O Paraná corresponde por 70% do volume de fécula produzido no País, com 42 fecularias ativas e mais 60 fabricantes de farinha de mandioca
O Paraná corresponde por 70% do volume de fécula produzido no País, com 42 fecularias ativas e mais 60 fabricantes de farinha de mandioca | Foto: Sergio Ranalli



A estiagem tem impedido a colheita de mandioca e feito com que o preço do tubérculo volte ao patamar recorde registrado entre o fim de janeiro e o início de fevereiro deste ano. Somente na semana passada a alta foi de 7,8% em relação aos sete dias anteriores, com média nominal de R$ 559,02 por tonelada da raiz, de acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP (Universidade de São Paulo). A expectativa é que os preços permaneçam nesse patamar ao menos até março de 2018.

Com a seca, os produtores não conseguem colher o tubérculo. Além de exigir muito mais força para retirar a mandioca do solo, existe risco de quebra da raiz e prejuízo para o produtor. A região de Paranavaí, no noroeste paranaense, é a maior produtora de fécula do País e concentra as indústrias do setor no Estado. É lá que o preço médio atingiu o maior patamar na última sexta-feira, 22, ao bater em R$ 614,11 por tonelada, conforme o Cepea.

Para o produtor, o problema é não conseguir colocar no mercado um produto que está valorizado e que contribuiria para recuperar recursos depois da baixa de preços do ano passado. O mercado vem de ciclos de altos e baixos desde 2013, quando a seca no Nordeste do País elevou a demanda pelo produto paranaense e, por consequência, os preços locais. A rentabilidade maior levou ao aumento da área plantada, que derrubou o valor abaixo do custo de produção em 2015 e fez com que muitos agricultores quebrassem ou ficassem inadimplentes. Assim, houve nova redução de 21% no espaço ocupado pela mandioca na safra 2016/17 em relação à anterior, segundo o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento).

Na indústria, a falta de produtos e a seca dos últimos meses fizeram com que a capacidade ociosa chegasse a 80% em setembro. O Paraná corresponde por 70% do volume de fécula produzido no País, com 42 fecularias ativas e mais 60 fabricantes de farinha de mandioca. Os núcleos regionais mais representativos ficam em Paranavaí, Campo Mourão, Toledo e Umuarama.

Economista do Deral e especialista no produto, Methodio Groxko afirma que há pouca mandioca no Estado. "Já temos uma produção menor neste ano e essa seca ainda impede a colheita de parte do produto", diz. A expectativa no órgão era de de redução de 24% entre as duas últimas colheitas, de 3,6 milhões de toneladas para 2,7 milhões.

Diretor do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná, João Eduardo Pasquini conta que a região noroeste teve um período de estiagem de 60 dias e vive um de mais 40, separados por uma incidência leve de chuvas. "Estamos na entressafra e mesmo os que querem fazer a colheita não conseguem", diz.

Pasquini estima uma redução de 35% na produção de fécula, de 663 mil em 2016 para 430 mil toneladas neste ano. "Nosso setor também está produzindo menos porque a crise econômica fez com que a demanda nacional diminuísse", completa.

Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná estima em 40% o aumento da área plantada para a próxima safra de mandioca de dois ciclos, na região noroeste
Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná estima em 40% o aumento da área plantada para a próxima safra de mandioca de dois ciclos, na região noroeste



Área maior
O presidente da Aproman (Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná), Francisco Androvicis Abrunhoza, estima em 40% o aumento da área plantada para a próxima safra de mandioca de dois ciclos, na região noroeste. Se a notícia é boa para a indústria, ele não considera tão boa para os agricultores. "O preço bom aumentou o interesse, mas corremos o risco de ter outro período de prejuízos como o de 2015."

Abrunhoza complementa que a seca também eleva o custo de produção da mandioca. O uso de herbicidas pré-emergentes demanda uma terra mais úmida e, com a estiagem, os agricultores precisam gastar mais com mão de obra para carpir as plantas daninhas.

Imagem ilustrativa da imagem Lucro preso na terra



Previsão é de chuva para fim de semana
As chuvas devem chegar ao norte e noroeste do Estado no próximo fim de semana, de acordo com previsão do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná). Uma frente fria sobre o Oceano Atlântico deve fazer com que o Litoral e regiões próximas contem com um alívio para o tempo seco, que já começou nos últimos dias. Existe a expectativa de tempo nublado no norte e noroeste do Estado, mas a probabilidade de precipitações em curto prazo ainda é pequena.

Houve registro de chuva de granizo no último sábado, 23, em Irati. Segundo o Simepar, também houve precipitações nos Campos Gerais, no Litoral, na Capital e em cidades das regiões oeste e sudoeste.

A meteorologista Ângela Beatriz Costa, do Simepar e do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), afirma que é pouco provável que as cidades paranaenses mais ao norte tenham os mesmos benefícios. No site do órgão, porém, há a previsão de chance de chuva entre a noite de segunda-feira, 25, e a madrugada de terça-feira, 26. "Até o fim de semana esperamos uma área de instabilidade sobre o Estado, o que fará com que a possibilidade de chuva em Londrina seja maior", diz. (F.G.)