Na avaliação de economistas, Sercomtel não consegue competir com as grandes companhias: um exemplo é que a telefônica londrinense ainda não implantou a tecnologia 4G
Na avaliação de economistas, Sercomtel não consegue competir com as grandes companhias: um exemplo é que a telefônica londrinense ainda não implantou a tecnologia 4G | Foto: Roberto Custódio



Já passou a hora de vender a Sercomtel. É o que dizem contadores e economistas que analisaram as contas da empresa a pedido da reportagem. A operadora, cujas ações pertencem ao Município de Londrina (55%) e à Companhia Estadual de Energia Elétrica (Copel – 45%), terminou 2016 com um prejuízo estimado em R$ 20 milhões, conforme adiantou a FOLHA na edição desta segunda-feira (20).
"O problema não está nas administrações da Sercomtel, mas no setor de telecomunicações", diz o economista e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Marcos Rambalducci, que também é consultor da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil). Segundo ele, só conseguem competir neste setor as operadoras que trabalham com escala. "As telecomunicações são vistas como commodity, no sentido de que é difícil fazer uma diferenciação entre os produtos. As pessoas brigam por preço porque não conseguem ver diferenças nos serviços", afirma. Esse fator leva a uma guerra de preços. "Só tem um jeito de ganhar dinheiro assim: é ganhando em escala. Como a Sercomtel pode competir com uma Vivo? Para cada celular que a Sercomtel tem, a Vivo tem mil. A competição é desleal", justifica.
Ex-funcionário da operadora e também da antiga Telepar, Rambalducci afirma que o setor passa por mudanças e isso é um agravante para a Sercomtel. "Os clientes não querem mais serviços de voz. Ninguém mais sequer atende um telefone fixo. Querem fluxos de dados. Não precisam mais de voz." E a telefônica já está atrasada na implantação do sistema 4G, disponível na concorrência. "Para implantar a nova tecnologia, a Sercomtel vai precisar de um capital estúpido", acredita.
Para o economista, "do jeito que está", a Sercomtel é incapaz de sobreviver "no médio prazo". "Já acho difícil em curto prazo", declara. Ele acredita que a empresa deveria ter sido privatizada já em 2002, quando o então prefeito Nedson Micheletti (PT) consultou a população a esse respeito. "Os sócios deveriam ter vendido a Sercomtel e comprado ações da TIM. Esse era o negócio. Teria sido um bom negócio." Na visão de Rambalducci, a Prefeitura não soube comunicar à população a importância de privatizar a empresa. O "não" venceu o plebiscito. Uma lei municipal impede a venda de ações da telefônica sem consulta popular.

OLIGOPÓLIO
Outro que duvida da possibilidade de a Sercomtel vencer a concorrência é o economista e professor da Faculdade Paranaense (Faccar) Márcio Massaro. "A estrutura de mercado na qual essas empresas operam é a estrutura de oligopólio. Dentro dessa estrutura, ocorrem as maiores disputas por pequenas fatias de mercado. Então, normalmente, as empresas que operam em oligopólio possuem estratégias muito agressivas", justifica.
Ele também ressalta a necessidade de ganho em escala. "As empresas normalmente são gigantes e possuem uma escala de operações que, por si, abafa a possibilidade de entrantes ou empresas de menor porte. A Sercomtel está inserida nessa estrutura."
O fato de ser a única empresa pública de telecomunicações do País é outro dificultador, segundo Massaro. "Será que é possível uma empresa progredir num modelo de gestão com enorme grau de intervenção política?", questiona. "Essa estrutura de oligopólio não é para empresas que possuem amarras. Ao contrário, tem que ter porte, agilidade decisória e capacidade de investir para o longo prazo. Caso contrário, não participa do mercado", sentencia.