Dono de uma doceria no centro da cidade, Vitor Tsuji aprimorou a técnica em uma escola de cozinha e confeitaria no Japão como bolsista há seis anos
Dono de uma doceria no centro da cidade, Vitor Tsuji aprimorou a técnica em uma escola de cozinha e confeitaria no Japão como bolsista há seis anos | Foto: Roberto Custódio


Valorizar os detalhes, a disciplina e o treinamento sempre foram características marcantes na educação japonesa, e que agora vêm motivando muitos descendentes no Brasil a embarcarem rumo a essa vivência.

Um grande facilitador nesse processo são as bolsas de treinamento específico para estudantes e profissionais em diferentes campos de atuação. Essa é uma das ações da Japan Internacional Cooperation Agency (JICA), que desde 1971 oportunizou a participação de aproximadamente três mil bolsistas nikkeis (descendentes de japoneses).

Segundo a JICA no Brasil, essa participação se concentra mais nas regiões Sul e Sudeste do País, devido a grande concentração de nikkeis. Para se ter uma ideia, o Norte do Paraná, especialmente Londrina e região, abriga a segunda maior população de descendentes em território nacional. Sendo assim, o Estado é representado por cerca de 20% do total de aprovados.

Individualmente ou em grupo, os cursos de curta duração ocorrem entre 30 a 90 dias. De acordo com o órgão, para o segundo semestre de 2017 que tem as inscrições abertas até o próximo dia 19, são cerca de 40 cursos em áreas como medicina, odontologia, empreendedorismo, agroturismo, entre outros. O início dos treinamentos é a partir do mês de outubro.

A JICA providenciará as passagens aéreas e a ajuda de custo relativo ao período de permanência. Nesse benefício estão inclusos os gastos para preparativos, envio de materiais, assistência médica (exceto tratamento odontológico e doenças preexistentes) e visto japonês.

Os treinamentos são técnicos, e segundo o órgão, os estudantes também "são capacitados para liderarem a comunidade de seus respectivos países, contribuindo para a melhoria da região a que pertencem."

Esse é um dos motivos que têm levado a estudante do último ano de Pedagogia Katia Sayuri O. Kaibara, de 28 anos, a se preparar para o processo seletivo. Ela, que mora em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), está se candidatando à bolsa de curta duração na área de Educação Infantil.

"Já estive no Japão para estudar e para trabalhar, mas dessa vez quero buscar uma experiência como professora. Acho que o modelo de ensino e educação japonesa pode ser aprendido pelos brasileiros. Minha ideia é vivenciar tudo isso para transmitir esse conhecimento para outras pessoas", comenta.

Katia está preocupada com a questão da comunicação durante o curso, e para isso, vem estudando por meio de aplicativos de idiomas. "O edital só exige o conhecimento básico do japonês ou inglês, mas quero estar bem preparada para aproveitar ao máximo", afirma.

Entre os bolsistas, a JICA informa que há um certo perfil de acordo com a área de interesse. Por exemplo, os recém-formados, na faixa etária de 21 a 30 anos, os cursos de Arquitetura, Computação Gráfica são os mais procurados.

Dos 30 aos 50 anos, os profissionais com experiência buscam as oportunidades em Medicina, Odontologia, Empreendedorismo e Gastronomia. Como é a história do londrinense Vitor Tsuji, de 37 anos.

Formado em Tecnologia em Gastronomia, ele foi aprimorar a técnica em uma escola de cozinha e confeitaria no Japão, em 2011. Sua bolsa teve a duração de 11 meses e foi essencial para Vitor dar o seu maior passo profissional.

"Sempre tive vontade de ir em busca da perfeição, da estética. E eu consegui realizar isso através dessa experiência no Japão. Quando retornei, busquei uma consultoria no Sebrae e abri meu próprio negócio", revela o proprietário da Amai Amai Macarons e Delícias.

Vitor explica que a ideia era trazer para o Brasil a proposta dos pequenos negócios no Japão. "Nesse modelo, o sabor é hipervalorizado. Estamos no mercado há quatro anos e sempre sou questionado sobre a decisão de não ampliar a loja. Eu digo que a proposta é justamente trabalhar com encomendas para fazer um trabalho personalizado e o mais fresco possível", diz.

Requisitos

Como regra geral, os candidatos às bolsas JICA devem possuir idade entre 21 a 50 anos (até 1 de abril de 2017); possuir nível médio de escolaridade; ter habilidades de linguagem para alcançar uma formação adequada; quando retornar ao país, ter interesse em divulgar os conhecimentos adquiridos durante o treinamento e estar em condições física e mental saudáveis.

A JICA é um órgão do governo japonês responsável pela implementação da Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA), que apoia o crescimento e a estabilidade socioeconômica dos países em desenvolvimento.