Polícia Rodoviária avalia que mesmo com o aparelho celular no viva voz o motorista perde o foco no trânsito e fica sujeito a acidentes
Polícia Rodoviária avalia que mesmo com o aparelho celular no viva voz o motorista perde o foco no trânsito e fica sujeito a acidentes | Foto: Ricardo Chicarelli



Os carros estão saindo de fábrica cada vez mais hi-tech e a conectividade tem sido um dos itens mais apreciados pelos consumidores. Com o bluetooth, o motorista pode acessar as funções básicas do celular sem tirar as mãos do volante. Essa comodidade não evita que o condutor seja multado por utilizar o celular ao dirigir, mas pode reduzir os riscos de acidentes.
"Os comandos no volante se tornam instintivos ao passo que o condutor conhece o veículo, diminuindo a distração para, por exemplo, mudar de rádio, atender ao telefone, controlar o piloto automático e até mudar de marchas, além de evitar que as duas mãos saiam do volante, traduzindo em mais segurança", afirma Alessandro Rubio, coordenador técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil), da Mapfre.
Mas de acordo com Rubio, é preciso prudência no uso da conectividade, pois o motorista pode se distrair mesmo utilizando o bluetooth. "Vale lembrar que essa tecnologia é nova e podemos parar o carro ou esperar um pouco para responder a uma mensagem ou atender a uma ligação", aconselha o coordenador.
Para o diretor de Trânsito da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Hemerson Pacheco, mesmo com os comandos no volante a utilização do celular causa insegurança ao dirigir, mas dificulta a fiscalização. "Utilizando o bluetooth fica mais difícil aplicar a multa porque o motorista pode alegar que estava cantando. Mas se ele for flagrado manuseando o aparelho, mesmo que ele esteja com o bluetooth ligado, fica caracterizada a infração", explica o diretor.
Ele aconselha que o motorista faça a programação prévia do bluetooth, assim como do GPS, para evitar distrações enquanto guia o veículo. A combinação celular e volante pode pesar no bolso. É uma infração gravíssima no valor de R$ 293,47 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas é umas das campeãs de multa no Estado.

Imagem ilustrativa da imagem Um clique ao volante



NÚMEROS
De acordo com dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR), ano passado foram aplicadas, em Londrina, 945 multas por manuseio do celular, 778 por motoristas que estavam segurando o aparelho e 16.235 por utilização do celular. No Estado, foram 119.623 multas aplicadas. Mais de 4,6 mil motoristas foram flagrados manuseando o aparelho, e 7.827, multados por estarem segurando o celular. Em rodovias federais, 1.968 motoristas foram multados em 2016 contra 1.838 do ano anterior.
Segundo Pacheco, a legislação precisa acompanhar a evolução tecnológica dos veículos para que não ocorram excessos na fiscalização, mas ele enfatiza que apesar desses mecanismos reduzirem o risco de distração do motorista, ainda representam perigo. "Você só olhar uma mensagem aumenta em quase 400 vezes as chances de se envolver em um acidente. É tudo muito rápido. Uma questão de segundos que você tira o olho da via pode se envolver em um acidente", ressalta o diretor de trânsito.

OBSESSÃO
A falta de atenção foi a causa de 40% dos acidentes registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas rodovias do Paraná no primeiro semestre de 2016. "Não conseguimos dizer quanto desse percentual foi por causa do uso do celular. Mas isso é uma questão comportamental. Há a tendência de deixar o celular no colo ou alcance das mãos. E às vezes, ele (motorista) expõe a si mesmo e outras pessoas a riscos por uma mensagem ou ligação nem tão importante assim. Há uma obsessão por estar sempre online", afirma o policial rodoviário federal Fernando Oliveira.
Mesmo com o aparelho no viva voz, na opinião de Oliveira, o motorista perde o foco no trânsito. "Ninguém consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. Com os celulares no viva voz, em tese o motorista está com as duas mãos no volante, mas a atenção não está focada no carro."

CAMPANHA
Em 2016, a PRF lançou a campanha "#Desconecta Trânsito ON, Celular OFF", em parceria com o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV, para alertar sobre os riscos do uso do celular ao volante.
De acordo com a coordenadora da Coordenadoria de Infrações do Detran, Marli Batagini, a falta de dados estatísticos sobre os acidentes e óbitos causados pelo uso do celular dificulta na mudança de comportamento do motorista. "A tecnologia é maravilhosa, mas enquanto o condutor não tiver consciência para usar a ferramenta ela será prejudicial, causa acidentes e leva ao óbito", comenta a coordenadora. Para Marli, a questão não é tirar ou não a mão do volante e sim a distração que o ato de atender, ler ou enviar uma mensagem provoca.