Brasília - Sem perspectiva de acordo para os próximos dias entre o governo e seus aliados na Câmara, líderes da base admitem que a votação da medida provisória (MP) nº 475, de reajuste dos benefícios dos aposentados que recebem valor superior a um salário mínimo, deve ficar para a última semana de abril.
Há um impasse na negociação feita na Câmara com os aliados, em torno de um índice de reajuste de 7%, e da proposta dos líderes governistas no Senado, que defendem 7,71%. O acordo, que não é viável nesta semana, é impossível também na próxima, pois, tradicionalmente, projetos polêmicos não são postos em votação numa semana interrompida por um feriado, como ocorre no próximo dia 21 (Tiradentes).
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reafirmou que o governo chegou ao limite e que não poderá conceder um aumento maior do que os 7%. Ontem, o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, foi mais incisivo ao afirmar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá vetar um eventual aumento superior aos 6,14% acertados pelo governo com as centrais sindicais.
''Tem gente que aproveita o período eleitoral para fazer demagogia'', disse o Cândido Vaccareza. Segundo ele, o governo já concedeu aumento real às aposentadorias acima de um salário mínimo, cujos valores inicialmente seriam corrigidos apenas pela inflação de 3,45% registrada de fevereiro a dezembro do ano passado.
Relator da MP, Vaccarezza afirmou que vai apresentar seu parecer com o índice de 7%, no lugar dos 6,14% fixado no texto original da MP. ''Os 7% estão garantidos pelo presidente Lula'', afirmou Vaccarezza. Acima desse porcentual, o presidente Lula poderá vetar, segundo o líder, em nome da responsabilidade fiscal. Dados de Vaccarezza apontam uma despesa em torno de R$ 5 bilhões com o pagamento do reajuste de 7%.
Os deputados da base temem o desgaste com os aposentados, caso os senadores aprovem o índice maior. ''Há preocupação dos líderes de que o Senado não apareça fazendo bondade (nessa votação que beneficia os aposentados), e a Câmara não apareça bem'', disse Vaccarezza.
''A maioria da base avalia que não dá para ter uma votação aqui (na Câmara) sem a garantia de que seja a mesma no Senado'', afirmou o líder do bloquinho (PCdoB, PDT, PSB, PMN e PRB), deputado Daniel Almeida (PDT-BA).