O presidente Luiz Carlos Adati participou de uma comitiva à Câmara para explicar a situação da companhia
O presidente Luiz Carlos Adati participou de uma comitiva à Câmara para explicar a situação da companhia | Foto: Devanir Parra/CML



A Sercomtel proporá até o fim do mês um acordo de repactuação de dívidas trabalhistas para funcionários e ex-trabalhadores com ações contra a empresa, para alongar ao máximo o prazo para pagamento de valores que chegam a R$ 45 milhões. Trata-se da única despesa que a empresa mantém e que ainda não foi renegociada com credores, depois da formalização de acordos tributários e com fornecedores.

A medida também atende às exigências da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) no processo de caducidade da concessão de telefonia fixa, para que a Sercomtel apresente garantias de que não terá problemas em manter a prestação de serviços aos assinantes. Os débitos trabalhistas foram divididos pela empresa entre prováveis, possíveis e remotos. A maior necessidade no momento é negociar os R$ 28 milhões que a empresa londrinense provavelmente terá de pagar em prazo relativamente curto, com objetivo de gerar fluxo de caixa e maior solidez financeira.

Outros R$ 14 milhões são tidos como dívidas trabalhistas possíveis e mais R$ 2,5 milhões, como prováveis. No total, o número de ações judiciais gira em torno de 250. A gerente jurídica da Sercomtel, Luciana Caires, afirma que a ideia é fazer acordos em blocos e que já ouviu de advogados que representam ex-funcionários e dos próprios reclamantes que há interesse em negociar prazos maiores. "Existem conversas iniciadas nesse sentido, mas para isso precisamos tornar a proposta concreta. Faremos isso nos próximos dias e vamos abranger tanto ações de reintegração quanto de verbas trabalhistas", diz Luciana.

Há ainda ações de ex-funcionários de empresas terceirizadas, que incluem a Sercomtel como corresponsável, mas que a advogada considera como secundárias. "O importante é que poderemos fazer o planejamento das despesas e aliviar o fluxo de caixa, com os pagamentos obrigatórios diluídos", diz Luciana. "No momento, é o que pesa porque as demais dívidas foram renegociadas."

EXPLICAÇÕES
Uma comitiva formada por diretores da Sercomtel foi nesta terça-feira, 5, à Câmara Municipal, para dar explicações sobre a situação da empresa e sobre o processo de caducidade ao qual foi submetida. A empresa deve ser intimada nos próximos dias pela Anatel para se defender em um Pado (Processo Administrativo por Descumprimento de Obrigações).

O presidente da Sercomtel, Luiz Carlos Adati, afirmou que trata-se de um patrimônio da cidade, que gera quase 1,5 mil empregos diretos e mais 3 mil indiretos, além de ter recolhido ao Poder Público R$ 64,2 milhões em impostos. Por outro lado, conforme levantamento feito pela FOLHA no balanço de 2016 da companhia, as dívidas no fim do ano passado estavam em R$ 238,9 milhões.

A diretora financeira da Sercomtel, Rosângela Miqueletti, no entanto, apresentou outro quadro aos vereadores. Ela disse que o valor das dívidas pode chegar a R$ 811 milhões, de acordo com a forma como se observa o histórico da empresa. São R$ 201,5 milhões em obrigações a pagar, R$ 419,6 milhões em ações judiciais em andamento e outros R$ 190,3 milhões de prejuízo acumulado, que poderiam ser cobrados pelos acionistas. Como a Copel (45%) e a Prefeitura (55%) são os proprietários da empresa, é pouco provável que isso ocorra.

Rosângela apresentou dados para mostrar o trabalho de gestão financeira desde janeiro. Na comparação entre o primeiro semestre do ano passado e deste ano, a receita aumentou de R$ 124,2 milhões para R$ 132,2 milhões, ou 6,3% a mais, enquanto as despesas foram de R$ 132,9 milhões para R$ 137,6 milhões, ou alta de 3,5%. Assim, o prejuízo caiu de R$ 8,6 milhões para R$ 5,3 milhões, ou queda de 37,4%, mas ainda um balanço no vermelho. "Temos uma geração de caixa operacional positiva, mas insuficiente porque precisamos pagar as contas do passado", explica a diretora.

O próprio prefeito, Marcelo Belinati, que passou pela audiência, afirmou que a repactuação de dívidas trouxe resultados. "O passivo anterior está dois terços resolvido, no sentido de que foi renegociado", disse.

A assessora de gestão da Presidência da Sercomtel, Rosimara Rodrigues, também mostrou as propostas de corte de gastos e de aumento de receita instituídos desde março. A expectativa é de fechar o ano com R$ 8 milhões entre aumento de recebimentos e redução de despesas.

Para o diretor de Operações da Sercomtel, Flavio Borsato, é importante entender que todos os contratos de custeio aprovados no orçamento estão com pagamentos em dia. "A Anatel atesta o desempenho de qualidade de serviços, de metas de atendimento e de participação no mercado. O foco todo do processo é na questão financeira."
Se for decretada a caducidade do serviço, a Sercomtel perderá 75% da receita e manterá 100% das dívidas. Por isso, prefeito Belinati defendeu a necessidade de que Copel e Prefeitura invistam para tirar a empresa dessa situação. "Precisamos que Londrina se una para salvar a Sercomtel", disse.