode acabar, mas outras formas de atendimento estão surgindo", ressalta. Segundo ela, que atua no segmento há 12 anos, o avanço da tecnologia ao longo das gerações tem mudado o perfil do consumidor e a maneira com que ele se relaciona com as empresas. "A chamada Geração X gosta de telefone, prefere ligar, mas as novas gerações já preferem chats e aplicativos, porque fazem várias coisas ao mesmo tempo e não gostam de ficar esperando por atendimento", afirma. Por isso, para Ayla, o grande desafio do telemarketing, assim como outros segmentos do mercado, é acompanhar essa evolução e se adaptar a ela. "Quem trabalha com telefone hoje, precisa sair da zona de conforto", sugere.

OPERACIONAL

Em geral, as previsões mais pessimistas com relação ao avanço tecnológico estão relacionadas a profissões operacionais, como operador de caixa, analista de crédito, porteiros. Várias dessas previsões de mercado consideram a atividade de intermediar negócios imobiliários como fadada à extinção. Isso porque a facilidade das relações comerciais promovida pelo avanço tecnológico, vem desburocratizando esse mercado.
O presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina (Sincil), Marco Antônio Bacarin, discorda e acredita que as novas ferramentas tecnológicas devem facilitar a rotina do corretor de imóveis, mas nunca substituí-lo. "Na compra do imóvel, o cliente busca a realização de um sonho. Máquinas são frias e distantes. Para negociar, dar garantias, sempre vai ser necessária a presença de um corretor", pondera. Pesa, ainda, o fato de alguns Estados ter na legislação a obrigatoriedade da assinatura de um corretor na escritura do imóvel. "No Paraná, a lei está tramitando na Assembleia e deve entrar em vigor no próximo ano", conta Bacarin.

CAPACITAÇÃO

No artigo que apresenta os resultados do estudo de Oxford, os pesquisadores sugerem que, para evitar que a tecnologia incremente os índices de desemprego, será necessário investir em educação para desenvolver nas pessoas habilidades criativas e sociais, que ainda não são informatizáveis.
A coach Gislene Isquierdo acrescenta a isso a necessidade de que os profissionais, qualquer que seja o ramo, acompanhem a evolução da tecnologia. "Por mais que algumas tarefas sejam dominadas por máquinas, sempre vai ser necessário alguém que manipule essas máquinas. Assim, o profissional que conhecer a tecnologia sempre vai ter emprego", afirma.
Segundo ela, mesmo nas profissões que não são ameaçadas pela automação, a capacitação tecnológica é fundamental. "O profissional que quiser permanecer no mercado, precisa participar do universo digital. Na minha empresa, eu diminui o atendimento presencial porque a demanda on-line é maior", conta.