O casal Herondino e Ana Célia anota até o que gasta no cinema
O casal Herondino e Ana Célia anota até o que gasta no cinema | Foto: Fotos: Gina Mardones



Assim que se casaram, 24 anos atrás, o administrador de empresa Herondino Mariano Júnior e a advogada Ana Célia Pagnan compraram seu primeiro livro caixa e passaram a anotar tudo que o que ganhavam e o que gastavam detalhadamente. Hoje, em vez de livro caixa, o casal usa planilhas eletrônicas. Prestes a comemorar bodas de prata, eles nunca deixaram de controlar o orçamento doméstico.
Herondino e Ana Célia fazem parte de um grupo restrito de brasileiros. Segundo pesquisa feita em todo o País pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), apenas 20% da população faz orçamento doméstico. "Quando casamos, tínhamos uma meta de construir a casa própria no tempo mais curto possível. Conseguimos atingir esse objetivo em três anos", conta ele. Para Herondino, se não fosse a organização das contas o sonho teria demorado mais tempo para ser realizado. "Anotamos tudo, até o que gastamos no cinema", explica.
Os dois filhos do casal ganharam seus livros caixas quando ainda eram bem novos. O mais velho já se formou, está trabalhando e, segundo Herondino, controla todos os gastos por meio de um aplicativo no celular. O mais novo ainda está fazendo faculdade e recebe mesada dos pais. "Mesada é um negócio legal, um jeito de a gente ensinar os filhos como lidar com o dinheiro. Se querem comprar uma coisa, eles aprendem a economizar", alega.
Para o administrador, quem se organiza financeiramente vive melhor. Ele diz que não se trata de deixar de aproveitar os prazeres da vida. "Pelo contrário, eu e minha mulher estabelecemos metas a cumprir. Quando conseguimos, a gente sai para comemorar com um jantar especial, para tomar um bom vinho", explica.

Papel de pão
O planejador financeiro Maicon Putti, da Ideia Consultoria, lamenta o fato de a escola brasileira não ensinar conteúdos de educação financeira. "Seria bem mais fácil se ensinasse", afirma. "Mas há muitos ensinamentos gratuitos na internet", complementa. Segundo ele, muita gente se endivida por não fazer conta. "As famílias precisam organizar seus orçamentos para, ao menos, ficarem no zero a zero, isso é, não gastarem mais do que recebem", declara.
Putti garante que não há segredos. "Há várias ferramentas gratuitas na internet para ajudar. Mas (o orçamento) pode ser feito em papel de pão. Coloca o que entrou de um lado e o que saiu de outro. É bem simples", descreve. Fora isso, ele aconselha as pessoas a olharem o extrato bancário uma vez por dia e a sentarem para fazer as contas uma vez por semana. "Estabeleçam metas e evitem gastar mais que o projetado", afirma.
O esforço tem de ser compartilhado por todos os integrantes da família. "Não adianta só uma pessoa ficar economizando e as outras saírem consumindo sem controle", ressalta. O planejador garante que o ganho de quem faz contas é maior que o tempo gasto para fazê-las.

RESERVA
Depois de conseguir chegar no zero a zero, Putti orienta as famílias a guardarem 10% da receita mensal para formar um "colchão" para enfrentar adversidades. "Essa reserva tem de corresponder a seis vezes o orçamento da família", ensina. No momento seguinte, é hora de começar a poupar para realizar sonhos e garantir o futuro.
Com essa reportagem, a FOLHA inaugura sua página de Finanças, que será publicada todas as sextas-feiras. Nas próximas semanas, será apresentada uma série de dicas de investimentos.