Novas instalações da Neodent, na Cidade Industrial de Curitiba
Novas instalações da Neodent, na Cidade Industrial de Curitiba | Foto: Divulgação



A indústria brasileira de produtos odontológicos é uma das que menos sofre com a atual crise. O segmento tem a maior participação nos mercados na América Latina, Oriente Médio e na Rússia, exportando para 150 países, segundo dados da International Dental Show, maior feira do segmento no mundo. Com o Paraná como uma das referência nacionais, há mais de dez empresas que se dedicam à atividade somente em Londrina e que não interromperam investimentos mesmo nos anos de recessão.

Na última segunda-feira, 21, a indústria de implante e instrumental odontológico Neodent inaugurou um novo centro de distribuição, com 2,8 mil metros quadrados, e ampliou a fábrica, em Curitiba. Foram investidos R$ 60 milhões. "Dentro da empresa, a palavra crise não existe porque, quando você deixa a crise se estabelecer, tudo passa a ser justificado por ela", disse o CEO da Neodent, Matthias Schupp. "Claro que, sem esse momento longo de retração, cresceríamos muito mais, mas todos os planos que definimos para o nosso negócio, inclusive o de internacionalização, foram concretizados e registramos crescimento ano após ano", completou.

O mercado externo tem sido uma opção para a empresa fugir da crise. Atualmente, 40% da produção é exportada. Com a ampliação da fábrica, esse porcentual vai subir para 50%. O volume de produção passará de 1,2 milhão para 2,1 milhões de itens até 2018.
Os valores investidos são de recursos próprios do grupo suíço Straumann, que, em 2015, adquiriu 100% do controle acionário da empresa fundada pelo atual presidente científico, Geninho Thomé. "Foi um processo de aquisição diferente, que valoriza todos os preceitos da concepção do negócio, e por isso aceitei a oferta da Straumann", ressaltou Thomé.

Além da ampliação do centro de distribuição, o recurso serviu para modernizar e ampliar a fábrica, que passou de 10 mil para 15 mil metros quadrados. A expansão gerou 120 novos empregos na primeira fase. Até o final deste ano a Neodent pretende contratar mais 90 funcionários para as funções administrativas e de produção. O quadro atual é de 1,3 mil colaboradores. "O retorno desse investimento está projetado para algo entre cinco e dez anos, preservando a razão de ser do negócio, que é produzir sorrisos", acrescentou Schupp.

Apesar das dificuldades econômicas, o mercado nacional ainda é considerado promissor. Segundo a Neodent, a cada segundo um brasileiro com mais de 40 anos perde um dente. Entre as explicações para o quadro estão a falta de acesso à odontologia preventiva, os hábitos de higiene bucal, os acidentes com perdas dentais e as doenças periodontais hereditárias, entre outros. "Quando comecei, há 25 anos, só se falava em implante para pessoas muito ricas e totalmente incapacitadas pela falta de dentes, mas tornamos isso acessível ao brasileiro e com padrões internacionais de qualidade", afirmou Thomé.

De acordo com ele, o mais caro do implante é o tratamento. O produto, por conta de toda a tecnologia embutida e desenvolvida em grande parte pela Neodent, custa hoje um terço do preço cobrado quando a empresa iniciou as atividades. "Mesmo com todo o investimento em pesquisa, entregamos um produto com preço competitivo", disse Schupp.

PARA FORA
Em Londrina, a Angelus Prima Dental também apostou no mercado internacional para se proteger da crise, o que garantiu crescimento de dois dígitos nos últimos cinco anos. A internacionalização se deu por meio de parcerias com grandes fabricantes globais. "Com esse direcionamento das nossas estratégias encontramos uma oportunidade no fato de termos uma capacidade de produção superior à nossa expertise de distribuir para o mundo. Sendo assim, investimos na parte que dominamos, de produzir em escala e com qualidade. E, com as empresas parceiras, passamos a ter presença em 80 países", explicou o empresário Roberto Alcântara. Hoje, 51% do que a fábrica londrinense produz é para o mercado externo.

ORGANIZAÇÃO
A consultora do Sebrae Simone Millan tem se dedicado a organizar as indústrias ligadas à saúde na cidade. Segundo ela, empresas como a Angelus são referência nacional e até internacional. O Sebrae já mapeou 80 indústrias do setor, das quais ao menos 11 de produtos odontológicos. "Contratamos uma fundação para nos ajudar a organizar esse ambiente de inovação para podermos potencializá-lo."
Para Simone, é natural que Londrina tenha uma presença importante desses estabelecimentos, já que o setor de saúde é responsável por 22% da arrecadação do Município.