Incapacidade de investimento e temor das instituições financeiras com a inadimplência são algumas das razões da retração nos empréstimos
Incapacidade de investimento e temor das instituições financeiras com a inadimplência são algumas das razões da retração nos empréstimos | Foto: Shutterstock



A demanda por crédito das micros e pequenas empresas continua em retração. De acordo com o indicador do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes) os empréstimos caíram 6,4% em abril, em relação a março.
Os dados também apontam que os empresários estão mais receosos em relação a tomada de crédito. Somente 6% dos empresários de micros e pequenas manifestaram a intenção de contratar crédito nos próximos 90 dias, contra 85% de entrevistados que não têm esse objetivo. Outros 7% não souberam responder a pergunta.
A alta das taxas de juros pesa nessa decisão, sendo a justificativa de 19% dos empresários. A insegurança com as condições econômicas do País em virtude da recessão foi mencionada por 14%. E 48% afirmaram que conseguem manter o negócio com recursos próprios.
Três em cada dez empresários (29%) consideram difícil o processo de contratação de crédito. O excesso de burocracia e as exigências dos bancos são o principal entrave, mencionados por 48% desses empresários. Em segundo lugar aparecem as taxas de juros elevadas (33%) e as irregularidades na documentação da empresa (3%). A contratação de empréstimo em instituições financeiras é o tipo de mais difícil de se conseguir para 24% da amostra.
O empresariado de micro e pequena empresa também tem se mostrado pouco interessado em realizar investimentos. O indicador de propensão a investir registrou 29,84 pontos em abril, pouco acima dos 28,44 pontos observados em março. O indicador também leva em consideração uma escala que varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, mais o empresário tende a realizar investimentos.

Sebrae
De acordo com coordenador estadual de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae Paraná, Flávio Locatelli, a pesquisa confirma uma tendência de retração da liberação de empréstimos pelas instituições financeiras, que vem ocorrendo desde o ano passado. Algumas instituições reduziram em até 25% as suas carteiras. E as empresas, sentindo os efeitos da crise, também estão segurando a busca por capital com os bancos.
Locatelli afirmou que as instituições financeiras, como os bancos de fomento e cooperativas de crédito, que estão mais próximas dos micros e pequenos, mesmo com os índices de queda da economia, conseguiram registrar crescimento na carteira. "Instituições como a Fomento Paraná e a Sociedade de Garantia de Crédito vêm apresentando crescimento. A Sociedade cresceu em média 80% no Paraná", disse.
As pequenas empresas têm dificuldade de confirmar as informações exigidas pelos bancos privados, como comprovar faturamento, oferecer garantias e isso limita a liberação do recurso. "As instituições de fomento e cooperativas entendem as necessidades dos empresários e oferecem linhas mais baratas. O microcrédito não significa valor pequeno e sim uma metodologia, em que o agente auxilia o planejamento financeiro", explicou o coordenador.

AVALISTA
A inadimplência das empresas com os agentes financeiros também influência na disposição do mercado em liberar crédito. "Os agentes financeiros estão mais cautelosos e restritivos, principalmente por entenderem que as micros e pequenas apresentam maior riscos", afirmou Rodolfo Zanluchi, diretor financeiro da Garantinorte (Sociedade Garantia de Crédito do Norte do Paraná).
O empresariado também está mais cauteloso e, mesmo com os números da economia mostrando uma pequena recuperação, está evitando contratar dívidas. Segundo Zanluchi, mesmo com a redução da Selic, os bancos privados não estão tralhando com esse decréscimo.
Para fugir das altas taxas de juros, os micros e pequenos estão buscando apoio em outras instituições que analisam e avalizam os projetos. "Analisamos os projetos, a capacidade de pagamento e emitimos uma carta de aval. E com isso, o empresário busca o dinheiro nas cooperativas com taxas mais atrativas e os prazos mais elásticos", disse o diretor financeiro.

Planejamento financeiro é essencial
Depois de não conseguir crédito em bancos públicos e privados, a microempreendedora individual Carolina Rocha Barbosa, por causa da burocracia, decidiu procurar a instituição Garanti Norte e está na fase final do pedido de empréstimo.
Ela trabalha há quase uma década com doces gourmet, mas há três anos decidiu formalizar o negócio. Inicialmente, usava o lucro da empresa para reinvestir. Mas com a crise financeira, a empresária percebeu que era necessário investir na empresa.
O empréstimo de R$ 15 mil vai servir para o capital de giro e para a compra de utensílios domésticos que serão usados em um canal de receitas que a empresária pretende lançar em breve. Antes de fechar o negócio, Carolina Barbosa fez uma pesquisa das taxas de juros. "A taxa de juros que consegui foi bem bacana", contou. Ela também procurou contratar um valor que consegue pagar com os rendimentos da empresa.
Fazer esse planejamento financeiro é essencial, explicou o coordenador estadual de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae Paraná, Flávio Locatelli, principalmente no caso dos MEIs (microempreendedores individuais). "Nossas pesquisas mostram que em torno de 50% a 60% dos empresários pensam só até seis meses. Eles precisam entender a instituições financeiras como um fornecedor. É preciso fazer comparação de taxas e buscar as com melhores custos", orientou. (A.M.P.)