Curitiba – Rasgando dinheiro. Essa é a prática dominante para a maioria dos consumidores que possuem cartão de crédito ou estão cadastrados em um programa de fidelidade oferecido pelas empresas. Pelo acompanhamento das instituições bancárias que ofertam cartões de crédito, o percentual de consumidores que resgatam os pontos acumulados, no geral, não chega a 40%. Em valores nominais, as cifras que são ignoradas pelos brasileiros estão na casa das dezenas de bilhões. Se usadas, elas poderiam ser convertidas nos principais sonhos de consumo da sociedade, viagens, eventos culturais, produtos e, em tempos de renda comprometida, até mesmo dinheiro em espécie ou para pagamentos de contas.

Com 24 anos de atuação nos principais bancos em atividade no País e professor de Mercado Financeiro e Capitais da graduação e pós graduação da FAE, o contador Jorge Luis Prado observa na prática o desperdício de pontos. Ele acredita que muitos usuários ainda não se deram conta de que tal benefício corresponde a uma modalidade de bitcoin ou meio de pagamento, tudo isso por dois fatores: falta de informação e organização. "As pessoas pagam anuidade de cartão de crédito, mas acabam usando o débito, por receio de se perderem nas contas. Sendo que seria muito mais racional concentrar todo o consumo no cartão de crédito, saldar a fatura mediante o pagamento e acumular pontos que, dependendo do padrão de gastos, podem render passagens aéreas com destinos interessantes todo ano", assegura.

Ainda mais se o consumidor tiver a possibilidade de viajar fora da alta temporada, o que aumenta as possibilidades da mesma pontuação. "Falo isso pela minha experiência como usuário, o mesmo trecho que em baixa temporada necessita de 25 mil pontos para ir e 25 mil para voltar, nos meses de janeiro ou julho tem a conversão quadruplicada, são necessários no mínimo 100 mil pontos para ida e mais 100 mil para a volta, sendo que nem todas as companhias realizam isso nos períodos de alta demanda", observa.

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Estratégias
Entretanto, mesmo aqueles que como Prado têm férias apenas nos períodos de alta temporada, há algumas estratégias interessantes para otimizar a pontuação. "Se o desejo é ir para Miami, por exemplo, que além da sazonalidade ainda existe o fator dólar, no qual dependendo do cartão você acumula mais ou menos pontos, existe uma forma de usar toda a pontuação no trecho até Manaus e comprar o trecho Manaus-Miami, cujo valor é bem competitivo por serem apenas quatro horas de voo", orienta.

Para ele, passagens aéreas e estadias em hotéis são as conversões mais interessantes em qualquer programa de fidelidade. "Nas duas operações, o custo fixo delas pouco se altera com a oferta dos cômodos ou lugares vagos, por isso são mais vantajosos, principalmente em baixa temporada, quando eles não estão deixando de atender o cliente convencional", explica.

Adesão
Exceto clientes private ou de cartões black, normalmente esse benefício está condicionado ao consumidor solicitar a adesão, que muitas vezes apresenta a cobrança de uma taxa de R$ 20 a R$ 30, o que deve ser ponderado no caso de não haver organização suficiente para usufruir dos benefícios. Feita a adesão, cada um deve ter em mente que o uso e otimização dos pontos requer disciplina. Tanto para não perder a validade do benefício quanto as promoções que multiplicam a bonificação e antecipam as condições de cada consumidor de usufruir desse recurso para realizar sonhos de consumo ou viagem (confira o simulador).

O blogueiro Fábio Vilela costuma viajar em primeira classe pagando a passagem econômica com milhas
O blogueiro Fábio Vilela costuma viajar em primeira classe pagando a passagem econômica com milhas | Foto: Divulgação



Quando viajar bem vira profissão
Turismólogo por formação e blogueiro resultante da capacidade de compartilhar o talento de saber utilizar com maestria o sistema de milhas (programas de fidelidades das companhias aéreas), Fábio Vilela encontrou na soma dessas duas habilidades e o gosto por viajar o seu caminho profissional. Quando concluiu o curso em 2011, na Áustria, ele criou o blog (passageirodeprimeira.com), que orienta as pessoas a viajar de primeira classe com preços de passagem econômica e, na maioria das vezes, utilizando milhas. "Sempre quando chego das minhas viagens mostro para os leitores como emiti meus tickets, qual programa usei, qual foi meu custo, e etc. Assim sendo, toda cabine que eu voo fica de certa forma ao alcance de cada um, pois ensino o passo a passo de como fazer o processo usando as milhas, quando isso é possível", esclarece.

"Cerca de 85% das minhas passagens são emitidas com milhas e pontos, já que o meu grande prazer está em conseguir voar na primeira classe com preço de econômica, e acima de tudo, contar todos os segredos para os meus leitores", acrescenta. Vilela lamenta o fato de que algumas empresas não possuem convênios com programas de fidelidade e, nessas situações, ele acaba por custear algumas passagens por conta própria. O resultado disso são mais de 30 voltas ao mundo em primeira classe. "Fica difícil contabilizar viagens em números pois sempre que saio do Brasil visito de dois a três continentes no mesmo itinerário. Sei que em voos eu consigo falar, pois tenho tudo catalogado, só em 2017 foram 112 voos, sendo 35 transoceânicos, ou seja, uma média de quatro a cinco voos internacionais por mês ou um por semana", descreve. (M.M.)

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Passagens aéreas ainda são as preferidas
Os dados mais recentes da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (Abemf), que relacionam números das empresas associadas à entidade (Dotz, Grupo LTM, Multiplus, Netpoints, Smiles e TudoAzul), mostram uma evolução gradativa no uso dos pontos, mas o recorte traz um público habituado com transferência de pontos, e que optou por otimizá-los nas empresas do setor de fidelização.

Os pontos/milhas resgatados chegaram a 49,2 bilhões, o que representa aumento de 27% nos últimos 12 meses. Para o resgate, as passagens aéreas ainda foram as mais procuradas, com 77% do total de pontos/milhas trocados. Produtos e serviços ficam com 23%. Esse percentual englobou de combustível a recarga de celular, passando por compras de supermercados e vale-presentes. Segundo o presidente da Abemf, Roberto Medeiros, um dos motivos para a evolução disso é o reforço nas ações de comunicação dessas organizações. Outro fator são promoções e ampliação de parcerias que levem mais benefícios aos participantes dos programas de fidelização. (M.M.)