O presidente do BC, Ilan Goldfajn: Copom promove a quarta queda seguida na taxa básica de juros
O presidente do BC, Ilan Goldfajn: Copom promove a quarta queda seguida na taxa básica de juros | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil



O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica da economia (Selic) em 0,75 ponto porcentual, de 13,00% para 12,25% ao ano. O corte, anunciado na noite da quarta-feira, 22, foi o quarto consecutivo. A taxa agora está no mesmo patamar de janeiro e fevereiro de 2015.

Alguns economistas e empresários esperavam que o corte pudesse chegar a um ponto porcentual. É o caso do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo. "Pensava que isso pudesse acontecer porque a próxima reunião agora só é em abril. Sei que o Banco Central precisa agir com responsabilidade, mas, com uma expectativa de inflação abaixo de 5% neste ano, poderia acelerar um pouco mais", afirma.

De acordo com Campagnolo, a queda nos juros ainda não refletiu no mercado. E além disso, os bancos estão sendo muito restritivos ao conceder crédito. Ele ressalta que outro fator que dificulta a retomada da economia é a política. "Há ainda uma crise de confiança nas instituições. O presidente (Michel Temer) não deveria nomear ministros que estão sendo investigados na Lava Jato", declara. A desconfiança gerada pela política, na opinião do empresário, leva insegurança para investidores dentro e fora do País. "Há multinacionais querendo investir no Brasil, mas ficam receosas".

Campagnolo esteve em Brasília no início da semana conversando com deputados e senadores sobre a necessidade de aprovarem medidas urgentes para a melhora do "ambiente de negócios" no País. "Entre formais e informais, o desemprego atinge 20 milhões de brasileiros. É preciso urgência para resolvermos esse problema."

EFEITO LENTO
Os economistas dizem que o efeito da baixa de juros na economia real demora até seis meses para ser sentido. A primeira queda da Selic foi em outubro de 2016, quando baixou de 14,25% para 14%. Ou seja, somente a partir de abril as empresas e as famílias passariam a consumir mais. "Os juros para o consumidor são os últimos a cair. O do setor produtivo já deu sinais de regressão", afirma Marcos Rambalducci, economista, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e consultor da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil).

De acordo com ele, a queda da taxa sinaliza a confiança do Banco Central em dois fatores: inflação sob controle e compromisso do governo em controlar seus gastos. "A Selic remunera os títulos públicos. Quando ela cai, faz os títulos ficarem menos atrativos", ressalta. Ou seja, se o governo não gastar mais do que ganha não precisará de vender tantos títulos para se financiar.

Rambalducci ressalta que juros mais altos incentivam o consumidor a comprar e o empresário a aumentar sua produção. "O empresário pensa em tirar seu dinheiro do mercado financeiro, porque não está rendendo mais tanto, e colocar na produção", declara. Os que não têm capital para investir encontram taxas mais atraentes para se financiar no mercado.

O economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcelo Curado diz que a queda nos juros é importante, mas a retomada da economia depende de um conjunto de fatores.

"Há variáveis não macros que são tão importantes quanto as macros. Não temos um modelo de concessões ativado, não fizemos nada para facilitar o ambiente de negócio", destaca.
Ele também afirma que a queda da Selic não chegou à economia real. Pelo contrário. "Como a inflação caiu mais que os juros, o resultado é que os juros reais subiram um pouco. Ainda não houve queda real de juros."

Assim como Campagnolo, Curado diz que a politica ainda pesa bastante no cenário econômico. "A Lava Jato continua fazendo estrago no campo político. Além disso, tem a possibilidade de cassação da chapa (que elegeu Dilma Rousseff presidente e Michel Temer, vice-presidente). Há muita incerteza rondando o governo", diz.