"Hoje, além de suprir as necessidades financeiras, espero que o trabalho me ofereça condições psicológicas e físicas", diz João Antônio Brancalion, 26
"Hoje, além de suprir as necessidades financeiras, espero que o trabalho me ofereça condições psicológicas e físicas", diz João Antônio Brancalion, 26 | Foto: Gustavo Carneiro



A odisseia da Revolução Industrial 4.0 começou na virada do milênio, apesar de sobreposta à terceira onda. A bordo, milhões de jovens trabalhadores brasileiros têm o desafio de um mercado de trabalho que ainda parece incerto.

No Brasil, a reforma trabalhista sancionada pelo Planalto entrará em vigor em novembro. Enquanto isso, quem se prepara para o primeiro emprego ou planeja uma carreira profissional não quer perder a corrida para o futuro.

O Fórum de Davos 2016, encontro anual de líderes da economia mundial, aponta que a quarta Revolução Industrial convive com desigualdades ainda não superadas pelas que a precederam, como miséria, pobreza, conflitos intra e internacionais. Porém, comemorou a escalada da nanotecnologia, neurotecnologia, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, entre outras apostas tecnológicas.

Avanços que terão impacto em como somos e nos relacionamos também com o mundo do trabalho em que o futuro do emprego será por vagas que não existem.

Uma revolução que mudará o mundo que conhecemos e que tem entre os jovens da geração Z, com menos de 30 anos, a exemplo de João Antônio Brancalion (leia mais nesta edição), os verdadeiramente nativos digitais. Jovens que a favor da empregabilidade possuem características que, antigamente, pareceriam pontos negativos, como trocar de emprego com frequência.

O advogado trabalhista Célio Pereira Oliveira Neto destaca que a "grande fábrica" - em que o trabalhador entrava jovem, trabalhava 30 anos e saía com um relógio de presente pelos serviços prestados, sonho dos baby boomers e geração X, os avós e pais dos jovens da geração Z – desaparecerá.

Oliveira Neto foi um dos palestrantes de evento realizado na última semana, em Londrina, pelo WTC Sul Business Club - braço no Sul do Brasil do Word Trade Center Business Club, maior plataforma de negócios do mundo. O evento debateu a reforma trabalhista e os impactos entre os jovens, como a flexibilização da jornada, terceirização, teletrabalho, entre outras mudanças.

O advogado afirma que em países como a Itália 16% dos empregos estão nas médias e pequenas empresas. No Brasil, o índice é de 70%, o que revela a evaporação do sonho que alimentou a carreira dos baby boomers e da geração X.

"Os jovens da geração Z querem misturar trabalho e lazer. O discurso da Segunda Revolução Industrial em que o trabalhador separava vida privada e profissional não cabe mais. O jovem quer exercer o seu direito à personalidade nas redes sociais. Ter tempo para outras atividades. O Brasil ainda é o país que mais proíbe o acesso do empregado às redes sociais, mesmo diante desta nova realidade. Paralelo a isso, o empregador ainda paga por horas trabalhadas. Poderíamos pensar em pagamento por produtividade. Não temos mais como manter o crescimento de emprego que a população precisa. A exemplo do part time, trabalhos em horários parciais, no Japão e na Holanda, a flexibilização para os jovens oferece condições para ter mais de um emprego, podendo viver de maneira mais interessante e que lhe dê prazer, mesmo que ganhe menos. Além disso, dividirá o trabalho com outra pessoa, abrindo mais vagas", avalia.

Oliveira Neto vê o teletrabalho como atraente para os jovens, que podem buscar as vagas que estão pelo mundo. "Hoje, você pode contratar um serviço na Índia com uma superespecialização. O jovem trabalhador brasileiro também pode se beneficiar dessa fluidez. O trabalhador não precisa mais viajar para fazer reunião e não vai se relacionar, necessariamente, com alguém do outro lado do mundo. Serão apenas negócios on-line. É uma realidade em que o jovem precisa mais do que conhecimento. Requer flexibilidade, capacidade de inovação e criatividade para trabalhar com profissões que não existem. Hoje, os jovens vivem de compartilhamentos. Viverão em um mundo em que a indústria automotiva se reinventará e produzirá carros em impressoras 3D. Até 2025, 30% das viagens serão feitas em veículos compartilhados", destaca.

