Não é por que o juro é baixo que as pessoas devem sair tomando empréstimo consignado por qualquer motivo. "Não se toma empréstimo, nem mesmo consignado, para realizar o sonho de uma viagem ou para comprar o carro do ano", afirma o planejador financeiro, Maicon Putti, da Ideia Consultoria.
De acordo com ele, o consignado é uma boa opção para se quitar uma dívida com juros maiores e em situações como a troca de um carro que está dando muita despesa por um outro melhor. "Dívida se contrai em situações realmente necessárias", aconselha.
Para Putti, apesar de serem os mais baratos do mercado, os juros do consignados poderiam ser menores. "No caso dos servidores e aposentados a inadimplência é muito baixa. Não tem sentido cobrar 2% ao mês, que vai chegar perto de 30% ao ano", afirma.
A professora de finanças do Instituto Educacional da BM&FBovespa e sócia da BSG Duo Prata Treinamentos, Betty Grobmann, concorda. "Diante do baixo risco que os bancos têm, a taxa deveria ser muito menor." Ela conta que fez uma rápida pesquisa de mercado para a reportagem nesta quinta-feira e constatou que, na realidade, as taxas são maiores do que as instituições informam para o Banco Central. "2,24% ao mês, eu já acho caríssimo."
Para Betty, a taxa Selic (12,25% ao ano) + 3% já estaria de bom tamanho para um empréstimo consignado. "De 15% a 18% ao ano seria razoável", alega. Ela também critica a forma "agressiva" que muitas instituições utilizam para convencer aposentados a obter o empréstimo. "Além disso, o produto é mal vendido, mal explicada. Falta muita educação financeira neste País."
A professora também aconselha os consumidores a só utilizarem o empréstimo em ocasiões muito específicas como a troca de uma dívida cara por uma mais barata.
Mas, para a professora aposentada Ângela Tereza Luchesi, "na prática, a teoria é diferente". "Concordo com os especialistas que as pessoas devem economizar e só entrar em empréstimos no último caso. Mas a realidade do povo brasileiro é outra", diz ela, ressaltando que a renda do aposentado é muito baixa, assim como a da maior parte da população.
Cliente da PR Promotora de Crédito, ela tem sempre 30% de sua aposentadoria comprometida com os empréstimos. "Estou sempre fazendo. Quando chegam as contas de fim e começo de ano, como a gente faz? Tem que recorrer ao empréstimo", afirma.
Recentemente, a aposentada diz ter usado a portabilidade, levando os consignados de um banco para outro. "Fizeram uma proposta muito boa para mim, com juros pequenos", justifica. (N.B.)