O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, participou de inspeções a frigoríficos no Paraná
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, participou de inspeções a frigoríficos no Paraná | Foto: Rodrigo Fonseca/AFP



União Europeia, China, Chile, Hong Kong, Suíça e Jamaica suspenderam a importação de carne brasileira após a operação da Polícia Federal (PF) revelar violação de regras sanitárias por frigoríficos nacionais. A Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) estima que as restrições possam reduzir entre 10% e 15% o volume de carne exportada. Os preços da carne podem cair no mercado internacional em torno de 20%. Segundo a AEB, o Brasil pode perder entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões em exportações. Em 2016, os embarques de carne chegaram a US$ 12,7 bilhões.

No ano passado, o Paraná exportou US$ 2,543 bilhões em carne, o que corresponde a 16,76% do total de exportações paranaenses. O Estado tem 494 indústrias desse segmento – equivalente a 11,48% do total de estabelecimentos de carnes do país –, que geram 91 mil empregos diretos, segundos dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

As cooperativas de agroindústrias estão cautelosas em projetarem um cenário futuro. O diretor-presidente da Copavel, Dilvo Grolli, afirmou que, "o mercado interno e externo está começando a entender que os casos dizem respeito a um percentual mínimo de empresas, que não compromete a cadeia".

A Copavel com sede em Cascavel (Oeste) conta com 4.750 associados e produz em média 250 mil frango ao dia e 1.500 suínos. A cooperativa exporta para 30 países. Em 2016, o faturamento cresceu em torno de 15% e a cooperativa pretende investir em torno de R$ 60 milhões este ano, na ampliação de armazéns e recepção de grãos.

Segundo a Copacol, de Cafelândia (Oeste), ainda é cedo para avaliar os impactos da operação da PF. A cooperativa tem contêineres no porto aguardando a liberação para embarcarem para a Europa. Para o diretor presidente da CooperAliança, Edio Sander, que atua com corte nobre, as agroindústrias precisam estar preparadas para uma retração do mercado, mas que ainda é cedo para fazer projeções. "O momento é de reforçar a credibilidade do nosso produto, que tem que estar acima de qualquer tipo de ameaça", disse Sander.

A C.Vale com sede em Palotina (Oeste) também está aguardando as definições do mercado. Eles estão embarcando produtos para a China, mas o contêineres estão retidos para analise da carne. "Essa operação criou uma insegurança enorme. São milhares de fornecedores, funcionários e mercados conquistados depois de muita negociação que estão em jogo", afirmou o presidente Alfredo Lang.

A cooperativa exportou em 2016 em torno de 50% da produção de carne de frango. Foram quase 140 mil toneladas para o mercados como Reino Unido, Alemanha, Holanda, Chile, China, Arábia Saudita, China, Cingapura, Rússia, Coreia do Sul e Japão. "Estamos ampliando a produção de 460 mil para 520 mil aves/dia agora em 2017. Inclusive estamos contratando mais 700 pessoas para atender a essa necessidade de expansão", disse Lang.

QUEDA DE PREÇO
O Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sidicarne) comentou, por meio da assessoria de imprensa, que a participação de carne bovina no mercado internacional é pouco expressivo. Mas a preocupação é com a queda do preço, caso o mercado interno tenha que absorver o produto que deixar de ser exportado.

Segundo o Sindicarne, agora é um momento de observação. A pecuária paranaense vem num crescente nos últimos anos, principalmente no ano passado quando a arroba estava com preços estimulantes. Para o sindicato é preciso investir em novas políticas de incentivo à pecuária para a região Noroeste do Estado, que contam com quase três milhões de hectares de pastagens degradas e que poderiam ser recuperadas com as novas tecnologias disponíveis no mercado.

O Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) afirmou, também por meio de assessoria de imprensa, que as consequências da operação Carne Fraca são inevitáveis, mas que os acontecimentos ainda são recentes para mensurar os reflexos no setor. O Sindiviapar está fazendo um levantamento junto às associadas para dimensionar os impactos. O Paraná responde por 30% da produção nacional de carne de frango e 35% das exportações nacionais.

DEPOIMENTOS
Os presidente do Sindicarne, Péricles Pessoa Salazar; e do Sindiavipar, Domingos Martins, foram citados na operação da Polícia Federal. De acordo com a assessoria de imprensa do Sindicarne, a relação do presidente com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é apenas em função das atribuições do cargo no Sindicarne e que ele prestou os esclarecimentos à PF.

O nome de Salazar apareceu em grampos telefônicos autorizados pela Justiça. No despacho do juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, Salazar "também parece ser um dos advogados da empresa BRF, pois manteve contato com o lobista daquela empresa e também investigado Roney, tratando de assuntos jurídicos da BRF".

Em um diálogo entre Roney Nogueira Dos Santos, gerente de Relações Institucionais da BRF, e Salazar, ambos conversam sobre a pressão que a BRF sofria de outra fiscal, para a produção de um documento falso.

Nesta terça-feira (21), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, esteve na Região Metropolitana de Curitiba fazendo vistorias em frigoríficos denunciados na operação.