Imagem ilustrativa da imagem Cientista político é peça-chave em eleições e fora delas
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"Hoje sou secretário parlamentar, o que me deixa muito orgulhoso e realizado, pois coloco em prática tudo que aprendi durante o curso", conta Diego Ferreira



Em ano eleitoral, os profissionais de Ciência Política, que costumam passar mais tempo em salas de aula, se tornam figuras constantes nos veículos de comunicação. Mas mais do que análises do pleito, esses cientistas podem ser peças-chave nos bastidores das eleições. E não só nelas. É um profissional que desempenha importantes funções no poder público, em empresas privadas e organizações da sociedade civil. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisa e Práticas de Ciência Política da Uninter sobre o mercado de trabalho desta área.
O estudo derrubou o mito de que cientistas políticos atuam apenas em atividades acadêmicas e ainda revelou um mercado de trabalho amplo e promissor. "A pesquisa mostrou que o cientista político não só tem alta taxa de empregabilidade no mercado, por ter competências muito específicas, mas pode receber bons salários, porque numericamente são poucos", explicou o coordenador do curso de Ciência Política da Uninter, Pedro Medeiros.
A partir de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pesquisa mostra que a taxa de empregabilidade para cientistas políticos está acima de 90%, com média salarial de R$ 3.638, mas podendo ultrapassar muito esse valor. "A Câmara Federal, por exemplo, tem mais de 10 mil secretários parlamentares. É um mercado que pode ser ocupado por cientistas políticos e tem vencimentos de até R$ 12.940", conta Medeiros.
A área eleitoral é a que mais tem percebido a importância do papel desempenhado pelo cientista político. A ele cabe interpretar e fazer projeções relativas ao processo eleitoral, unindo cálculo, metodologia e teoria política. "É a área mais propícia para que o cientista político venda seus serviços. Ele pode elaborar estratégias de campanha, pesquisas de opinião, analisar cenários", exemplifica o cientista político Mário Sérgio Lepre.
O cientista político atua nas equipes de candidatos em níveis municipal, estadual e federal, a fim de adaptar estratégias de campanha e planos de governo ao cenário eleitoral. Ele é capaz de calcular tendências com alguma precisão, porque não trabalha com "achismo", mas com processos metodológicos, com análise de discurso e leitura de gráficos de pesquisas.
Sua utilidade, no entanto, não se reduz ao momento da campanha, sendo também imprescindível como parte do staff regular de gabinetes parlamentares, analisando cenários e propondo linhas de ação para a reeleição. Diego Tavares de Miranda Ferreira está cursando o último ano de Ciência Política na Uninter e durante o curso teve a oportunidade de participar do Programa Estágio Visita na Câmara Federal. Recentemente, foi selecionado para a vaga de assessor parlamentar de uma deputada federal. "Hoje sou secretário parlamentar, o que me deixa muito orgulhoso e realizado, pois coloco em prática tudo que aprendi durante o curso", conta.

DEMOCRATIZAÇÃO
Esse cenário favorável para cientistas políticos é, segundo Medeiros, bastante recente e começou a surgiu a partir dos anos 1990, com a consolidação das instituições democráticas brasileiras e com o aumento do número de pós-graduações na área. "A Ciência Política é uma atividade ligada à democracia. Quando houve a consolidação da democracia no Brasil, ocorreu a consolidação da função do cientista político", explica.
Graças a isso, hoje cientistas políticos estão presentes não só nas diferentes esferas da administração pública, mas em diversos setores que interagem com ela, como ONGs, sindicatos, movimentos sociais, partidos, associações de classe, empresas privadas. "Apenas o cientista político está habilitado a analisar cenários levando em conta as variáveis que afetam o funcionamento do parlamento e do governo, além da produção de políticas públicas como sistema partidário, regras eleitorais, relações intergovernamentais e opinião pública", ressalta Medeiros.
Prever riscos, antecipar tendências, desenhar estratégias institucionais são atividades decisivas, seja na esfera pública ou na privada, que estão nas mãos desses profissionais. Para Lepre, o Brasil ainda caminha devagar na exploração dessas habilidades. "Nos Estados Unidos é muito comum ter cientistas políticos na gestão pública. E a tendência é que isso ocorra no Brasil também, porque análises são necessárias, por exemplo, para criação de plano diretor, redação de projetos de lei", afirma.

FORMAÇÃO
Para atuar como cientista político, a formação superior pode ser feita no curso específico de Ciências Políticas, ainda ofertado em poucas universidades, ou em Ciências Sociais, curso que tradicionalmente prepara alunos para atuar em três grandes áreas: Sociologia, Ciência Política e Antropologia.