Brasília – Para não entrar novamente na espiral da inflação e do baixo crescimento, o Banco Mundial diz que o Brasil precisa reduzir os gastos na proporção de 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto) a cada ano, o equivalente a R$ 9,834 bilhões, a valores registrados no segundo trimestre deste ano pelo IBGE.
O documento sugere um conjunto de medidas que poderiam aliviar a pressão sobre o caixa federal no equivalente a 7,07% do PIB até 2026.
Algumas delas, porém, exigem contrariar grupos com forte influência no governo e no Congresso Nacional, como os servidores públicos, que ganham os salários mais altos. "Não queremos ser intrusivos", disse o economista-chefe do Banco Mundial, Antonio Nucifora. "O papel do relatório é estimular o debate."
As sugestões envolvem também um enxugamento de 1,29% do PIB nos gastos de Estados e municípios, elevando o potencial de economia a 8,36% do PIB. O banco é taxativo no seu diagnóstico: os programas governamentais beneficiam os ricos mais do que os pobres. E apesar do alto volume de gastos públicos, a política fiscal tem tido pouco sucesso na redução da desigualdade e da pobreza.
A medida com mais impacto é a reforma da Previdência, que poderia levar a uma economia de gastos correspondente a 1,8% do PIB. "A Previdência é o motor do desequilíbrio fiscal", resumiu o diretor do Banco Mundial para o Brasil, Martin Raiser.
Mantida a situação atual, aponta o estudo, daqui a 13 anos os pagamentos com aposentadorias e pensões estarão ocupando todo o limite do teto de gastos do governo federal. Não vai sobrar dinheiro para salários, manutenção de escolas e hospitais e muito menos para investimentos. Em 2080, o rombo da Previdência corresponderá a 150% do PIB brasileiro.
Depois da Previdência, a segunda maior economia calculada pelo Banco Mundial viria do ataque ao Simples Nacional, regime tributário diferenciado e simplificado para pequenos e médios negócios. Segundo o relatório, não foram identificados impactos positivos do programa no mercado de trabalho ou no desempenho das empresas. Além disso, o programa inibe o crescimento das empresas e ajuda a manter vivos empreendimentos que não são eficientes. Finalmente, pelo diagnóstico traçado pela instituição, o Simples beneficia pessoas físicas de alta renda que recolhem impostos como se fossem empresas.
Segundo Raiser, o Estado brasileiro é mais ou menos do tamanho de um Estado europeu médio. Mas, no velho continente, os gastos governamentais com programas sociais ajudam a reduzir a desigualdade. Isso não ocorre no Brasil. "A realidade é que os pobres se beneficiam muito menos dos gastos públicos", disse. Ele acrescenta que, por atender principalmente às pessoas de renda média e alta, esses programas são passíveis de ajuste.