Indústria de ração da Cooperativa Integrada, em Londrina: muito do aparente movimento de recuperação da atividade industrial do Estado segue atrelado ao agronegócio
Indústria de ração da Cooperativa Integrada, em Londrina: muito do aparente movimento de recuperação da atividade industrial do Estado segue atrelado ao agronegócio | Foto: Fábio Alcover



As vendas industriais paranaenses tiveram aumento mensal pela terceira vez consecutiva em julho, quando foi 2,7% acima do registrado em junho, segundo divulgado na quarta-feira, 13, pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná). O resultado indica a consolidação de um movimento de recuperação no setor, sempre atrelado ao bom momento vivido pelo agronegócio.

Mesmo assim, o acumulado para o ano ainda é de retração de 7,3%, na comparação com janeiro a julho de 2016. A indústria paranaense em julho também registrou o nível mais baixo de atividade desde 2006, conforme a Fiep, o que mostra que falta muito para o setor ter o que comemorar.

Outros indicadores que mostram a tendência de recuperação são a compra de insumos, que teve alta de 6,2% em julho sobre junho, e mesmo a redução de 0,4% do nível de emprego no mesmo comparativo. Isso porque novas contratações ocorrem somente depois do aumento da capacidade instalada, que subiu um ponto percentual e foi para 71% no mês de referência. Há, portanto, 29% de ociosidade no setor brasileiro.

Da mesma forma que as vendas, a compra de insumos industriais acumula queda de 10,3% e os empregos registram variação negativa de 7,2%, sempre em comparação aos sete primeiros meses de 2016. O economista Roberto Zurcher, da Fiep, afirma que a recuperação é lenta, mas deve continuar até o fim do ano. "Temos cinco meses e é muito difícil fechar o ano no positivo, a não ser que tenhamos resultados ótimos em agosto, setembro e outubro, que normalmente são os melhores meses da indústria e que foram péssimos no ano passado", diz.

Imagem ilustrativa da imagem Vendas industriais sobem pelo terceiro mês seguido



Confiança
Ele considera que a retomada da compra de insumos no setor indica também que os empresários estão mais confiantes em melhores resultados. Porém, o movimento ainda não é generalizado em todos os ramos. Houve crescimento em oito das 18 atividades pesquisadas, com destaque para dois dos três com maior participação relativa na indústria paranaense, que são alimentos e bebidas (11,7%) e refino de petróleo e produção de álcool (3,1%). Veículos automotores, o terceiro da lista, teve queda de -19,2% em um ajuste, depois de aumentos nos últimos dois meses puxado pelas exportações.

A safra recorde encerrada no meio deste ano é o motor desse movimento. "Destaco ainda o setor de máquinas e equipamentos, que recuou no mês, mas tem alta de 2,7% no acumulado do ano, muito pelo maquinário agrícola", completa Zurcher.

O presidente do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), Julio Suzuki, afirma que levantamento da entidade aponta que o PIB (Produto Interno Bruto) estadual cresceu 1,6% e o da indústria, 1,3% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2016. "É óbvio que comparamos com uma base depreciada pela crise, que é o primeiro semestre do ano passado, mas estamos em recuperação industrial", diz.

Números diferentes
O IBGE divulgou na última segunda-feira, 11, que a indústria paranaense fechou os primeiros sete meses do ano com alta de produção de 3,9%, a maior do País, que teve média positiva de 0,8%. A diferença em relação aos números da Fiep, que representam as vendas industriais e não a produção, também mostram a recuperação do setor no Estado, diz Zurcher. "Em momentos de crise, a indústria passa a produzir itens que se adaptam à condição financeira do consumidor, então pode ocorrer aumento da produção, mas com produtos de menor valor agregado, mais baratos", afirma, ao citar a troca do iogurte por bebida láctea como exemplo.

Outra questão é que a produção medida pelo IBGE não foi necessariamente vendida. "Essas diferenças grandes entre os indicadores tendem a ocorrer em momentos de início ou fim de crises", conta o economista da Fiep. A entidade usa como base para a pesquisa as informações prestadas por empresas que representam mais de 90% do faturamento e mais de 40% do número de empregados da indústria paranaense.

PIB do Paraná cresce 1,6% no semestre
A economia do Paraná fechou o primeiro semestre com crescimento de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento feito pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). O PIB (Produto Interno Bruto) estadual no período foi de R$ 233,86 bilhões.

No primeiro trimestre de 2017, a economia do Estado cresceu 2,5% e, no segundo, 0,1% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O resultado consolida a retomada depois de oito trimestres de queda. O PIB de 2016 fechou com retração de 2,6%.

O desempenho paranaense, fortemente influenciado pelo crescimento da agropecuária, ficou acima da média da economia brasileira. O PIB do Brasil teve variação nula no primeiro semestre, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A agropecuária teve crescimento de 13,6% no primeiro semestre. A indústria, por sua vez, registrou alta de 1,3%, influenciada pelos setores de máquinas e equipamentos, veículos automotores e autopeças. O setor de serviços registrou variação negativa de 0,8%, em função da retração de atividades financeiras e serviços de informática e comunicação.

Para o ano, o Ipardes prevê um avanço de 1,5% no PIB paranaense sobre 2016. "Embora a contribuição da agropecuária no segundo semestre seja menor, devido ao fim da safra, a nossa expectativa é de reação do setor de serviços com o aumento do consumo das famílias", diz o presidente do Ipardes, Julio Suzuki Júnior. (Reportagem Local)