Os desafios do Iapar para os próximos 45 anos
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quarta-feira, 28 de junho de 2017
Victor Lopes<br>Reportagem Local
Sem pesquisa e geração de novas tecnologias, indubitavelmente, o agronegócio paranaense não teria a mesma pujança econômica de hoje. Como diversos outros setores, foi essa capacidade de se modernizar deixar para trás os modelos que não funcionavam mais que coloca hoje o Paraná como um dos principais estados produtores de commodities agrícolas, maior produtor de milho e segundo no ranking da soja.
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), sem dúvida, foi protagonista neste processo nas últimas décadas. A entidade chega nesta quinta-feira aos 45 anos e auxiliou em diversos desafios enfrentados por produtores em todo o Estado. Um exemplo muito bacana é da geada de 1975, que acabou com as lavouras de café, quando o Iapar tinha apenas 3 anos de funcionamento. A partir daí, os pesquisadores focaram no desenvolvimento do modelo de plantio adensado e foco na qualidade da bebida. Depois, auxiliou outras entidades no sequenciamento do genoma da planta e atualmente estuda mecanismos de formação dos frutos.
De lá pra cá, são inúmeros trabalhos, difíceis até de listar: a primeira raça de corte paranaense, a Purunã, pesquisa intensa no plantio direto, desenvolvimento de centenas de variedades (inclusive não transgênicas), trabalho com citros, sempre com foco na agricultura conservacionista. Para celebrar a data, a entidade realiza hoje diversos eventos técnicos e institucionais.
NOVO CICLO
O presidente do Iapar, Florindo Dalberto, relembra que na época da criação do Iapar, quando ainda era funcionário do Instituto Brasileiro do Café (IBC), já se tinha a percepção de que o ciclo da monocultura cafeeira estava no fim e que havia a necessidade de diversificar a agricultura paranaense. Aliás, a FOLHA Rural e o fundador da FOLHA, João Milanez, estavam entre as entidades e lideranças que se mobilizaram para a criação do Instituto. "Esse processo de agricultura diversificada, baseada nas propriedades pequenas e com regiões diferentes umas das outras, requer uma base tecnológica de evolução. O grande resultado do Iapar foi organizar o processo de geração dessa tecnologia permanente", salienta.
Para o presidente, o Iapar acabou se tornando um dos elos de uma cadeia muito bem organizada, da pesquisa ao campo. Dalberto salienta a interação entre todas as organizações: de um lado o governo estadual com a pesquisa e extensão, de outro as cooperativas, federações, tudo funcionando com sinergia. "Esse trabalho em conjunto explica bem o sucesso da agricultura no Estado, inclusive com o setor empresarial, que tem interesse nos resultados da pesquisa. O agricultor é o ponto final, recebe isso de forma integrada, seja pelo técnico extensionista, um consultor agronômico ou pela cooperativa. Ele pode até não perceber, mas absorve e utiliza conhecimento científico do mais alto nível na sua lavoura".
Para o futuro, um dos principais desafios está em manter o Iapar no protagonismo, competitivo e eficiente na área de pesquisa, mesmo frente a toda dificuldade de capital, afinal, "necessita de recursos da sociedade através do orçamento público". "Hoje precisamos ser mais que um órgão de pesquisa, mas sim de inovação. O relacionamento direto com a iniciativa privada é importante, transformando conhecimento em algo que gere valor. Temos que ser ativos e promotores de inovação, entrando forte neste mercado, em que ciência e tecnologia se transformem em bons negócios para todos".
Agenda técnica é destaque na agenda de comemoração
As atividades comemorativas começam hoje, às 8h30, com a "Jornada Tecnológica da Cafeicultura do Futuro". O pesquisador Fábio Moreira da Silva, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, é o responsável pela conferência, que tratará de mecanização de lavouras cafeeiras. "A ideia é celebrar as origens do Iapar, que nasceu para romper a monocultura do café, nos anos 1970, mas, sem ficar no saudosismo, abordar os desafios e a contribuição que podemos dar para a cafeicultura do futuro", aponta o diretor de inovação e transferência de tecnologias, Tadeu Felismino.
Completam a programação o lançamento da cultivar IPR 106, pelo pesquisador Gustavo Hiroshi Sera, e uma discussão sobre qualidade de bebida, conduzida pela pesquisadora Patrícia Santoro. A cultivar de café IPR 106 se destaca pela resistência aos principais nematoides pequenos vermes que se alojam nas raízes das plantas Meloidogyne paranaensis e Meloidogyne incognita - responsáveis por inviabilizar a cafeicultura em diversas regiões produtoras do Brasil. O novo material vem se somar às mais de 200 cultivares desenvolvidas nas últimas décadas pelos especialistas em melhoramento genético vegetal da instituição.
ABERTURA
O período da tarde está reservado para o "II Seminário Paranaense de Agroinovação", das 14 às 18 horas. O pesquisador Antônio Álvaro de Oliveira, ligado ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de São Paulo, inaugura o encontro com uma conferência sobre tendências para as organizações brasileiras de ciência, tecnologia e inovação. Em seguida, haverá a apresentação da Política de Inovação do Iapar e, na sequência, o lançamento do catálogo de produtos, serviços e parcerias tecnológicas da instituição. "O foco deste evento é a maior abertura do Iapar para interações com a sociedade e o setor privado, a partir das novas legislações federais e estaduais de inovação", aponta Felismino.
Ainda como parte das comemorações, das 16h às 18 horas, serão realizadas simultaneamente uma "Rodada de Oportunidades Tecnológicas" e a reunião do Conselho de Administração do Iapar, que congrega diversas entidades do setor. A reunião será a primeira do ano e o principal tema da pauta é a aprovação da Política de Inovação, além da discussão sobre a conjuntura do Instituto, especialmente a necessidade de reposição de quadros em fase de aposentadoria.
Finalmente, às 19 horas, a solenidade oficial comemorativa terá como destaques a diplomação de alunos do curso de Mestrado em Agricultura Conservacionista, o lançamento da revista Iapar 45 ANOS e a entrega do troféu "Amigos do Iapar" a personalidades que tiveram passagens marcantes pelo Instituto.
Reportagem Local