Imagem ilustrativa da imagem Dilemas pessoais no ambiente de trabalho
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Manter um equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal está muito mais difícil em todo o mundo. É o que aponta uma pesquisa global da consultoria Ernst & Young, com trabalhadores entre 18 e 67 anos, em tempo integral.

Dos 9,7 mil entrevistados, 1.208 eram brasileiros. Deles, um terço relatou que administrar a vida privada e profissional tem se tornado um desafio ainda maior. Isso se deve, segundo a pesquisa, ao aumento de responsabilidades no trabalho, de despesas pessoais e também das horas semanais. Trabalhadores com filhos e da Geração X seriam os mais afetados.

O levantamento foi realizado com profissionais nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Japão, China, Alemanha, México e Brasil, entre novembro de 2014 e janeiro de 2015.

A pesquisa também mostra que as pessoas desejam flexibilidade, isto é, ter a capacidade de trabalhar com variação na hora de entrada e saída do escritório ou fazer home office, mantendo a perspectiva de ser promovido.

Esses resultados refletem uma realidade que há tempos é discutida nas empresas, mas que nos últimos anos vem ganhando um novo olhar. Se antes esperava-se que os funcionários deixassem os dilemas pessoais na porta do trabalho, hoje há o entendimento na boa prática de gestão de que é importante a empresa saber o que está acontecendo com seu funcionário.

"A ideia de que é preciso separar a vida pessoal da profissional é uma verdade, mas hoje entende-se que naturalmente o lado privado vai impactar na produtividade das pessoas. E o fator fundamental não é mais ignorar que o funcionário tem um problema pessoal", afirma Luciana Gazzoni, diretora de Melhores Práticas de Gestão de Pessoas da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná (ABRH-PR).

Durval Antônio Sgarioni, advogado trabalhista há 30 anos em Londrina, lembra, porém, que se a pessoa levar os problemas para o trabalho a todo momento, o risco dela perder o emprego é alto.

"Há uma dinâmica muito forte dentro das empresas privadas que não vai permitir isso. Cada um gere a empresa do jeito que quer. Quando se acredita que alguma situação pessoal do trabalhador traz riscos à segurança dos demais empregados ou da empresa, ele (empresário) pode desligar o funcionário", comenta.

Sgarioni atua no escritório Sokolowski Advogados, que atende cerca de 80 empresas entre pequenas, médias e grandes. Ele explica que não existe uma regra universal para dizer se um fato resultará em justa causa ou não.

"Toda demissão por justa causa requer uma avaliação caso a caso, pois há nuances a ser consideradas, como toda a vida pregressa do trabalhador. Assessoro as empresas e todo dia tem uma situação nova a ser resolvida e que não está na lei. Para isso, usamos do direito consuetudinário (usos e costumes) e também do bom senso", afirma.

Por experiência, o advogado diz que o caminho para o funcionário que estiver com problemas pessoais é expor a situação com a chefia e buscar saber sobre seus direitos.

"Cada categoria vai ter uma regulamentação normativa de convenções coletivas de trabalho, firmadas entre sindicato patronal e sindicato dos empregados, e isso é um complemento daquilo que está na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)", ressalta.

Ao comentar sobre desídia, quando o empregado começa a falhar, agir com negligência prejudicando o dia a dia da empresa, Sgarioni esclarece que o funcionário pode ser advertido, suspenso e até receber uma justa causa.

"Isso também é caso a caso, pois vai da cabeça de cada empregador. A empresa pode agir com o rigor da lei, começando com uma advertência, e se não houver melhoras, o grau de punição vai aumentando até resultar em um desligamento justificado. Já tem outros que vão compreender a situação e agir de outra forma. As empresas pequenas toleram muito mais esse tipo de ocorrência porque acabam criando uma comunidade onde todo mundo sabe da vida do outro", completa.