Com os recentes cortes determinados pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, desceu a 12,25% ao ano, menor patamar desde 2015. A queda não surpreendeu analistas econômicos, que já vinham prevendo a mudança com base no movimento da inflação, também em declínio. Com o novo cenário, muita gente ficou em alerta: qual o impacto de uma Selic mais baixa nos investimentos financeiros? Não é preciso desespero. As aplicações em renda fixa seguem em alta, por exemplo, já que mesmo com a Selic menor, os juros brasileiros continuam elevados.

Com dinheiro aplicado justamente no Tesouro Direto Selic, impactado diretamente pela taxa, a auxiliar de enfermagem Silvia de Mattos admite que ficou preocupada com os rendimentos futuros. "Como eu não vivo o dia a dia da economia, não sou tão conhecedora desses bastidores, acabei levando um susto quando vi notícias sobre a queda", conta. A saída para ela foi procurar a gerente do banco em que é cliente para buscar mais informações. "Ela me acalmou e decidi não fazer alterações, pelo menos agora, já que seriam antes do prazo estabelecido na contratação e poderiam trazer prejuízos", revela Silvia.

Gilmar Mendes Lourenço: "O investidor precisa saber o que ele quer"
Gilmar Mendes Lourenço: "O investidor precisa saber o que ele quer" | Foto: Agência Estadual de Notícias



A escolha parece acertada. O Tesouro Selic já viveu dias melhores, mas ainda permanece como aplicação atrativa: sua remuneração é dada pela variação da taxa registrada entre a data da compra e a de vencimento do título. Descontada a inflação do período e outras despesas, é possível obter um retorno maior do que de outras aplicações, como a caderneta de poupança, por exemplo, principalmente quando a taxa de administração for baixa ou quando a corretora não cobra taxa.

"A queda nos rendimentos devido à Selic é generalizada e vai atingir diversas aplicações. Então não é aconselhado fazer mudanças apressadas, por impulso. É preciso avaliar com cautela", observa o economista e professor do curso de Economia do Unifae, de Curitiba, Gilmar Mendes Lourenço.

E fique atento: no Tesouro Direto, assim como em outros investimento, há cobrança do Imposto de Renda. A alíquota é regressiva, ou seja, quanto mais tempo os recursos ficam aplicados, menor será o IR pago pelo investidor. Para aplicações de até seis meses, é de 22,5%, caindo para 20% entre seis meses e um ano. Se o prazo da aplicação superar um ano, mas for retirada antes de completar o segundo ano, o IR fica em 17,5%. Acima de dois anos de prazo, a alíquota é de 15%.

Preste atenção ainda em taxas de administração, já que com a tendência de queda dos juros, esse custo passa ter uma influência maior na rentabilidade líquida da aplicação.

Luiz Augusto Pacheco: "O investidor precisa saber o que ele quer"
Luiz Augusto Pacheco: "O investidor precisa saber o que ele quer" | Foto: Divulgação



CDB
O CDB prefixado vem ganhando espaço e pode conquistar mais adeptos após a baixa da Selic, com percentuais de retorno atrativos. Tesouro IPCA de longo prazo, Tesouro prefixado, Fundos DI e as Letras de Crédito Agrícola e de Crédito Imobiliário são boas opções para quem tem perfil conservador. Aliás, traçar seu perfil e definir qual o objetivo que se quer alcançar com o investimento é o primeiro passo. "Definir qual é o prazo em que o dinheiro vai ficar aplicado, se vai ser utilizado no futuro para uma aposentadoria. O investidor precisa saber o que ele quer", aconselha o gestor da Inva Capital, Luiz Augusto Pacheco.

Quem tem recursos extras e um perfil mais arrojado pode apostar no mercado de ações, que teve grande rentabilidade em 2016. "O ideal é diversificar as aplicações. Distribuir em renda fixa, em renda variável, fazer um planejamento estratégico, a médio e longo prazo, e corrigir com mudanças leves ao longo dos meses, de acordo com a movimentação do mercado", aconselha o sócio da Toro Investimentos, André Chede. O professor Gilmar Lourenço concorda. "Eu dividiria em quatro partes: aplicaria uma em Tesouro Direto, outra em títulos prefixados, uma em ações e outra em poupança", sugere.

Para economista, taxa pode fechar ano abaixo de 9%
O corte de 0,75 ponto percentual na taxa de juros básica, anunciado em fevereiro pelo Copom, deve se repetir ao longo do ano. A próxima reunião ocorre em abril. "A recessão derrubou a inflação e, como consequência, a Selic deve acompanhar o movimento. É possível que feche o ano abaixo de 9%", projeta o economista e professor do curso de Economia do Unifae, Gilmar Mendes Lourenço.

Para o IPCA, a inflação oficial do país, a previsão é que fique em 4,43% em 2017, abaixo da meta central de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano.

Com juros e inflação em queda, não se deve considerar apenas os juros pagos ao escolher um investimento, mas também a expectativa de juros e inflação para os próximos anos. A partir disso, deve-se calcular a taxa real de juros. Uma conta simples de subtração pode servir de referência: Se a Selic for de 9% e a inflação de 4,43%, os juros reais são de 4,57%. A indicação, portanto, é procurar aplicações que paguem uma taxa real acima desse valor.

E diante da nova realidade de mercado, é possível que, em um ou dois anos, investidores tenham que buscar aplicações de maior risco para obter retornos como os obtidos até agora. Uma alternativa é apostar em fundos multimercados, que investem em vários tipos de ativos simultaneamente, como ações, moedas, contratos de juros futuros e títulos públicos. Mas é preciso, novamente, consultar as taxas de administração e ainda o valor mínimo para o investimento.