As vendas industriais paranaenses tiveram um salto de 10,87% em maio sobre abril, em mais um resultado alto na gangorra vivida pelo setor nos últimos meses. O índice positivo ocorre depois de queda em abril e alta em março, em um movimento que indica um início de recuperação, mas ainda sob efeitos da crise. Os dados são da pesquisa Indicadores Conjunturais da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

Apesar de animador, o desempenho não significa que a virada tenha começado. No acumulado de janeiro a maio, o desempenho é 8,77% menor do que no mesmo período do ano passado e é pouco provável que feche o ano no azul, segundo a entidade. Mais ainda, a média das vendas industriais pelo indicador no ano é a menor desde 2005.

Mesmo assim, o economista Roberto Zurcher, da Fiep, afirma que o comportamento medido pelo indicador aponta para uma tendência de melhora até o fim de 2017. "O normal é que ocorra salto grande em março ante fevereiro, estabilidade em abril e outro salto grande em maio", afirma.

Não foi o que ocorreu neste ano, que contou com alta grande em março, queda em abril e novo aumento em maio, para nível pouco acima de março. "Quando há o início de uma recuperação econômica, dizemos que temos um movimento em 'W', com quedas seguidas de altas, e deve ser assim até julho", completa Zurcher.

Ele cita outros indicadores da pesquisa para corroborar a tese de avanço. "Maio foi o primeiro mês do ano em que mais três indicadores importantes tiveram resultado positivo, com maiores número de empregos, uso de capacidade instalada e de vendas", diz o economista da Fiep. O crescimento foi de 0,73% na quantidade de postos de trabalho e de um ponto percentual, para 69%, no uso potencial das empresas.

Imagem ilustrativa da imagem Vendas industriais indicam início de reação no Paraná



Sinalização
O presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Mecânica e de Material Elétrico de Londrina (Sindimetal), Valter Orsi, diz que a percepção dos empresários na cidade é a mesma, de um movimento em onda. "É motivador, mas tem de melhorar muito. Hoje continua horrível, mas vemos clientes pedindo orçamentos, que começam a sinalizar um aquecimento", conta.

Contudo, Orsi lembra que os 30% de ociosidade da capacidade instalada refletem em uma demora maior para o nível de emprego se aquecer. "Temos de ser realistas: é uma melhora de quem está no fundo do poço e o movimento precisa crescer 30% para que a indústria comece a contratar."

Perspectivas
Os representantes do setor afirmam que há um descolamento maior da economia da crise política, mas afirmam que a velocidade da recuperação depende diretamente dos desdobramentos da instabilidade do governo federal e, por consequência, do andamento das reformas. "Maio vinha com todos os indicadores positivos e tudo esfriou em junho, porque borbulharam denúncias contra o governo federal", diz Orsi.

O presidente do Sindimetal complementa que nem mesmo os recuos da inflação e dos juros terão efeitos imediatos. "Essa desinflação ocorre porque existe pressão do consumidor por uma redução de preços para que consuma e o industrial reduz o ganho ou tem um prejuízo pequeno para evitar um mal maior, mas acaba sem capital de giro."

O economista da Fiep cita que a redução de margens fica clara nos subsetores têxtil e de vestuário, que apresentam os melhores resultados em geração de empregos e estão com as maiores retrações em vendas industriais no acumulado. "Assim como alimentação, são itens de consumo recorrentes e nos quais as pessoas trocam o mais caro pelo mais barato, então reduz o valor total", diz. Os dois gêneros tiveram queda no valor de comércio de 27,28% e 23,63%, respectivamente.

Por segmento, Zurcher destaca também a recuperação das indústrias de papel e celulose (28,58%) e de veículos (12,41%). "A de celulose teve aumento pelos investimentos feitos por empresas no Estado, e em automóveis há recuperação do mercado interno, recuperação das vendas para a Argentina e abertura de novos mercados, como Chile e Colômbia."

Para o economista, porém, somente os resultados a partir de julho serão mais estáveis. "É provável que comecemos a ter um melhor nível de empregos, por conta das vendas de fim de ano e porque o segundo semestre de 2016 foi muito ruim, mas será difícil o setor fechar no positivo", diz Zurcher.