Jovens precisam ter capacidade de adaptação
O desembargador federal do Trabalho, Sérgio Murilo Rodrigues Lemos, que também participou do evento promovido pelo WTC Sul Business Club, acredita que a flexibilização da jornada de trabalho poderá ampliar vagas de emprego.

"Tenho uma visão muito pessoal sobre os jovens no mercado de trabalho e as novas regras. Hoje, a ideia que se tem é que o profissional, quanto mais generalista, terá mais sucesso. Acredito que os jovens precisam ter capacidade de adaptação", afirma Lemos. Para o desembargador, a nova lei não mexeu no modelo sindical por falta de debate, precisando ter sido melhor discutido.

Sobreposta à terceira onda, a Revolução Industrial 4.0 em curso convive com empresas tradicionais, que contaram com uma nova lei trabalhista e jovens mais qualificados.

O presidente da WTC Sul, Josias Cordeiro da Silva, destaca que os executivos precisam reconhecer esses jovens que buscam algo mais e que, de acordo com dados do Fórum de Davos, trocam 11 vezes de emprego durante a vida.

"No Brasil existe uma alta tributação para contratar e demitir. Um problema para as empresas que não conseguem reter empregados, principalmente os jovens. A nova legislação oferece acordos importantes, a exemplo da possibilidade da terceirização. Um passo grande para o empresariado frente a essa nova geração de trabalhadores", avalia Silva.

Como se vê, o desafio é grande para os jovens e empregadores. Mas, diante de uma realidade econômica incerta, vale a pena tentar pensar fora da caixa e positivamente.

Uma pesquisa do Barômetro Global de Inovação, produzida pela empresa GE e que reúne opiniões de mais de 4 mil líderes e interessados em transformações em 23 países, aponta que 70% têm expectativas positivas sobre o futuro. (F.L.)

Pensar fora da caixa
Uma mente digital e global. O jovem da geração Z representa 34,9% milhões de brasileiros, o equivalente a 16,7% da população do País e 2% da força de trabalho. Em 2020, os que não separam o on-line do off-line serão 20% dos trabalhadores.

São jovens como o estudante de Administração de Empresas João Antônio Brancalion, 26, que trabalha desde os 16 anos. Essa geração busca pensar fora da caixa profissionalmente para poder bancar pequenos luxos. Ganhar dinheiro não é tudo. Quer qualidade de vida.
Mais qualificado do que o comum entre os jovens de outras gerações, Brancalion fala inglês e espanhol e tem na ponta da língua o que pensa sobre a carreira profissional.

"Hoje, além de suprir as necessidades financeiras, espero que o trabalho me ofereça condições psicológicas e físicas. Já recusei ofertas de emprego por saber do desgaste e o quanto danoso seria para a minha saúde aquele ambiente corporativo. Os jovens no mundo inteiro não pensam em ganhar somente dinheiro, mas ter qualidade de vida", afirma o rapaz, que trabalha com comércio exterior.

Para Brancalion, as novas regras trabalhistas, como a flexibilização da jornada de trabalho, diminuirão os ganhos, ao contrário da argumentação de que o trabalhador poderá ter mais de uma atividade remunerada. "Desde que o trabalhador saiba equilibrar o trabalho com outras atividades, a jornada flexível poderá trazer algum benefício", acrescenta.

A geração de jovens que querem absorver culturas e viajar pelo mundo também é mais realista em relação ao presente e o futuro. "Os que acham desgastante trabalhar em empresas e cumprir horários precisam buscar uma oportunidade de empreender. O mundo coloca que você tem que criar, sair do quadrado. Eu penso em ter o próprio negócio, apesar de acreditar que preciso absorver muito conhecimento. No futuro, me vejo trabalhando em algo meu", conclui Brancalion. (F.L.)