Meirelles comemora os resultados, mas não descarta a possibilidade de que a economia volte a mostrar alguma fraqueza no segundo trimestre
Meirelles comemora os resultados, mas não descarta a possibilidade de que a economia volte a mostrar alguma fraqueza no segundo trimestre | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil



O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1% no primeiro trimestre do ano, comparado ao quarto trimestre de 2016 com o ajuste sazonal. É o primeiro desempenho positivo após dois anos de quedas consecutivas. No entanto, apesar de o governo federal avaliar a queda como o fim da recessão, economistas avaliam que é cedo para se falar em retomada. Até porque, na comparação com o mesmo período do ano passado, o recuo do PIB foi de 0,4%. Mais uma vez, o agronegócio puxou a elevação da produção nacional, com crescimento de 13,4%. A indústria teve um desempenho mais tímido (0,9%) e o serviço ficou estável.

Em valores correntes, o PIB no primeiro trimestre de março de 2017 totalizou R$ 1,6 trilhão. A taxa de investimento no primeiro trimestre de 2017 foi de 15,6% do PIB, abaixo da observada no mesmo período do ano anterior (16,8%). A taxa de poupança foi de 15,7%, ante 13,9% no mesmo período de 2016.

O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, atribuiu o crescimento ao conjunto de ações de política econômica que tem sido implementado nos últimos doze meses. "Esse PIB se soma a outros números positivos que demonstram que a recuperação econômica está em curso e que terá continuidade nos próximos trimestres", afirmou o ministro.

Apesar do discurso do Planalto, os economistas são mais reticentes em falar em fim da recessão. De acordo com o professor Sílvio Paixão, da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), os números da economia não se sustentam com a situação atual, pois as empresas estão sacrificando margens de lucro para garantir vendas. "Teoricamente falando, saímos da recessão, mas se olharmos com propriedade só poderemos afirmar isso quando tivermos três trimestres seguidos com aumento de produção. O que podemos dizer agora é que a economia parou de piorar", avaliou o professor.

DESEMPREGO
Paixão acredita que os segmentos de comércio e serviços não devem apresentar uma recuperação a curto prazo. "É algo que vai ocorrer ao longo deste ano e no começo do ano que vem. As pessoas ainda estão assustadas com o desemprego e em consumir por impulso", disse. Para ele, a volta dos investimentos e do desenvolvimento dos negócios ocorrerá com uma mudança de expectativa de mercado. "Não temos no horizonte próximo essa mudança", comentou.

O economista Roberto Zucher, da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), considera o percentual ainda tímido, principalmente porque ao comparar com primeiro trimestre do ano passada a queda foi 0,4%. O Valor Adicionado a preços básicos teve variação negativa de 0,3% e os Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios recuaram em 0,8%.

A agropecuária cresceu 15,2% em relação a igual período do ano anterior. A indústria sofreu queda de 1,1%. O valor adicionado de serviços caiu 1,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A despesa de consumo das famílias caiu 1,9% e a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) sofreu contração de 3,7% no primeiro trimestre de 2017, a décima segunda consecutiva.

"Se você avaliar os números sem o ajuste sazonal, o percentual foi menor. É positivo porque foi o primeiro trimestre com crescimento em dois anos, mas é ainda muito tímido", comentou o economista. Segundo ele, a supersafra puxou toda a economia, o que ainda trará reflexo ao desempenho do segundo trimestre. "As exportações também colaboraram para esse percentual positivo. Com o mercado interno retraído, procurou-se novos mercados. Mas há variáveis que dão sustentação ao desempenho negativo como a FBCF e a redução do consumo das famílias", disse Zucher.

Meirelles: ‘A recessão acabou’
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, comemorou o fim da recessão, mas não descarta a possibilidade de que a economia volte a mostrar alguma fraqueza no segundo trimestre. Ele reafirmou a previsão de que a economia brasileira crescerá 0,5% no ano de 2017 e terminará o quarto trimestre com ritmo de expansão de 2,7% na comparação ante igual período de 2016.

"Sim, a recessão acabou. Não há duvida", disse. O ministro da Fazenda notou, porém, que quando um país "retoma o crescimento não é uma linha reta". Meirelles explicou que em momentos de volta ao crescimento ou início de recessão é comum que trimestres seguidos mostrem comportamento não linear.

Segundo o ministro, a expectativa é de crescimento para o conjunto do ano. "O que nós esperamos é que, durante o decorrer do ano, continue a crescer e chegaremos ao final do ano com ritmo de crescimento sólido de cerca de 3% ao ano", disse.

O presidente Michel Temer voltou a usar as redes sociais para comemorar o resultado PIB. "O Brasil venceu a recessão. Estamos crescendo e é uma taxa superior ao que boa parte dos analistas previam", comemorou o presidente, em vídeo postado na sua página do Twitter. (Com Agência Estado)

Crise política ainda atrapalha
O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em março de 2017 recuou 2,3% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Esta taxa resultou da contração de 2,1% do valor adicionado a preços básicos e do recuo de 4,1% nos impostos sobre produtos líquidos de subsídios. A agropecuária registrou desempenho de 0,3%, a indústria, de –2,4%, e os serviços, de –2,3%.

O resultado do PIB deixou o Brasil na última posição em um ranking com 39 Países elaborado pela Austin Rating. Apenas a Grécia, penúltima colocada, também teve desempenho negativo nessa base de comparação, em -0,3%.

O Brasil foi superado pelas economias da Ucrânia e Rússia, que nas edições anteriores estavam com desempenhos piores, segundo a agência classificadora de risco. "O cenário político ainda muito turbulento interfere diretamente nas previsões para o desempenho do PIB de 2017 e 2018 em virtude do risco da não aprovação da reforma da Previdência, que é fator fundamental para desatar o nó das expectativas dos agentes econômicos que, por sua vez, impacta diretamente na alocação de recursos para investimentos em máquinas e equipamentos e em mão de obra", destacou Alex Agostinio, economista-chefe da Austin Rating, em informe econômico.

Agostini, no entanto, manteve a projeção de expansão do PIB em 2017, em 0,7%, e de 2,2% para 2018, baseada nos resultados dos indicadores antecedentes dos últimos meses "que revelou contínua recuperação da confiança na economia apesar do campo político muito turvo".
O diretor para a América Latina da Moody’s Analytics, Alfredo Coutiño, avaliou que se a crise política continuar ao longo do ano, a incipiente retomada econômica pode sair dos trilhos e, no pior cenário, o Brasil pode voltar ao quadro recessivo. "A economia pode voltar para a recessão e não ver uma recuperação até o próximo governo em 2019", afirmou. (Agência Estado)