Imagem ilustrativa da imagem Mercado tem deficiência de profissionais bilíngues



Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, os profissionais têm buscado especializações e muitos cursos em suas áreas de atuação para conseguirem se destacar. O que muita gente acaba deixando de lado nessa formação é um quesito muito importante e escasso em algumas profissões: a fluência em outros idiomas. Isso tem aberto um mercado muito promissor para quem tem o domínio de uma segunda língua.
Um estudo feito em 2013 pela British Council mostrou que apenas 5% da população brasileira com 16 anos ou mais possui algum conhecimento de inglês. Na publicação desse estudo, a instituição inglesa concluiu que esse índice tão baixo é devido à falta de um ensino básico de qualidade, somada ao baixo acesso do brasileiro a cursos privados de inglês.
Mais do que um diferencial no currículo, a proficiência em outro idioma muitas vezes é essencial para o desempenho de determinadas funções. Na escola bilíngue Maple Bear, por exemplo, além da formação em magistério, pedagogia ou letras, é preciso ter fluência no inglês, já que os alunos são alfabetizados em português e inglês. "A gente sofre para encontrar professores porque entre os profissionais de magistério e pedagogia é muito difícil terem o inglês. Letras é mais comum porque a graduação já tem a habilitação em inglês", conta a diretora da escola, Andrea Pizaia Ornellas.
Segundo ela, é muito comum encontrar candidatos com boa formação e experiência, mas sem o domínio do inglês. O inverso também acontece bastante. "Recebo muitos currículos de pessoas que têm inglês fluente, mas têm formação em direito ou outras áreas que não a que nós precisamos", conta.

SAÚDE

A dificuldade para encontrar profissionais de determinadas áreas com fluência em idiomas estrangeiros não é exclusividade de escolas bilíngues. Na Venco Saúde Animal, o cenário é o mesmo. "Nosso quadro técnico é composto de farmacêuticos, médicos veterinários e biólogos. Sempre que precisamos contratar esse tipo de profissional, principalmente médicos veterinários, temos muita dificuldade", conta a supervisora de recursos humanos, Gisele Ré. Segundo ela, normalmente é preciso divulgar a vaga nacionalmente para conseguir encontrar profissionais dessas áreas que sejam bilíngues. "Mesmo abrindo mão da exigência de experiência, é difícil encontrar candidatos", ressalta.
Para Gisele, não faz parte da cultura dessas profissões ter o domínio de outros idiomas. A médica veterinária Beatrice Morrone, contratada há seis meses, concorda. "Na minha turma, apenas três ou quatro alunos, de um total de 80, falavam inglês. Veterinários pensam que o mercado se resume a clínicas. Eu mesma não sabia que o inglês seria tão necessário no meu trabalho", conta. Hoje ocupando o cargo de analista de assuntos regulatórios para exportação, Beatrice agradece ao pai, que cobrava dela ainda criança que estudasse inglês e inserisse o idioma em sua rotina.

ESPANHOL

Normalmente, o inglês é o idioma mais procurado pelos recrutadores, mas isso varia de acordo com a empresa e os mercados em que ela atua. Na Venco, o espanhol também é requisito nas seleções dos funcionários. "Nós exportamos para países da África e da Ásia, mas nosso principal mercado é América do Sul, por isso o espanhol é importante", explica Gisele.
Por enquanto, segundo ela, a exigência de um segundo idioma se restringe a alguns cargos, mas, diante da meta de aumentar a participação das exportações no faturamento da empresa de 20% para 50% até 2021, todos os departamentos terão de ser bilíngues. "Ter domínio de outro idioma não é mais uma questão de luxo. No nosso caso, é necessário para que a empresa consiga atingir seu objetivo", argumenta.

CAPACITAÇÃO

Para preparar os funcionários para esse futuro próximo, a empresa está promovendo um curso in company, além de parcerias com escolas de idiomas. E para tentar mudar a cultura monolíngue dos médicos veterinários, a Venco planeja realizar palestras técnicas nas universidades. "Precisamos mostrar aos alunos, já no primeiro ano da graduação, a necessidade de ter o domínio de idiomas. Quem sabe até o final do curso, eles tenham, pelo menos, o nível intermediário", pondera a supervisora.