O aumento da resistência da ferrugem asiática aos fungicidas disponíveis no mercado torna necessário que o agricultor faça um acompanhamento mais profissionalizado do plantio e da colheita, para evitar perdas que chegam a R$ 2 bilhões por safra, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os atalhos de manejo mais comuns, como o uso do mesmo tipo de antifúngico em sequência, aceleram a seleção e a resistência da doença que mais gera perdas na cultura em todo o País.

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Cooperação interestadual

Com a colheita da primeira safra perto do fim, é preciso que o produtor entenda que não basta mais apelar para as soluções tecnológicas, mas também tomar cuidados "de antigamente" e nem sempre respeitados, como a rotação de culturas, o plantio já nos primeiros dias da calendarização e o uso de multissítios. Caso contrário, há risco de prejudicar os próprios ganhos e os de toda a cadeia no Estado, conforme debate durante o seminário "Desafios e Oportunidades na Defesa Sanitária Vegetal", promovido pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) entre na última semana (9 a 11), em Londrina.

Dados apontam que a repetição de fungicidas, mesmo os recém-lançados, pode levar à perda de eficácia de 90% para 60% no controle da ferrugem em apenas um ano
Dados apontam que a repetição de fungicidas, mesmo os recém-lançados, pode levar à perda de eficácia de 90% para 60% no controle da ferrugem em apenas um ano | Foto: Fotos: Maurício Meyer/Embrapa



Eficiência
A pesquisadora Claudia Vieira Godoy, da Embrapa Soja, mostrou dados que apontam que a repetição de fungicidas, mesmo os recém-lançados, pode levar à perda de eficácia de 90% para 60% no controle da ferrugem em apenas um ano. "Chegamos a ter 50 fungicidas para ferrugem e hoje temos cinco com controle satisfatório, entre 60% e 80%. Se a eficiência diminuir para 40%, por exemplo, a produtividade da safra cairá em 20%", disse.

Ela contou que o aumento da resistência do fungo causador da ferrugem asiática (o Phakopsora pachyrhizi) ocorre por simples seleção natural e não pode ser evitado. A solução, então, é usar um grupo de ações de manejo, que inclui o respeito ao vazio sanitário, a antecipação do plantio para a data mais inicial possível da calendarização de cada região, a rotação de culturas para evitar a sobrevivência e o fortalecimento da doença, a alternância entre fungicidas e o uso de protetores com ação multissítio.

Ainda, é preciso monitorar constantemente a proliferação na região por meio do endereço eletrônico. "Quando aparece um problema, cooperativas ou técnicos informam, esse ponto entra no mapa, em vermelho, porque o fungo se dissemina pelo vento", afirmou a pesquisadora. "Se apareceu na região do produtor, ele pode antecipar a aplicação para proteger a lavoura, porque os fungicidas não tem hoje uma ação curativa tão boa", completou.

Claudia alertou também que, apesar de o Paraná ter adotado a calendarização há muito tempo para limitar a semeadura até 31 de dezembro e reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra, existem produtores que insistem em ultrapassar o período ou que fazem o plantio de soja de segunda safra já na sequência da primeira, o que eleva a necessidade do insumo para até sete aplicações e põe em risco todo o setor produtivo da região. "Quanto mais cedo o produtor planta, menos ele precisará aplicar. Se fizer o monitoramento, consegue reduzir para até uma aplicação", explicou.

Até multa
O gerente de sanidade vegetal da Adapar, Marcílio Araújo, afirmou que o órgão fiscaliza os produtores com base em duas portarias, a que exige o vazio e a que determina a calendarização. "Isso foi estipulado sempre com base em pesquisa, porque a Adapar não toma decisões isoladas", disse.

Porém, ele lembrou que há produtores que não cumprem ou não entendem o objetivo das medidas. "Então temos a fiscalização feita no campo, com notificações e autuações, para que o produtor estabeleça um prazo para que se faça toda a colheita até 15 de maio, ou para que se interrompa o ciclo", citou.

Araújo considerou que é preciso colocar na balança se o risco de plantar a safrinha vale a pena. "Representa 5% a 6% da área plantada do Paraná e, embora importante economicamente, pode prejudicar o restante do Estado na safra normal, que é o grande momento de produção."