Curitiba Mesmo sendo sócia minoritária, a Copel Participações (Copelpar) concordou em avalizar empréstimos no valor de R$ 103 milhões para a Dona Francisca Energética S/A, hidrelétrica localizada no Rio Grande do Sul. A empresa, que tem a Celesc e a Inepar como detentoras da maioria das ações, com 53%, reivindicou financiamentos no valor de R$ 36 milhões junto ao Bradesco e de R$ 67 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A liberação desses financiamentos dependia de aval da Copel Participações, que se colocou ''na qualidade de devedora solidária e principal pagadora de todas as obrigações decorrentes do financiamento contraído pela Dona Francisca Energética''. Essa justificativa consta de ata de Assembléia Geral Extraordinária da Copel Participações realizada no dia 17 de setembro de 2002, mas que só foi divulgada ontem, por força de legislação que obriga a divulgação do edital na imprensa.
A demora na divulgação do edital é um sintoma de que ''muita coisa errada vem sendo feita pela atual gestão que está à frente da Copel'', disse o ex-presidente da estatal, João Carlos Cascaes. Segundo ele, a Copel não precisava assumir a responsabilidade de ser a avalista de empréstimos de suas sócias junto a bancos, ainda mais em empreendimentos que figura como sócia minoritária. Segundo Cascaes, que hoje atua como consultor em energia, a Copel deveria ter escolhido melhor seus sócios. ''Se a diretoria estivesse atenta aos problemas financeiros que vêm sendo enfrentados pela Inepar, certamente teria evitado problemas como esse''.
Em outra ata, também publicada ontem, a Copelpar aprovou o repasse de R$ 5 milhões para a empresa Dona Francisca Energética para integralizar, na proporção de sua cota, prejuízos no valor de R$ 26,5 milhões, durante o primeiro semestre de 2002. A Dona Francisca entrou em operação, mas teve dificuldades em vender a energia. Enquanto isso, venceram financiamentos tomados junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cujo impacto sobre a dívida foi elevada em decorrência da desvalorização cambial.
A mesma ata, que aprovou repasse de recursos para empresas onde a Copelpar atua como sócia, registrou o prejuízo da Copel Participações no primeiro semestre de 2002, no valor de 5,17 milhões. A diretoria da empresa atribuiu esse desempenho negativo à sociedade da Copel Participações com a Sercomtel S/A Telecomunicações e a Sercomtel Celular S/A. As empresas de telecomunicações não vêm tendo bom desempenho no mercado e com a depreciação do real frente ao dólar, os prejuízos foram inevitáveis.
O Conselho de Administração da Copel aprovou ainda um outro empréstimo, no valor de R$ 12,4 milhões, para a empresa Campos Novos Energia S/A, da qual a Copel também figura como sócia minoritária.
Os sucessivos aportes de recursos para empresas parceiras, a indefinição quando ao início do faturamento da Usina Termelétrica de Araucária (UEG Araucária) e o prejuízo registrado no primeiro semeste levaram a Copel a rever o orçamento deste ano, anteriormente fixado em R$ 96,4 milhões, para R$ 106,9 milhões. A diferença de R$ 10,5 milhões teve que ser bancada pela empresa nos últimos quatro meses do ano.
Segundo Cascaes, se a Copel tivesse investido em linhas de transmissão de energia para a região Sudeste não ficaria com um volume de energia nas mãos sem compradores. Outro equívoco da diretoria da Copel na avaliação de Cascaes, foi ter firmado parcerias com empresas que não estão à sua altura no que se revela a suporte financeiro. O aporte de recursos que a Copel vem fazendo, mostra que os sócios utilizam da estrutura financeira da estatal para contrair empréstimos no mercado, sem arcar com a responsabilidade de saldar esses compromissos.
A copel foi procurada pela Folha, mas não se manifestou.