A redução das taxas de juros e dos estoques prontos das construtoras podem estimular novos empreendimentos e a recuperação do mercado imobiliário em Londrina
A redução das taxas de juros e dos estoques prontos das construtoras podem estimular novos empreendimentos e a recuperação do mercado imobiliário em Londrina | Foto: Marcos Zanutto/17-07-2013


A retomada da linha de financiamento pró-cotista anunciada no começo da semana pela Caixa gerou uma expectativa positiva na construção civil. A modalidade oferece taxas de juros mais acessíveis para quem não se enquadra no programa Minha Casa, Minha Vida e havia sido suspenso em junho do ano passado.

O setor afirma que a crise econômica passou, mas que a recuperação deverá ser lenta. O balanço da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostrou que em 2017 o mercado imobiliário manteve tendência de queda. No terceiro trimestre as vendas nacionais caíram 5,1% e os lançamentos diminuíram 11% em comparação com o segundo trimestre do ano.

Quando considerado o desempenho do setor em 2016, os dados do terceiro trimestre de 2017 apontam uma melhora de cenário em relação ao igual período de 2016. Tanto as vendas como lançamentos cresceram 4,2% e 14,7%, respectivamente.

A expectativa para 2018, segundo o estudo da CBIC, são positivas, mas dependem da retomada dos financiamentos e de maior segurança jurídica, com o restabelecimento das garantias de que os contratos serão respeitados.

De acordo com o presidente do Sinduscon-Norte/PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná), Rodrigo Zacaria, qualquer liberação de crédito é positiva para melhorar o cenário atual, mas criticou as taxas de juros praticadas no País. "Para o mercado a retomada do pró-cotista é ótimo. Mas as taxas de juro deveriam ser mais baixas. O Brasil tem uma taxa muito alta, o que torna o financiamento caro ao longo dos anos", afirmou.

A Caixa vai disponibilizar R$ 4 bilhões para essa modalidade. Em 2017, foram R$ 6,1 bilhões emprestados na categoria. O crédito pode ser pago em até 30 anos e destinado para imóveis de até R$ 800 mil. A modalidade oferece taxa de juros de 7,85% (clientes com débito em conta ou conta-salário) a 8,85% ao ano - é a menor para quem não se enquadra no programa federal Minha Casa, Minha Vida.

O financiamento é destinado para trabalhadores que possam comprovar que estão trabalhando no mínimo há 36 meses sob o regime do FGTS ou ter saldo em conta vinculada de, ao menos, 10% do valor do bem a ser financiado. As regras ainda determinam que o interessado não pode ter imóvel na cidade ou região metropolitana onde mora ou trabalha, não pode ter outro financiamento habitacional em qualquer parte do País.

LANÇAMENTOS

Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em Londrina mostrou que 18% dos entrevistados têm a intenção de adquirir um imóvel nos próximos meses. Mas o gerente regional da Plaenge, Olavo Batista, afirmou que falar em crescimento de vendas por causa da abertura do pró-cotista é muito difícil. "O que pode ocorrer é uma antecipação na decisão de compra, ocorrendo o efeito 'senso de urgência'. As pessoas podem antecipar a compra para aproveitar a oportunidade", comentou.

A construtora terá lançamentos em 2018 e alguns deles se enquadrarão na modalidade. Além dos lançamentos que ocorrerão, um empreendimento entregue em dezembro de 2017, o Tresor, conta com algumas unidades que se enquadram de imediato nessa modalidade de financiamento, já estando aptas para serem financiadas.

Imagem ilustrativa da imagem Retomada de linha de crédito da Caixa anima construção civil
| Foto: Marcos Zanutto/17-07-2013



Com a suspensão da linha de crédito no ano passado, os clientes da Plaenge utilizaram outras formas de financiamento, por isso a empresa não sentiu uma queda nas vendas com a suspensão. Mas Batista acredita que o teto de R$ 800 mil pode aumentar a procura por imóveis prontos nos primeiros meses do ano. Ele lembra que os tomadores de crédito devem ter atenção a alguns detalhes antes de fechar o negócio como a situação documental do imóvel e do vendedor.

Para o gerente a retomada da linha de crédito "não será o único fator que poderá motivar as pessoas a comprar imóveis nos próximos seis meses. É claro que pode ajudar, mas tem que somar a esse fator, produtos prontos com boa qualidade de execução, documentação apta do imóvel e do vendedor e agilidade do processo de financiamento. A somatória desses fatores pode fazer com que a previsão do Sebrae seja superada".

A redução das taxas de juros e dos estoques prontos das construtoras tendem a gerar a recuperação do mercado imobiliário com a volta dos lançamentos, acredita o gerente da Yticon, empresa do Grupo A.Yoshii, Leonardo Schibelsky. "O pró-Cotista é uma linha de crédito atrativa, que tende a viabilizar novos financiamentos e, consequentemente, o sonho da casa própria", disse. Mas ressaltou que o valor liberado pela Caixa é baixo para a demanda do mercado.

Ele afirmou que o grupo acredita na retomada do mercado e está projetando lançamentos que se enquadram em todas as linhas de crédito. "A questão do crédito tende a ficar cada vez melhor com a Selic se mantendo baixa."

Crédito menor preocupa associação dos mutuários

A ABMH (Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação) vê com cautela a retomada da linha pró-cotista. Segundo a associação, nos últimos três anos, o crédito tem acabado antes do prazo previsto, provocando problemas aos mutuários. "Essa bola de neve parece não ter fim, uma vez que as novas suplementações, em valor menor como a que ocorre neste ano, podem não ser capazes de atender aos contratos pendentes e às novas demandas dos mutuários candidatos a financiamento", avalia Vinícius Costa, presidente da entidade.

Considerando esse histórico recente da modalidade, bem como a liberação de menos recursos do que o ano passado, antes de fechar um negócio, o conselho de Costa é não esquecer de se certificar de que há recursos disponíveis para o seu financiamento e que o mesmo será devidamente liberado.

"Um financiamento não assinado dentro da linha pró-cotista gera duas situações: rescisão da promessa de compra e venda ou assinatura de financiamento em outra modalidade muito menos benéfica. Em ambas as situações, quem perde é o comprador, seja porque pode ter de arcar com uma penalidade contratual, ou com um financiamento mais caro", explica Costa.

Na opinião do presidente do Sinduscon-Norte/PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná), Rodrigo Zacarias, a concentração dos financiamentos pela Caixa não é um bom modelo para o País, e que se houvesse uma melhor distribuição dos financiamentos por outras instituições as taxas poderiam ser menores.

"A Caixa ainda domina o mercado, principalmente porque com juros altos os bancos preferem utilizar os recursos para capital de juro. Com os juros baixando acredito que possa haver uma migração para o financiamento habitacional", avaliou o presidente do Sinduscon-Norte. Hoje, Santander, Bradesco e o Banco do Brasil também estão oferecendo linhas de crédito habitacionais.