Goiaba de Carlópolis (PR) tem indicação geográfica e associação de produtores quer ampliar exportações
Goiaba de Carlópolis (PR) tem indicação geográfica e associação de produtores quer ampliar exportações | Foto: Marcos Zanutto/19-05-2017



As exportações de frutas frescas brasileiras voltaram a crescer em 2017 e, aliada à maior fome pelos produtos nacionais da UE (União Europeia), têm potencial para bater US$ 1 bilhão até 2019. A projeção da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados) é otimista quando se considera a oscilação dentro da casa dos US$ 600 milhões nos últimos sete anos, mas é baseada no aumento do consumo de produtos naturais e saudáveis em todo o mundo, a crescente procura por artigos exóticos e o fortalecimento do mercado nacional.
Apesar da importância da abertura de novos mercados, é mesmo a UE que deve movimentar o setor. O bloco econômico consumiu 76% de todas as frutas brasileiras exportadas em 2006, participação que aumentou para 83,6% no ano passado, conforme dados disponibilizados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP (Universidade de São Paulo). Ao mesmo tempo, existe um interesse em fortalecer as relações com o Mercosul.
No Paraná, a fruticultura é mais forte em pequenas propriedades. É responsável por de 2% a 3% do VBP (Valor Bruto da Produção) do Estado nos últimos anos, com participação acima de 60% dos cítricos laranja, tangerina e limão, segundo o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento). Para ter escala, é preciso muitas vezes depender da união de agricultores e de intermediadores, mas algumas associações começam a perceber a importância dos embarques ao exterior para diminuir os prejuízos quando há oscilação no mercado interno, principalmente depois que o dólar se valorizou sobre o real.
É o caso das goiabas da APC (Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis). Com certificado de indicação geográfica do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e um trabalho altamente especializado, um grupo de 20 produtores já vende uma tonelada por mês para a Holanda e participou de exposições na Espanha, país para o qual deve fechar os próximos contratos. "Começamos há um ano e é um volume pequeno, mas estamos correndo atrás", diz o gerente de vendas da APC, Marcus Vinícius Santos Sanches.
Na comparação com os 160 toneladas ao mês de produção total, a APC ainda tem muito o que crescer. Sanches diz que ainda não é possível trabalhar sem intermediário, o que diminui o lucro, mas que somente uma firma espanhola planeja consumir 1,2 tonelada ao mês. "Com a exportação, temos um aumento de receita que pode chegar a 50% em relação ao preço pago no mercado interno e a vantagem de começar a ficar conhecido no exterior e também entre os revendedores brasileiros de produtos de alta qualidade", lembra.
Para fechar novos contratos, Sanches conta que é preciso obter a certificação internacional Globalgap, que prevê normas desde o uso de plântulas, água e fertilizantes até a saída pela porteira do produto. "Temos de readequar algumas propriedades, mas não é tão difícil, porque produzimos a goiaba ensacada e já fazemos um uso menor de defensivos, por exemplo", diz. Como a UE é um dos mercados mais exigentes, a adequação às regras deve abrir outros mercados ao grupo.

Imagem ilustrativa da imagem Lucro in natura



NICHOS
Ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no Paraná e professor de economia da (UFPR) Universidade Federal do Paraná) e da FAE, Eugenio Stefanelo diz que o grande volume de frutas exportadas no País sai de regiões como o o Vale do São Francisco (PE/BA) ou de estados como São Paulo. No entanto, ele enxerga como uma boa alternativa a união de fruticultores paranaenses para atender a nichos, como ocorre com a APC. "É importante ter sempre um pé no exterior para evitar que quedas nos preços internos ou de demanda prejudiquem a renda dos agricultores", sugere.
Contudo, afirma que é preciso ter escala, qualidade e uniformidade para garantir o aumento da clientela no exterior. "Dizem que a fruta boa é a que vai para fora, mas não é isso. É que os estrangeiros compram somente os produtos que atendem os padrões de qualidade, o que começa na produção", cita Stefanelo.
Sem grande escala ou grandes produtores, o economista considera necessário formar grupos e atender a nichos ou empresas específicas lá fora. "Temos limão, laranja, maracujá, uva sem caroço, que são frutas que tem mercado na Europa", completa.