A companhia aérea Azul foi uma das oito que fizeram ofertas públicas de ações neste ano
A companhia aérea Azul foi uma das oito que fizeram ofertas públicas de ações neste ano | Foto: Gianfranco Panda Beting/Azul


Cresceu em 30% a captação das companhias brasileiras no mercado de capitais no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. O volume foi de R$ 80,1 bilhões para R$ 104,4 bilhões. O levantamento é da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Assim como na indústria de fundos de investimento, a principal justificativa para o aumento do interesse por debêntures, ações e instrumentos de securitização é a baixa dos juros. Com a taxa Selic caminhando para 8% no final do ano, os investidores são forçados a dar outros destinos à sua poupança, que não sejam os produtos bancários de renda fixa.

"Um otimismo em relação às taxas de juros e inflação baixa tem levado os investidores institucionais para o mercado de capitais, seja em renda fixa ou na variável. O volume de emissões de ações no primeiro semestre foi maior que o de 2016", afirmou o diretor da Anbima, José Eduardo Laloni, durante teleconferência com jornalistas.

Ele chamou a atenção para o fato de estar aumentando a participação dos instrumentos privados como fontes de recursos para o financiamento de longo prazo das empresas. "O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deixa de ser protagonista sozinho e passa a dividir com o mercado de capitais o papel de financiar os investimentos", ressalta.

Ao todo, segundo a Anbima, foram realizadas 228 operações de janeiro a junho. As ofertas externas com títulos de renda fixa – os bonds – foram a principal fonte de recursos das empresas (R$ 51,3 bilhões em 14 operações), que levantaram
volume 30,6% superior ao captado em igual intervalo do ano passado.

Debêntures

As emissões locais em títulos de dívida (debêntures e notas promissórias) alcançaram R$ 39,9 bilhões no primeiro semestre, com crescimento de 7% em relação ao mesmo período do ano passado. Laloni enfatizou que há um aumento do prazo das debêntures emitidas. "Elas estavam concentradas em emissões de até três anos. Hoje essas (mais curtas) estão diminuindo e estão aumentando as acima de 10 anos. Isso corrobora o otimismo", declara. "O emissor está tendo coragem de alongar os prazos das operações e os investidores, de outro lado, estão aceitando mais prazo", complementa.

A participação dos investidores institucionais na subscrição de debêntures também aumentou, de 10,3% para 63,5%. Já a captação por intermediários e instituições ligadas à oferta caiu de 87,9% para 34,6%.

BOLSA

No primeiro semestre, foram feitas oito ofertas de ações: três IPOs (oferta pública inicial de ações) e cinco follow-ons (oferta de uma empresa que já tenha emitido ações em outro momento). Foram R$ 13,1 bilhões, quatro vezes mais que no primeiro semestre do ano passado. Segundo a Anbima, o valor é o mais alto desde 2013. Movida, Hermers Pardini, CCR, Lojas Americanas, Alupar, Santander, Azul e BRMALL foram as companhias que fizeram ofertas de ações neste ano.
O diretor ressalta ainda o aumento de captação feito por companhias limitadas. Essas empresas foram responsáveis por 29% das operações de notas promissórias (espécie de debêntures com prazo menor). No mesmo período de 2016, elas foram responsável por 20% das operações. E, em anos anteriores, por 15% ou menos das debêntures emitidas. "Estamos empenhados em trazer mais empresas para o mercado de capitais."

CENÁRIO

Segundo Laloni, a turbulência política não tem afetado muito o mercado de capitais neste ano. Nas primeiras semanas após o escândalo da JBS tornar-se público, houve um certo tumulto, "mas tudo voltou ao normal.". "O mercado não fechou para o Brasil. Continua o apetite por emissão de renda variável,que é um ótimo sinal."

Para o professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Ribeiro de Macêdo, o balanço da Anbima mostra uma tendência de os agentes privados participarem mais do financiamento das empresas. "O BNDES foi criado para ser um banco transitório, para ajudar o Brasil a crescer e a se industrializar. Mas está aí há 70 anos", declara. No curto prazo, a menor participação do banco estatal pode trazer efeitos negativos para a economia. Mas a média a longo, de acordo com o professor, será benéfica.
Macêdo diz ainda que a expansão do mercado de capitais se deve também ao fato de o Risco País estar em trajetória descendente. E, como os juros estão negativos nos países ricos, o Brasil volta a atrair o investidor estrangeiro. "Com menos risco e maior rentabilidade, os estrangeiros estando apostando no País."