João Leonardo Rodrigues, 21, que perdeu 75% da audição na infância, atua como repositor em uma empresa de produtos elétricos: "Agora tenho meu salário"
João Leonardo Rodrigues, 21, que perdeu 75% da audição na infância, atua como repositor em uma empresa de produtos elétricos: "Agora tenho meu salário" | Foto: Marcos Zanutto



Fazer faculdade de Direito e ter um bom emprego. Esse é um dos sonhos de João Leonardo Cézar Rodrigues, 21, e Pedro Henrique Gonçalves Alves, 18, que são exemplos nesta história para mostrar que um novo caminho está aberto no mercado de trabalho para pessoas com deficiência (PCD).

João Leonardo e Pedro Henrique estão tendo a oportunidade de aprender novas habilidades e se prepararem profissionalmente. Ambos têm deficiência física e foram selecionados para atuar em duas empresas em Londrina, no programa de aprendizagem.

Diferente do Jovem Aprendiz, o programa quando aborda PCD não impõe limite de idade e pode ser tido como inovador no ambiente corporativo, uma vez que ainda há muitas barreiras impostas pela sociedade.

"O que a gente percebe é que esse caminho para fazer a contratação inicial como aprendiz de pessoas com deficiência ainda é muito incipiente", afirma Marcelo Adriano da Silva, procurador do Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR).

Ele cita que a aprendizagem é um contrato de trabalho de natureza especial voltado à implementação do direito à profissionalização, previsto na Constituição. E também como obrigação legal há as cotas para pessoas com deficiência com finalidade social de profissionalizar, incluir e combater a discriminação no mercado de trabalho.

"Uma justificativa comumente invocada por empregadores é de não conseguir preencher a cota de pessoas com deficiência pela falta de qualificação profissional. Pensando nessa dificuldade, a legislação de aprendizagem passou a permitir que se contrate também como aprendizes pessoas com deficiência sem limite de idade", esclarece. O decreto é de 2005.

Essa abertura foi uma grande oportunidade para João Leonardo, que foi contratado há oito meses como auxiliar de almoxarifado na Eletrotrafo, uma empresa de produtos elétricos. "Agora tenho meu salário e ainda posso ajudar minha mãe com as despesas", revela.

João Leonardo perdeu parte (75%) da audição com 7 anos e agora está tendo a chance de dar os primeiros passos profissionais. Na empresa, ele organiza as gôndolas, repondo e separando os materiais para os vendedores.

O gerente geral Roberto Ruzsilla comenta que durante os 30 primeiros dias foi realizado um trabalho de adaptação pelo departamento de Recursos Humanos (RH).
"A contratação envolveu uma exigibilidade por lei, mas principalmente porque o mercado não tem absorvido essas pessoas e o João Leonardo se mostrou muito disposto. Queremos formá-lo profissionalmente para ele galgar promoções internas", afirma.

O procurador ressalta que a contratação de aprendiz PCD depende de uma relação triangular: empregador, aprendiz e instituição que ministra os cursos. Em Londrina, há diversos locais de ensino como Senai, Senac, Guarda Mirim, Núcleo Espírita Irmã Scheilla, Epesmel, entre outros.

A gerente de projetos da Epesmel, Alexandra Alves, contabiliza cinco aprendizes PCD contratados no momento. Ela explica que quando há empresas interessadas neste tipo de contratação, a entidade faz a formação teórica e o acompanhamento social do aprendiz durante todo o período de contrato.

Pela experiência, Alexandra revela que muitos empregadores ainda não se dispõem a contratar aprendizes PCDs, assim como muitas famílias relutam em inseri-los nesses programas.

"Para nós, não há nenhuma restrição para aceitar a pessoa com deficiência, mas a maior parte das empresas ainda não se mostra receptiva", completa.

Serviço
Para participar do programa é preciso se inscrever em uma instituição de ensino conveniada. Saiba mais pelo endereço: site.aprendizlegal.org.br.