As mulheres podem se beneficiar das habilidades digitais para ganhar vantagem competitiva, seja no preparo para o trabalho, na busca por uma oportunidade ou mesmo, evolução na função. É o que aponta a pesquisa "Alcançando a igualdade: como o digital está ajudando a diminuir a disparidade de gênero no trabalho", da Accenture, empresa global em serviços profissionais.
O levantamento foi realizado entre dezembro de 2015 e janeiro deste ano, com 4.900 mulheres e homens, em 31 países. O objetivo foi avaliar como as pessoas estão usando as tecnologias digitais na vida pessoal, doméstica, educação e trabalho.
De acordo com o estudo, no Brasil, mais mulheres (88%) relatam estar usando o digital para preparar-se e buscar um trabalho do que os homens (82%). Além disso, quando mulheres e homens têm o mesmo nível de proficiência digital, são elas que melhor se beneficiam disso para encontrar um emprego.
Entretanto, a pesquisa revela que, apesar da fluência digital (quando as pessoas adotam as tecnologias digitais para se tornarem mais bem informadas, conectadas e eficazes) ajudar as mulheres a evoluírem em suas carreiras, o impacto não diminui a disparidade de gêneros entre executivos e nem promove igualdade de salários.
"Embora a igualdade de gênero não vá ocorrer de uma hora para outra, os investimentos destinados à geração de habilidades digitais entre as mulheres, por meio da educação, formação e aprendizagem prática, ajudarão a acelerar seu progresso em todas as fases da carreira", afirma Leonardo Framil, CEO da Accenture para o Brasil e América Latina.
Para a coach Tayná Leite, da Self Desenvolvimento, o desafio atual segue o mesmo de sempre, quando o assunto envolve o sexo feminino e o mercado de trabalho. "É preciso desconstruir esteriótipos. A mulher ainda precisa se encaixar em vários padrões que são contraditórios e geram muita culpa. Para mim, só haverá igualdade, de fato, quando não houver um esteriótipo dizendo como a mulher deve fazer ou se portar", aponta.
Ela, que é analista comportamental para mulheres, atuando também como consultora em gestão, cita ainda que as empresas devem cumprir o desafio da ONU lançado ano passado. "Um dos objetivos do desenvolvimento sustentável é justamente alcançar a igualdade de gênero. Muitas empresas ainda reproduzem um ambiente inóspito às mulheres, colocando-as inclusive em desvantagem competitiva", diz.

EMPREENDEDORAS
Quando a jornalista e blogueira Mariella da Silva, de 30 anos, criou o blog Caderninho da Mamãe, há quase cinco anos quando ficou grávida de Clara, não imaginou e nem tinha expectativa de que sua página, que em resumo é um diário de uma mãe, cresceria tanto em visualizações a ponto de despertar interesse até da Netflix, provedor global de filmes e séries de televisão via streaming. Ela foi convidada e, desde o dia 30 de março, integra o Stream Team Netflix Brasil, time de influenciadores digitais parceiros do provedor. O grupo é formado por 40 blogueiros do País, que ajudam a disseminar as novidades da empresa. No ano passado, quando foi criado, eram 23 profissionais participantes.
"Não tinha pretensões nenhuma de ganhar dinheiro, de fazer disso uma profissão. Eu sou jornalista e o trabalho que fui desenvolvendo em agências foram me levando para o marketing digital e redes sociais, fiz cursos na área, então foi um caminho natural para mim. Não tinha pretensões nenhuma de ganhar dinheiro, de fazer disso uma profissão."
Apesar da parceria com o provedor não incluir apoio financeiro, Mariella vislumbra uma projeção maior para o seu blog. "Eles só pedem para que, uma vez por mês, a gente faça um post nas redes sociais dando dicas sobre as séries que a gente está assistindo, tanto para adultos como para crianças. Eu aceitei participar porque já sou cliente do Netflix e gosto, então não vai ser difícil falar bem do serviço. Em troca, meu blog ganhará mais visibilidade. Hoje, tenho alguns patrocínios esporádicos, quando faço um publipost", conta.
Hoje, atuando também na área de Marketing do Restaurante Dá Licença, Mariella acredita que a fluência digital, que adquiriu ao longo dos anos, foi determinante para sua colocação no mercado.
O mesmo pensamento tem a estudante de Artes Visuais, Gislaine Kelly da Silva, de 25, que trabalha na área de Suporte da Bis2Bis Comércio Eletrônico. "A gente percebe que o mercado procura profissionais que tenham no currículo formação em algumas ferramentas complementares na área digital. As pessoas que têm esses diferenciais acabam tendo vantagem na hora de concorrer a uma vaga no mercado. Às vezes nem precisa ter concluído o curso, o fato de já ter experiência em ferramentas digitais pode ser determinante para ser selecionada por uma empresa."
A advogada e empreendedora da Juntus Coworking, Alexandra de Paula Yusiasu dos Santos, de 36, confirma que a mulher vem, a cada ano, conquistando uma fatia maior do mercado, principalmente nas áreas digitais. "Em quatro anos de empresa, observamos que a mulher está conseguido entrar mais no mercado de trabalho, exatamente com esse público que trabalha o digital. Percentualmente, vimos dobrar o número de mulheres. Quando a gente começou era em torno de 15% e agora chega a 30% do nosso escritório. Com o desenvolvimento do digital, houve o aumento do trabalho remoto e outras formas de negócios, isso facilitou muito para a mulher conseguir conciliar a questão da casa, de ser mãe e de outras atividades", pondera.